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Ibovespa ignora IPCA mais fraco e cai 0,8%, com influência de alta dos juros dos EUA

Inflação dos EUA acima do que era esperado - e acelerando na base anual - "eclipsa" a variação benigna de preços no Brasil

Vitor Azevedo

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Os juros americanos continuam sendo o principal detrator da performance da Bolsa brasileira em 2024. Nesta quarta-feira (10), o Ibovespa cai cerca de 0,8% por volta das 12h, aos 128,8 mil pontos, ignorando o fato de o IPCA, principal dado da inflação local, ter vindo aquém do esperado, e impactado pela alta das taxas nos Estados Unidos após a publicação da inflação dos EUA vir mais forte do que o esperado. 

O  índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA teve leitura de 0,4% em março, acima de 0,3%, que era o consenso do mercado, e estável frente a fevereiro. No ano, no entanto, a inflação agora acumula alta de 3,5%, acelerando frente aos 3,2% do mês anterior.

Junto de outros dados, como o do mercado de trabalho na semana passada, o número ajudou a enfraquecer, de vez, a tese de que o Federal Reserve pode começar seu ciclo de queda dos juros já em junho deste ano.

Ibovespa em baixa, juro em alta

Agora, segundo a ferramenta da CME Fed Watch, apenas 19% dos especialistas escutados enxergam a possibilidade de uma baixa da fed funds por lá em junho. A expectativa é que a autoridade monetária dos EUA continue, portanto, com suas medidas contracionistas para controlar a inflação por mais um tempo. Antes da publicação, o número era de 50%. 

“Os resultados vieram marginalmente acima das expectativas do mercado. O cenário reforça que a conclusão do processo de desinflação segue sendo um grande desafio para a economia americana. A leitura de hoje certamente vai na direção contrária da necessidade de confiança extra no processo de convergência para a meta de inflação que vem sendo declarado pelos membros do Fomc desde o início do ano”, diz Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad. 

Ativos de risco

Juros mais altos nos Estados Unidos acabam retirando o fluxo de investimentos para ativos de risco em todo o mundo. Investidores passam a tomar menos risco, optando pela segurança dos títulos da renda fixa americana – tanto os públicos quanto os privados.

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Nos EUA, os ativos de risco sofrem. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caem, respectivamente, 0,98%, 0,85% e 0,95%, neste final de manhã.

Fora isso, a alta das taxas dos EUA também acaba pressionando as taxas brasileiras, uma vez que os juros são sempre relativos. Se os títulos soberanos americanos estão pagando mais no longo prazo, o risco relativo do Brasil acaba sendo maior e o mercado local tem de acompanhar, oferecendo maiores retornos. 

Isso explica, majoritariamente, o motivo de os DIs estarem subindo nesta quinta, apesar de o IPCA de março ter ficado em 0,16%, aquém da expectativa do mercado, que era de alta de 0,3%. As taxas dos contratos para 2025 ganham 3,5 pontos-base, a 9,97%, os para 2027, 12,5 pontos, a 10,39%, e as dos para 2029, 13,5 pontos, a 10,96%.

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“Com esse dado do CPI muito forte, as leitura mudaram completamente o cenário. Há perspectiva de que os diretores do Fed mantenha a linha dura, dizendo que possivelmente podem ter um corte ou até mesmo não ter corte no ano. Esse discurso tem ganhado força. O nosso IPCA foi eclipsado pelo CPI americano”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, vai na mesma linha, lembrando que, com a alta dos juros, o investimento externo tende a minguar. “Nesse cenário a bolsa cai, já que perde pra renda fixa. Esse foi o impacto da super-quarta, uma vez que o CPI tem mais impacto do que o IPCA”.