Ibovespa tem 4ª alta anual seguida ao subir 31%; dólar cai na sessão e vai a R$ 4, mas avança 3,5% em 2019

No mês de dezembro, o benchmark da bolsa teve ganho de cerca de 7%; confira os principais temas que agitaram o mercado

Lara Rizério Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – A sessão desta segunda-feira (30) foi de queda para o Ibovespa, que fechou em baixa de 0,76%, a 115.645 pontos, em um dia sem notícias de grande impacto e de liquidez reduzida (R$ 15,39 bilhões), com os investidores buscando não montarem posição na véspera do ano novo.

Contudo, tanto no fechamento do mês de dezembro (+6,85%) quanto em 2019 (+31,58%), o índice registrou forte ganhos, em meio a um cenário mais favorável para investimento em bolsa com os juros na mínima, reformas estruturantes por aqui e perspectiva de melhora do crescimento da economia brasileira, além de juros baixos também no exterior. Assim, o benchmark da bolsa registrou o quarto ano seguido de alta e na maior valorização desde 2016, quando subiu 38,94%. Em 2017, a alta foi de 26,8% e, em 2018, os ganhos foram de 15%.

O dólar, por sua vez, teve queda de 1% nesta sessão e fechou na casa dos R$ 4, tendo forte baixa de 5,42% no mês, em meio ao ambiente internacional mais favorável ao risco e também com a pressão para a formação da Ptax, referência para os vencimentos dos contratos futuros negociados na B3 na próxima quinta-feira. Porém, no ano, a moeda americana teve valorização de 3,5%, também levando em conta o fato da Selic baixa por aqui ter diminuído a atratividade do capital especulativo estrangeiro para o Brasil.

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Vale destacar que durante o mês de dezembro o real recuperou parte das perdas, também em meio aos indicadores econômicos mais positivos no Brasil, que podem atrair mais capital externo para o País.

Nesta sessão, aliás, ganhou destaque o Focus, com as expectativas de economistas para diversos indicadores da economia brasileira. A mediana das projeções do mercado para o PIB do Brasil teve elevação pela oitava semana seguida  e chegou a 2,30%. Para 2019, houve a quarta revisão seguida para cima, que levou a mediana de projeções para o PIB a 1,17%.

Também no radar econômico, outra notícia gerou relativo ânimo os investidores: as contas do setor público consolidado, que englobam o governo federal, estados, municípios e empresas estatais, registraram um déficit primário de R$ 15,312 bilhões em novembro, segundo informações divulgadas pelo Banco Central. A estimativa mediana de economistas consultados pela Bloomberg era de um déficit maior, de R$ 16,4 bilhões.

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Com isso, nesta sessão, os principais contratos de juros futuros registraram queda, de 4 pontos-base para o de vencimento em janeiro de 2021, a 4,54%, e de 8 pontos, a 5,79%, para o contrato com vencimento em janeiro de 2023.

No noticiário internacional, apesar da queda dos ativos nesta sessão em meio a um movimento de realização de lucros após os recordes recentes também na bolsa de Nova York, também houve boas notícias. Estados Unidos e a China provavelmente assinarão a Fase 1 de um novo acordo comercial no início do ano novo, segundo destacou o assessor comercial da Casa Branca Peter Navarro.

Vale destacar que, em Wall Street, o Dow Jones e o Nasdaq registram ganhos acumulados de 23% e 35%, respectivamente. Na Europa, o DAX de Frankfurt registrou 26% e o CAC 40 de Paris 27%.

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Destaque de ações

No mês e no ano, um dos maiores destaques ficou com as ações da Via Varejo (VVAR3). Em dezembro, os ativos subiram 27% e figuraram em primeiro lugar como as maiores altas do mês enquanto que, em 2019, os ativos subiram 155% e perderam apenas do BTG Pactual (BPAC11) e da Qualicorp (QUAL3) como maiores altas do ano.

Apenas seis ações fecharam em queda no ano: Braskem (BRKM5), CVC (CVCB3), Embraer (EMBR3), Smiles (SMLS3), Ultrapar (UGPA3) e Cielo (CIEL3), sendo que só as duas primeiras tiveram queda superior a 10%.

