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Após dois meses difíceis, o Ibovespa conseguiu, nos últimos dois dias, engatar uma sequência de altas. Nesta segunda, o índice avançou 1,94% e hoje, 2,03%, aos 106.864 pontos. Começaram, então, os burburinhos de que a Bolsa brasileira poderia estar passando por um “rali de fim de ano”, ou “rali de Natal”.
Com alguma frequência, dezembro e janeiro são meses positivos para os ativos de risco. Entre as explicações, há quem fale que a virada do ano é uma época, normalmente, de otimismo com um novo ciclo e de fé em mudanças. Outros, mais pragmáticos, mencionam que é normal, nessa época, funcionários receberem bônus, que são direcionados a investimentos e que gestores também aproveitam o período para rotacionar seus investimentos.
Apesar da possível interferência de todos esses fatores, no Brasil, as recentes altas estão, para especialistas, menos ligadas ao espírito natalino e mais relacionadas ao noticiário político.
“Após a eleição, tivemos um mercado mais animado, dando o benefício da dúvida, imaginando que o governo eleito viria mais pragmático. Além disso, havia a perspectiva de um Congresso mais ao centro”, explica Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos. “Depois, houve um ruído grande vindo de Brasília. Nomes que não agradaram para o Ministério da Fazenda, Lei das Estatais atacada, contestação da independência do Banco Central. Uma série de coisas que foram acontecendo e tirando o benefício da dúvida”.
Agora, de acordo com o chefe de pesquisas da Ativa, o Ibovespa vem reagindo por já ter feito fundo e por ter precificado a maioria das notícias negativas – tendo pouco espaço, então, para o noticiário político fazer mais peso.
“Agora, nesse fim de ano, acho que os investidores já reduziram muito suas posições, que estão quase zeradas, com pouca coisa na carteira. Há uma liquidez mais baixa e, com as notícias negativas já precificadas, qualquer trigger positivo leva a novas altas”, contextualiza Serra. “Nessa semana, a Bolsa se animou um pouco por conta da ausência das notícias ruins”.
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Stephan F. Kautz, economista chefe da EQI Asset, e Igor Barenboim, economista-chefe da Reach Capital, vão no mesmo sentido.
“Temos o ambiente externo ajudando um pouco e um cenário interno na qual boa parte das ondas de notícias negativas já passaram e foram precificadas, o que ajuda um pouco nesse rali de fim de ano”, explica Kautz. “Além disso, o valor da PEC de Transição provavelmente não será mais de R$ 200 bilhões e ficará mais próximo de R$ 150 bilhões. Então há uma economia de aproximadamente 0,5% do PIB, sem a licença para ampliar a dívida de forma muito agressiva”, completa Barenboim.
Nesta terça, a Câmara dos Deputados, segundo notícias, fechou um acordo para reduzir a vigência da PEC de Transição para um ano.
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De acordo com o especialista da EQI, no cenário externo, apesar do recente tom mais duro das autoridades monetárias do Federal Reserve, boa parte do mercado continua acreditando que o pico da inflação nos Estados Unidos já passou. Isso diminui a pressão por mais altas da taxa básica de juros por lá e tende a beneficiar ativos de risco e a levar ffigluxo de capital para emergentes.
Apesar do cenário mais positivo, então, há uma série de questões para se acompanhar, que vão de dados macroeconômicos americanos a novas notícias sobre a política brasileira.
“Aguardamos a negociação final da PEC, que antes estava vindo bem negativa e que trouxe alguns avanços, com redução de valor”, defende Kautz. “De qualquer forma, os recentes acontecimentos mostraram que o Lula e o Congresso não estão tão alinhados, sinalizando fraqueza”, complementa Barenboim.
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No dia, Ibovespa surfa com fiscal mais positivo
As questões fiscais, que vêm nos últimos dias impulsionando o Ibovespa, também foram os destaques desta terça. O principal índice da Bolsa brasileira teve alta bem mais considerável do que seus pares americanos.
Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,28%, 0,10% e 0,01%,
“Lá fora, nos Estados Unidos, os índices não tiveram muito um movimento relevante. O mercado ficou mais focado nas questões locais”, defende Nicolas Farto, head de renda variável da Renova Invest.
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Os treasuries yields, porém, fecharam em alta, pressionados pela sinalização surpresa de indicação de aperto monetário no Japão, terceira maior economia do mundo. O para dez anos foi a 3,69%, com mais 10,7 pontos-base.
O dólar perdeu força mundialmente, principalmente com a valorização do iene – a moeda americana recuou 3,75% frente à japonesa. O DXY, índice que mede a força do dólar ante outras divisas de países desenvolvidos, caiu 0,68%, aos 104,01 pontos. Frente ao real, a queda foi de 1,93%, a R$ 5,206 na compra e a R$ 5,207 na venda.
“O dia foi positivo para o Ibovespa, com o mercado mais otimista em relação à situação fiscal. Hoje, na votação da PEC na Câmara, o texto foi alvo de modificações. Houve uma certa desidratação em relação a prazo e volume de gastos fora do teto, o que é visto de forma positiva”, pontua Farto. “Além disso, há a decisão do Gilmar Mendes, de retirar do teto os gastos com o Bolsa Família, que também foi visto como algo positivo, dado que, se a PEC não avançar, o gasto fora do teto ficará limitado ao programa. Isso derruba a curva de juros brasileira e favorece os ativos de risco, principalmente as companhias ligadas ao local”.
A curva de juros brasileiro recuou em toda a sua extensão. Na ponta curta, os DIs para 2024 e 2025 perderam, respectivamente, 15 pontos-base e 37 pontos-base, a 13,36% e 13,19%. No meio da curva, os DIs para 2027 fecharam a 13,19%, com menos 42,5 pontos, e os para 2029 a 13,17%, com menos 38 pontos. Os DIs para 2031 ficaram em 13,11%, recuando 33 pontos.
Entre as maiores altas do Ibovespa, ficaram as ações ordinárias da Via (VIIA3), com mais 10,81%, as da Natura (NTCO3), com mais 8,59%, e as da Magazine Luiza (MGLU3), com mais 8,05%. As preferenciais da Gol (GOLL4) também foram destaque, ganhando 11,18%, bem como as da Azul (AZUL4), com mais 7,58%.