Ibovespa: “efeitos” Powell e IPCA-15 levam à baixa de 1,02% na sessão, mas índice sobe na semana

Falas do presidente do Fed foram consideradas mais duras e acabam tendo mais peso em países emergentes, criando aversão ao risco

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (25) após as falas do presidente do Federal Reserve Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole e um IPCA-15 acima do esperado, mas fechou a semana em alta de 0,37%. O índice, mais impactado pelas sinalizações mais duras da maior autoridade monetária norte-americana, caiu 1,02%, aos 115.837 pontos, na contramão do que foi visto nos Estados Unidos.

Powell afirmou que o Fed está preparado para elevar mais as taxas de juros caso necessário. Hoje, a fed fund, correspondente à Selic dos Estados Unidos, está no intervalo de 5% a 5,25%.

“Eu entendo que ele tentou tirar da frente qualquer tipo de discussão de que eles estariam dispostos a parar o aperto monetário ou a começar a cortar [os juros] no ano que vem, quando a inflação, segundo as projeções, deve girar acima de 2%, mais perto de 3%”, comenta Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos. “Ele deixou bem claro que não, que o trabalho é 2% e ele só vai descansar quando o trabalho estiver feito”.

A inflação anual dos Estados Unidos, medida pelo CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês), atualmente está acumulada em 3,2% – isso de acordo com o número de julho, o último a ser publicado.

Cruz expõe que Powell ponderou a publicação de dados que mostram um desaquecimento da economia americana com outros que mostram o país ainda crescendo. Se os preços de moradia estão caindo, Powell contestou que ao mesmo tempo o mercado imobiliário voltou a aquecer na ponta, que o mercado de trabalho ainda tem um longo período para se reequilibrar e que a atividade ainda está se mostrando bem resiliente”, explica. “Ele não dá nenhum sinal de que ele está perto de ter encerrado o trabalho dele e que poderia, sim, apertar um pouco mais as condições se achar necessário”.

Com as falas, os treasuries yields, que são os rendimentos pagos pelos títulos do Tesouro americano, subiram na ponta curta. Os para dois anos ganharam 5,7 pontos-base, a 5,076%.

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A mesa de operações do Citi, em comentário a clientes, pondera que apesar das falas mais duras do Powell quanto à inflação, ele mencionou que “fazer muito” pode colocar a economia dos Estados Unidos sob risco desnecessário. “O movimento dos treasuries mostra que a reação foi um tanto neutra”, falam.

“O tom é, no geral, equilibrado, mas inclina um pouco mais para o lado da cautela. Ele destaca que um crescimento acima do consenso poderia justificar um novo aumento na taxa de juros. Por outro lado, ele observa que o controle da inflação progrediu e ressalta que ele considera as taxas atuais restritivas”, menciona o Morgan Stanley, em relatório. “A mensagem-chave é que este é um discurso de paciência”.

Na mesma linha, Luca Mercadante, economista da Rio Bravo Investimentos, aponta que a mensagem foi de cautela.

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“Reforçando o compromisso com a meta de inflação, o presidente do Fed alegou que os preços de bens já arrefeceram bem como mercado imobiliário, mas que a inflação de serviços se mantém pressionada e possivelmente pode exigir mais esforços da política monetária especialmente pelo aquecimento do mercado de trabalho”, avalia o economista.

Assim, reconhecendo o ciclo atípico da política monetária, causado especialmente pela pandemia, a fala terminou com Powell alegando que o Fed atualmente navega usando as estrelas em um céu nublado, o que exige, portanto, uma postura cautelosa, complementa Mercadante.

Marcos De Marchi, economista-chefe da Oriz Partners, diz manter a crença de que o Federal Reserve irá cortar juros com poucos sinais de fraqueza da economia, por agora, é uma “aposta ousada”.

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Para o Ibovespa, as falas acabaram tendo mais peso do que nos índices americanos. O Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,73%, 0,67% e 0,94%.

A tendência de juros mais altos nos Estados Unidos, ou ao menos estáveis por um período mais longo, acaba tirando capital de países emergentes como o Brasil. Investidores, nessa situação, acabam optando por tomar menos risco e manter seu dinheiro, muitas vezes, nos títulos americanos, considerados os mais seguros do mundo.

Outro sinal disso é que o dólar ganhou força mundialmente. O DXY, que mede a força da divisa americana frente a outras de países desenvolvidos, subiu 0,18%. Frente ao real, o dólar chegou a subir 0,40% minutos após o discurso, chegando a R$ 4,90, mas opera próximo acabou fechando próximo da estabilidade, com leve queda de 0,09%, a R$ 4,875.

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Além das falas de Powell, o Ibovespa também repercutiu a publicação do IPCA-15 de agosto. A alta de 0,28% veio acima do consenso, que era de 0,17%, puxada principalmente pela energia elétrica.

“O contexto americano repercutiu nas análises e movimentos de mercado no Brasil. Embora a aprovação do arcabouço fiscal tenha sido celebrada e dado um fôlego para a bolsa no meio da semana, as perspectivas dos juros nos EUA predominaram no humor e um número crescente de analistas já trabalham com expectativas de Selic mais elevada no final do ciclo de queda. Esse contexto foi reforçado pela leitura do IPCA-15 de agosto que superou praticamente todas as projeções divulgadas por instituições financeiras e consultorias econômicas”, fala Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.

A curva de juros brasileira, combinando os dois fatores, subiu em bloco. Os DIs para 2024 ganham 2,5 pontos-base, a 12,41%, e os para 2025, 11,5 pontos, a 10,52%. Os contratos para 2027 e 2029 avançaram oito e cinco, respectivamente, a 10,24% e 10,73%. As taxas dos DIs para 2031 ganham três pontos, a 11,03%.

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Companhias ligadas ao mercado interno, de crescimento ou mais alavancadas, com isso, figuraram entre as maiores quedas do Ibovespa. As ordinárias da MRV (MRVE3) recuaram 5,58%, as da Locaweb (LWSA3), 5,29%, e as da CVC (CVCB3), 6,58%. Varejistas também foram destaque entre as baixas.