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Ibovespa fecha semana em queda de 0,57% mesmo com esperada queda da Selic: confira o que afetou o mercado

Investidores monitoram possível "excessos" no recuo dos juros e repercutem balanços negativos da Petrobras e Bradesco

Vitor Azevedo

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O Ibovespa encerrou esta sexta-feira (4) em queda de 0,89%, perdendo os 120 mil pontos, indo a 119.507 pontos e recuando 0,57% na semana. O índice frustrou parcialmente parte das expectativas existentes no mercado quanto a uma alta mais forte após o corte da Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Apesar de a instituição monetária brasileira ter surpreendido, jogando a taxa 0,5 ponto percentual para baixo, a 13,25%, enquanto a maior parte do mercado esperava 0,25 ponto, investidores optaram pela cautela.

“A gente esperava que na quinta-feira, após a decisão, houvesse uma reação muito melhor do que aconteceu, porque o que o Banco Central deu para a gente, além do corte de 50 pontos-base, também o spoiler de que o próximo movimento deve ser da mesma magnitude”, fala  Anderson Meneses, CEO da Alkin Research. “O mercado, como está muito otimista, no entanto, já segue projetando até mesmo, quem sabe, um corte de 75 pontos”.

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Entre os fatores apontados por analistas que minguaram o otimismo é a possibilidade de decisões políticas estarem influenciando o Banco Central e que a instituição passe a aplicar “cortes exagerados”. Ontem a curva de juros brasileira caiu na ponta curta mas subiu em seu meio e ponta longa, ilustrando a preocupação.

“Na ponta curta, com o corte maior e sinalização de prosseguimento, a curva embute a certeza na queda dos juros. Já nos contratos mais longos, os investidores costumam se proteger do sentimento de maior leniência do banco central com a inflação”, comentou Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

“O grande medo da vez do mercado financeiro é que o pessoal que vai assumir venha a tomar uma linha de decisões diferente da equipe atual”, diz Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank. Mais dois diretores do BC terão seus cargos encerrados no fim de 2023.

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Apesar disso, a curva de juros recuou hoje. Os DIs para 2024 perderam um ponto, a 12,47%, e os para 2025, 2,5 pontos, a 10,48%. As taxas dos para 2029 perderam nove pontos, a 10,52%, e as dos para 2031, oito pontos, a 10,77%.

Fora essas questões, o Ibovespa sofreu também nesta sexta-feira com o peso da queda das ações ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4), com menos 4,20% e 2,98%, e das preferenciais do Bradesco (BBDC4), com menos 6,65%. Ambas companhias frustraram o mercado com a publicação dos seus balanços do segundo trimestre.

“A gente teve algumas decepções com os resultados da Petrobras e do Bradesco que acabaram pesando. As duas têm um peso relevante no índice e colocaram um pouco de água no chope da bolsa”, pontua Anderson Meneses.

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O especialista ainda destaca a publicação do Payroll de julho, nos Estados Unidos. O dado veio com a criação de 187 mil no sétimo mês do ano, ante consenso de 200 mil, e reforçou a visão de que a desaceleração da economia americana é gradual e bem como a leitura de que Federal Reserve não terá que voltar a subir os juros.

Os treasuries yields, com isso, recuaram forte. O título para dois anos caiu 12,4 pontos-base, a 4,772%, e o para dez anos, 14,7 pontos, a 4,042%.

A preocupação com uma economias mais fraca, contudo, puxou os índices americanos para baixo. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq  caíram 0,42%, 0,52% e 0,36%. Na semana, os índices recuaram, na mesma ordem, 1,11%, 2,26% e 2,85%.

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A semana também foi marcada pela decisão da Fitch em rebaixar o rating de emissor de inadimplência a longo prazo e moeda estrangeira (IDR, na sigla em inglês) dos Estados Unidos de AAA para AA+, com perspectiva estável. Foi a primeira vez que uma grande agência rebaixou o rating dos EUA desde 2011, movimentos estes que abalaram o mercado.

Já na sessão, a combinação entre menor rendimento dos treasuries, que usualmente atraem muito capital, e uma economia menos aquecida derrubaram o dólar mundialmente. O DXY, que mede a força da divisa americana frente a outras de países desenvolvidos, caiu 0,51%. Frente ao real, a baixa foi de 0,48%, a R$ 4,875 na compra e na venda.

Enrico Cozzolino, head de análise da Levante, por fim, lembra que os dois países passam pela temporada de balanços. Com as recentes altas, tanto dos ativos brasileiros quanto dos americanos, é possível que investidores estejam monitorando os resultados e a relação entre preço e lucro (P/L) das ações.

“Talvez não seja o preço que está tão barato, mas sim o lucro que ainda esteja elevado. Talvez essa diminuição de lucro aumente o múltiplo, chegando mais próximo das médias históricas. Acho que é um pouco disso no dia de hoje”, falou.