Ibovespa sobe em julho puxado por exterior e “promoção” de ações brasileiras

Perspectiva de corte de juros nos Estados Unidos ajudou a minimizar problemas como o da queda das commodities e as preocupações com o fiscal

Vitor Azevedo

Painel de ações (Crédito: Shutterstock)
Painel de ações (Crédito: Shutterstock)

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O Ibovespa fechou julho com uma alta de 3,09%, aos 127.651 pontos, configurando um mês de recuperação após a forte queda do primeiro semestre. O principal índice da Bolsa brasileira contou principalmente com a ajuda do fluxo estrangeiro, criado a partir do recuo dos juros futuros nos Estados Unidos, e do atual preço das empresas brasileiras (valuation descontado), que ajudam a atrair os aportes para o país.

Nos EUA, julho foi marcado por notícias positivas no que tange os possíveis próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), quando o assunto é política monetária. Dados econômicos mais fracos, como a inflação ao consumidor (CPI) de junho, e falas mais “brandas” de diretores do Fed ajudaram a pavimentar a visão de que um corte de juros em setembro é possível. 

Ilustra bem toda essa questão as falas do presidente do Fed, Jerome Powell, nesta quarta-feira, após decisão do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês). Apesar de ter mantido as taxas inalteradas, a visão dos especialistas foi de que a instituição atenuou a mensagem, que era mais “dura” (hawkish) e abriu espaço para cortes

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Juros nos EUA e Ibovespa barato

De qualquer forma, no final de junho, o treasury yield (o rendimento pago por um título da dívida pública americana) para 10 anos estava em 4,343%. Hoje, ele fechou próximo dos 4,073%, com o mercado já se antecipando a um possível corte de juros, nos EUA, em setembro.

“Mais importante do que qualquer gatilho interno, o gatilho externo do que vai acontecer na economia americana, e a perspectiva de que o país vai de fato caminhar para o corte de juros nos Estados Unidos em setembro, ajuda muito o Ibovespa”, fala Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Dados da B3, até o começo do dia 26 de julho, mostravam que os estrangeiros colocaram R$ 3,4 bilhões na Bolsa brasileira (apesar de, no ano, haver uma saída líquida de R$ 36,7 bilhões). Com os juros caindo nos Estados Unidos, investidores diminuem suas posições em títulos do tesouro norte-americano e em outros papéis da renda fixa do país e passam a assumir mais risco, levando dinheiro para países emergentes como o Brasil. 

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Nessa frente, a Bolsa brasileira se beneficiou ainda pelo fato de boa parte dos seus ativos estarem historicamente baratos e pelo real ter desvalorizado frente ao dólar — o que torna ainda mais atrativo, para os estrangeiros, os aportes em empresas brasileiras. O preço sobre lucro (P/E) do Ibovespa hoje está em cerca 8,5x contra 10,9x da média histórica dos últimos 25 anos. 

Por fim, a queda das ações das big techs — até pouco “queridinhas do mercado” por conta do hype da inteligência artificial — também beneficiou o Ibovespa. Julho foi marcado pelo ganho de força da visão de que os papéis de companhias como Nvidia (NVDC34), Google (GOGL34) e Apple (AAPL34) estão caros, com os valuations esticados, e com o Nasdaq, principal índice do setor nos EUA, caindo 0,81%. Com isso, a visão é de que investidores estão procurando novas opções, inclusive no mercado brasileiro.

Commodities e questões internas em segundo plano

Esse combo, de queda nos juros nos EUA, Ibovespa barato e big techs caras, foi capaz de amenizar algumas tendências negativas que surgiram ao longo do mês.

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“Olhando para o Brasil, tivemos a piora principalmente da parte fiscal, o que pressionou a curva de juros e impactou diretamente o Ibovespa, a piora do cenário cambial, as revisões para cima da inflação no boletim Focus (Importante para os membros do BC), e por último a piora no cenário das commodities, que impactaram Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3), as duas principais empresas do Ibovespa”, diz Pedro Moreira, sócio e assessor da One Investimentos.

Falando de commodities, o enfraquecimento da economia americana junto da desaceleração da China (cujo PIB, por exemplo, frustrou) levaram o mercado a enxergar que o consumo nas duas principais economias do mundo deve cair. Isso tende a diminuir a demanda por produtos não manufaturados e derruba os preços. 

Entre as maiores quedas do Ibovespa, ficaram as ações da Usiminas (USIM5), com menos 21,3%, da São Martinho (SMTO3), com menos 9,88% e as da CSN (CSNA3), com menos 8,13%. 

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Já falando do fiscal, julho foi marcado por alguns temores. Apesar de o mês ter sido marcado por uma retórica menos agressiva do presidente Lula, sinalizações de corte de gastos e contingenciamentos, especialistas continuam temendo que o governo não cumprirá suas metas.