Já na sessão e também no mês, uma das maiores baixas ficou com a B3 (B3SA3), em meio aos temores de maior concorrência no mercado brasileiro. Na véspera do feriado de Natal, a  B3 concluiu acordo com a ATS no processo em que essa pedia acesso à sua central depositária para prestar serviços como plataforma de negociação de renda variável. Já na sexta-feira da semana passada, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu audiência pública com propostas para o mercado de negociação de valores mobiliários, levando em consideração um possível aumento da competição. A audiência ficará aberta até o dia 28 de fevereiro.

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Nesta sessão, quem foi destaque de alta foi a unit do Santander Brasil (SANB11), que subiu cerca de 2% após anunciar pagamento de proventos totalizando R$ 7,8 bilhões.

Confira as altas e baixas do Ibovespa nesta sessão e, logo abaixo, os principais eventos do ano:

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
SANB11 2.10309 49.52
MRFG3 2.04918 9.96
GOAU4 1.97802 9.28
ENBR3 1.70272 22.1
RADL3 1.56477 111.64

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
VVAR3 -2.86957 11.17
RAIL3 -2.86565 26.1
B3SA3 -2.8048 42.97
YDUQ3 -2.66393 47.5
ABEV3 -2.55741 18.67

Os principais eventos do ano

Posse de Bolsonaro

No dia seguinte à posse do presidente Jair Bolsonaro, o Ibovespa subiu 3,56%, na sua maior variação positiva do ano. Analistas citaram as perspectivas favoráveis para a economia brasileira como responsáveis pelo otimismo no mercado. O principal fiador dessas projeções é o ministro da Economia, Paulo Guedes, cujo perfil liberal destoa da maioria dos últimos ocupantes do cargo.

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Tragédia de Brumadinho

As ações da Vale caíram 24% em uma só sessão e fizeram o Ibovespa cair 2,29% em 28 de janeiro após o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho (MG). A tragédia, que fez 270 vítimas, levou a uma disparada no preço do minério de ferro, pois parte da produção da Vale ficou paralisada e a companhia é uma das maiores do mundo no setor de mineração, ao lado de Rio Tinto e BHP. Contudo, no ano, os ativos da Vale fecharam com ganhos de cerca de 7%.

Reforma da Previdência

O maior evento do ano na agenda macro foi a aprovação da reforma da Previdência em 22 de outubro. O texto, que estabelece uma idade mínima para aposentadoria de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, deve gerar uma economia de R$ 800 bilhões em dez anos, segundo cálculos do governo. O evento é responsável por boa parte do rali que tomou conta das ações este ano.

Guerra comercial

Em 13 de dezembro, após incontáveis idas e vindas, o acordo comercial entre Estados Unidos e China finalmente saiu. O texto final previu o cancelamento do aumento de 10% para 15% nas tarifas sobre US$ 156 bilhões em produtos chineses que os EUA iriam impor em 15 de dezembro, além de reduzir pela metade outras taxas. Em troca, os chineses se comprometeram a comprar mais produtos agrícolas americanos. Se a reforma da Previdência foi o grande driver local, nada mexeu mais nas bolsas internacionais do que a guerra comercial este ano.

Brexit

Em 24 de maio, a ex-primeira-ministra britânica, Theresa May, renunciou por conta das várias derrotas que sofreu no Parlamento para tentar votar um acordo no Brexit. Seu sucessor, Boris Johnson, foi mais bem sucedido neste ponto. Johnson conseguiu o apoio e a maioria no Legislativo do Reino Unido para alcançar o acordo no último dia 20, e as expectativas ficam por conta do prazo final para se efetivar a saída do país do bloco europeu, no dia 31 de janeiro de 2020. Ao que tudo indica, não haverá Brexit “no deal”.

Selic nas mínimas

O ano começou com a taxa básica de juros em 6,5% ao ano, o que já era a mínima histórica da política monetária do País. Mas não ficou nisso e 2019 terminou com 4,5% de Selic. Com uma previsão no Relatório Focus de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 3,98%, o juro real no Brasil já está próximo de 0,5% ao ano, o que significa que não dá mais para o investidor buscar a renda fixa se quiser tem rendimentos consistentes. O apetite por risco aumentou consideravelmente entre os investidores brasileiros em 2019, o que se reflete no número de CPFs cadastrados na B3, que atingiu 1,5 milhão pela primeira vez este ano.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.