Ibovespa fecha em queda com Wall Street, mas sobe 1% na semana com fluxo estrangeiro; dólar cai 1,6% em 5 pregões

Índice chegou a esboçar uma nova alta neste pregão, mas acabou cedendo à pressão externa e fechou em queda

Rodrigo Tolotti

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira (20) pressionado pela bolsa americana, mas conseguiu encerrar a semana com alta de 1,26%, se descolando, por sua vez, do movimento apresentado em Wall Street, onde os principais índices recuaram nestes cinco pregões.

Por aqui, a semana começou impulsionada pelas boas notícias dos testes de novas vacinas, com eficácia superior a 90% no caso das profilaxias da Moderna, Pfizer e BioNTech. Os resultados vêm de análises preliminares de grandes estudos clínicos e ainda não foram publicadas em nenhuma revista científica.

Mas o que tem chamado mais atenção na força da bolsa brasileira e seu descolamento com o exterior é o cenário de grande fluxo estrangeiro para o mercado local, favorecendo os ganhos do índice e a queda do dólar contra o real nos últimos pregões.

O movimento positivo no Ibovespa tem ocorrido desde o início do mês – com ganhos acumulados de mais de 12% até agora -, mas se intensificou na semana passada quando estrangeiros injetaram R$ 14,5 bilhões, chegando a um saldo positivo líquido em novembro de R$ 17,8 bilhões.

Em relatório publicado hoje o analista Andrew Garthwaite, do Credit Suisse, destaca que o real aparece muito barato em diversas métricas, sendo que em 85% das vezes em que a divisa brasileira tem uma depreciação relevante, o Brasil costuma ter um desempenho acima da média.

Nesta sexta, porém, além de um movimento natural de correção e de investidores evitando ficarem posicionados durante o fim de semana para evitarem surpresas na volta da próxima semana, o Ibovespa ficou pressionado pelo exterior após divergências entre o Federal Reserve e o Tesouro dos EUA sobre os programas de estímulos à economia do país. Além disso, o aumento de casos de Covid-19 também tem preocupado os investidores, mesmo com o avanço das vacinas.

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Steven Mnuchin, secretário do Tesouro dos EUA, disse aos parlamentares que devem redirecionar US$ 580 bilhões de estímulo não gasto. Ele ainda escreveu uma carta ao presidente do Fed, Jerome Powell, exigindo a devolução do dinheiro que o governo fornece ao banco central para que ele possa emprestar a certos mercados em tempos de estresse.

Em seguida, Mnuchin minimizou a decisão, dizendo que ainda há muito dinheiro disponível para fornecer fundos onde for necessário. “Foi uma coisa muito simples. Estamos seguindo a intenção do Congresso”, disse ele à CNBC.

O secretário do Tesouro afirmou ainda que há até US $ 800 bilhões em poder de fogo que pode ser implantado pelo governo, se necessário, por meio do Fundo de Estabilização do Câmbio e de outros lugares. No entanto, ele acrescentou que “não precisamos comprar mais títulos corporativos. O mercado municipal está funcionando, as pessoas podem pegar muito dinheiro emprestado nos mercados”.

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Nesta manhã o Fed divulgou comunicado instando que “todo o conjunto” de medidas fosse mantido até 2021. Na terça-feira, Powell indicou que não achava apropriado permitir que os programas expirassem. “O Fed estará fortemente comprometido em usar todas as nossas ferramentas para apoiar a economia pelo tempo que for necessário até que o trabalho seja bem feito”, disse Powell. “Quando chegar a hora certa, e eu não acho que essa hora seja ainda ou muito em breve, nós abandonaremos essas ferramentas”.

Com isso, o benchmark da bolsa brasileira fechou com queda de 0,59%, aos 106.042 pontos, com volume financeiro de R$ 21,598 bilhões.

Já o dólar comercial teve valorização de 1,35%, cotado a R$ 5,3848 na compra e R$ 5,3858 na venda, mas fechou a semana com queda acumulada de 1,63%. O dólar futuro com vencimento em dezembro, por sua vez, subiu 1,49% hoje, a R$ 5,385.

