De queda de 1,5% à alta de 0,78%: o que explica a virada do Ibovespa na sessão após payroll mais forte do que o esperado?

Os juros americanos ameaçaram continuar sendo o carrasco da Bolsa brasileira nesta sexta-feira (6), mas o Ibovespa reagiu.

O benchmark brasileiro chegou à mínima de 1,49% no fim da manhã, a 111.598 pontos, acompanhando o movimento visto no exterior após o Payroll vir mais forte do que o esperado. No entanto, uma melhora lá fora, junto das blue chips, inverteram o sinal o principal índice da Bolsa brasileira, que subiu 0,78% aos 114.169 pontos. Na semana, contudo, a queda do índice foi de 2,06%, o que mostra ainda um ambiente de cautela dos investidores.

O payroll, o mais importante quando se trata de mercado de trabalho dos Estados Unidos, trouxe que 336 mil vagas foram criadas em setembro, sendo que o consenso era de 170 mil. Fora isso, houve também aceleração frente a agosto, quando 227 mil vagas foram abertas.

No primeiro momento a principal interpretação foi que número mostra que a economia americana ainda está aquecida, o que tende a impulsionar a inflação e a pressionar o Federal Reserve, o banco central americano, a tomar medidas mais duras no que tange sua política econômica.

“A aceleração nas contratações nessa magnitude certamente vai impulsionar ainda mais a pressão sobre os retornos dos títulos do tesouro americano e as apostas de novo aumento de juros em outubro vão aumentar. Os efeitos desses movimentos tendem a não ser nada triviais. De imediato, bolsas e mercados emergentes devem continuar sofrendo”, disse Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, logo após ser divulgado o indicador.

No entanto, com o passar do tempo, o mercado parece ter visto outros sinais dentro da publicação.

Segundo Anilson Moretti, Head de câmbio da HCI Invest, apesar do Payroll mostrar número de vagas maior do que o esperado, o ganho ou salário médio por hora diminuiu. Esse fator, de acordo com ele, é importante, pois apesar do alto número de contratações do Payroll nos EUA apresentado nesta sexta, o gasto do consumidor pode estar diminuindo, estancando a inflação no longo prazo. Isso fará o Fed repensar em alterar os juros pra cima na próxima reunião, avalia.

A perspectiva de juros mais altos nos Estados Unidos usualmente pressiona os ativos de risco mundo afora.  Os treasuries yields para dez anos, os rendimentos pagos pelos títulos do tesouro americano, ainda ganharam cerca de 8,3 pontos-base, a 4,799%, mas a alta foi menor do que a registrada de manhã, quando o mesmo título chegou a pagar 4,843%,

Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, então, reagiram e fecharam com altas de 0,87%, 1,18 e 1,60% – após caírem por toda a manhã.

O dólar deixou de ganhar força mundialmente e passou a cair. O DXY, índice que mede a força da moeda americana frente a outras de países desenvolvidos, subia quase 0,40% pela manhã, virou, e fechou com menos 0,23. aos 106,09 pontos. Frente ao real, após uma alta de mais de 0,80% mais cedo, a divisa recuou 0,14%, a R$ 5,162 na compra e na venda. Na semana, contudo, o avanço da moeda foi de cerca de 2,7%.

“É possível que estejamos vendo um ajuste do mercado, após um movimento forte após a divulgação. Fora isso, é possível que tenhamos investidores vendo o copo meio cheio, com o ganho médio por hora abaixo do esperado”, comenta Anderson Meneses, CEO da Alkin Research.

A curva de juros brasileira teve oscilação ainda maior. Após ter subido pela manhã, ela fechou no vermelho. Os DIs para 2025, por exemplo, caíram 4,5 pontos-base, 10,95%, após terem ganhado 15 pontos pela manhã. As taxas dos contratos para 2027 recuaram seis pontos, a 11,08%, e bem como as dos para 2029, que foram a 11,57%. Os DIs para 2031 perderam seis pontos, a 11,85%.

O Ibovespa e a Bolsa brasileira, por fim, recebem também uma ajuda das companhias grandes do índice. Os papéis ordinários da Vale (VALE3), por exemplo, subiram mais de 1,80%, enquanto as ações de Petrobras (PETR3;PETR4) avançaram mais de 2% com o dia de leves ganhos do petróleo que, contudo, teve a pior semana desde março.