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No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 subiu sete pontos-base a 3,36%, o DI para janeiro de 2023 teve alta de 15 pontos-base a 5,15%, o DI para janeiro de 2025 avançou 18 pontos-base a 6,98% e o DI para janeiro de 2027 registrou variação positiva de 18 pontos-base a 7,78%.

De volta aos EUA, o senador democrata Chuck Schumer afirmou que o líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnel, concordou em voltar às negociações a respeito da aprovação de uma lei implementando incentivos fiscais nos Estados Unidos. Como republicanos detêm a maioria no Senado, seu protagonismo é necessário para a aprovação de um novo pacote de estímulos, assunto que marcou as expectativas do mercado financeiro americano até pouco antes das eleições, e que agora pode voltar à tona.

Enquanto isso, o presidente eleito Joe Biden atacou a falta de cooperação do governo Trump na transição presidencial, dizendo que isso prejudicava a capacidade de sua equipe de obter informações atualizadas sobre a pandemia.

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Vale destacar ainda que, em meio a alta de casos de coronavírus, houve uma diminuição do ânimo dos investidores em relação ao progresso da vacina. A Califórnia impôs toque de recolher na maior parte do estado, enquanto os primeiros- ministros sul-coreanos e japoneses pediram vigilância para conter o contágio e o chefe de saúde de Hong Kong disse que a cidade “provavelmente entrou em uma nova onda de casos”.

Na Europa, economias importantes, como França, Reino Unido e Alemanha, continuam a implementar diferentes níveis de lockdowns, com aumento dos casos. Mesmo assim, o número de infecções continua a aumentar.

Ainda no noticiário europeu, reuniões sobre o Brexit foram suspensas após membros da comitiva da União Europeia serem testados positivo para covid-19 na quinta-feira. As discussões prosseguem remotamente, com o objetivo de obter um acordo em dez dias.

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Guedes volta a defender imposto sobre transações

Na quinta-feira, o ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que, após o período eleitoral, pretende voltar a tratar da criação de um imposto sobre transações, nos moldes da extinta CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras). A fala ocorreu em videoconferência promovida pelo banco Bradesco.

Guedes, que rejeita a referência à CPMF, afirmou que o plano inicial prevê a taxação de recursos enviados por meio do Pix, novo sistema de transferência de pagamentos instantâneos que foi inaugurado nesta semana.

As alíquotas devem ser baixas, em torno de 0,10% e 0,15%. Estudos iniciais do Ministério da Economia falavam em alíquotas em torno de 0,20%. O setor bancário é contrário ao novo tributo, o que levou Guedes a classificar a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) de “casa de lobby” em outubro.

Ele afirmou que a reforma tributária poderia ser destravada ainda em 2020 “por um milagre”, e criticou a proposta presente na Câmara. Segundo ele, para manter a arrecadação em patamares adequados, a alíquota sobre consumo deveria ser superior a 30%, o que impactaria o consumo. Por isso, defende a taxa sobre as transações.

Também em destaque, em meio à crescente desconfiança dos investidores em relação ao quadro fiscal brasileiro, Guedes garantiu que fará “o que for necessário” para reduzir a dívida e citou, entre o cardápio de medidas para atingir esse objetivo, a possibilidade de “até vender um pouco de reservas”.

Além disso, relatório global que está sendo publicado nesta sexta-feira pela Tax Justice Network, afirma que o Brasil perde impostos no valor de US$ 14,9 bilhões por ano para paraísos fiscais, o equivalente a 20% do orçamento da saúde. Globalmente, as perdas de governos são estimadas em US$ 427 bilhões por ano.

Em entrevista ao jornal Valor, o diretor da ONG, Bou Mansour, afirmou que, no caso do Brasil, os desvios são feitos por multinacionais, que transferem lucros que obtêm no país para paraísos fiscais. Assim, subestimam os ganhos no mercado brasileiro e pagam menos impostos.

Além disso, US$ 280 milhões são perdidos com a evasão fiscal privada, em que indivíduos transferem seu patrimônio para fora do Brasil para esconder suas verdadeiras fortunas.

Aceleração da Covid e a vacinação no Brasil

Na quinta-feira, o Brasil registrou 35.918 novos casos de contaminação por covid-19, uma alta de 70% em 14 dias, segundo dados do Ministério da Saúde. Até a manhã de sexta-feira, 168.061 pessoas morreram com a doença no país.

O governo do estado de São Paulo proibiu o agendamento de novas cirurgias não emergenciais em hospitais, sejam eles privados, públicos ou filantrópicos. Leitos dedicados exclusivamente a pacientes com covid-19 não poderão ser desmobilizados.

Além disso, a reclassificação das regiões do estado no Plano São Paulo, que estabelece o nível de restrição de atividades em cada local, como forma de barrar o avanço da covid, será feito a cada 14 dias, e não a cada 28 dias como vinha ocorrendo. Com a aceleração de novos casos, o governo suspendeu, no dia 16, a reclassificação de oito regiões do estado, que partiriam da fase amarela para a fase verde.

Na quinta-feira, o secretário-executivo do MInistério da Saúde, Élcio Franco, afirmou que o governo federal ainda pretende concluir, nesta semana, uma rodada de reuniões com representantes de cinco empresas responsáveis pelo desenvolvimento de vacinas contra a covid-19.

O governo está conduzindo negociações com: Covaxin, da Índia; Instituto de Pesquisa Gamaleya, da Rússia, produtora da Sputnik V; Janssen, dos Estados Unidos; Moderna, dos Estados Unidos; Pfizer, dos Estados Unidos e BionTech, da Alemanha.

As reuniões podem resultar em memorandos que abrem espaço para aquisições no futuro. “O que deve ocorrer a partir dessas reuniões, entendendo uma série de premissas que eu vou abordar em breve, serão memorandos de entendimento não vinculantes para possíveis futuras aquisições”, disse o secretário.

O secretário destacou que, para que qualquer vacina chegue à população, precisa ser aprovada pela Anvisa. Até o momento, o Brasil já tem parceria para a produção, localmente, de três vacinas.

O governo federal fechou acordo para compra da vacina ChAdOx1, desenvolvida pela britânica AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. A produção local será realizada pela Fundação Oswaldo Cruz. O custo deve ser de R$ 1,9 bilhão, para produção de 100 milhões de doses.

O governo de São Paulo fechou acordo para compra de doses prontas e insumos para produção local da CoronaVac, produzida pela chinesa Sinovac. As primeiras 120 mil doses devem chegar nesta sexta-feira ao Brasil.

E o governo do Paraná tem um acordo para utilizar a vacina Sputnik V, do Instituto Gamaleya, da Rússia.

Além disso, o governo federal tem um acordo com a Organização Mundial da Saúde, em que deve investir R$ 2,5 bilhões. Assim, terá acesso a 42 milhões de doses de uma vacina dentre as desenvolvidas pela iniciativa global Covax Facility, que inclui diversas candidatas.

Radar corporativo

Em destaque no noticiário corporativo, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) retomou a produção do seu Alto-Forno 2, que teve sua paralisação temporária definida pela siderúrgica em maio. Este alto-forno tem capacidade nominal de 1,5 milhão de toneladas por ano, e segundo a CSN, a sua retomada “visa adequação da produção à demanda do mercado”.

Maiores altas

Ativo Variação % Valor (R$)
PCAR3 4.5116 72.97
IRBR3 4.04192 6.95
RADL3 3.3256 26.72
CIEL3 2.91777 3.88
CSAN3 2.83715 82.28

Maiores baixas

Ativo Variação % Valor (R$)
PRIO3 -6.73913 42.9
GOLL4 -3.95308 22.11
LREN3 -3.47252 45.31
SANB11 -3.0667 37.93
AZUL4 -2.77466 34.69

Já o conselho administrativo da Copasa aprovou o desdobramento de 1 ação para 3 com o objetivo, segundo a companhia, de tornar a ação mais acessível aos investidores e elevar a liquidez. O conselho de administração da Hapvida, por sua vez, aprovou o desdobramento das ações na proporção de 1 para 5, com a manutenção do capital social.

A Cielo comprou a participação de 8,56% que restava na Multidisplay para deter a totalidade do capital social da controlada, com os acionistas minoritários da empresa exercendo a opção de venda de sua participação. Já a Ânima anunciou a compra da startup de tecnologia Medroom, por valor não revelado. A companhia desenvolve soluções de realidade virtual para educação médica.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.