Ibovespa dispara 13,91% no dia, mas não evita pior queda semanal desde 2008

Os pregões nesta semana foram marcados por muita aversão ao risco. O dólar acumulou alta de 3,85%

Ricardo Bomfim

(Shutterstock)
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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em alta de 13,91% nesta sexta-feira (13), em seu maior ganho diário em 11 anos. Ainda assim, o principal índice da B3 não conseguiu evitar uma nova queda semanal, de 15,63%, a pior desde 2008.

Os pregões nesta semana foram marcados por muita aversão ao risco. Na segunda-feira, o investidor acordou em pânico, pois além da disseminação da Covid-19, surgia no horizonte a guerra de preços de petróleo entre Arábia Saudita e Rússia.

Não foi possível chegar a um acordo para cortar produção e segurar preços entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), liderada pelos árabes, e a nação comandada por Vladimir Putin.

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Como resposta, os sauditas anunciaram que elevarão a produção da commodity para 12,3 bilhões de barris por dia, inundando um mundo de demanda decrescente com petróleo barato.

As cotações desabaram 20% e a Petrobras perdeu R$ 91 bilhões de valor de mercado. O Ibovespa caiu 12% e acionou circuit breaker.

O mercado se recuperou com uma alta de 7% no dia seguinte, mas na quarta-feira (11), a declaração da Organização Mundial da Saúde (OMS) de que o coronavírus se tornou uma pandemia voltou a derrubar a Bolsa.

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A queda foi de 7,6%, com mais um circuit breaker acionado durante a sessão. Outro fator de instabilidade foi a derrubada pelo Congresso do veto de Bolsonaro à ampliação do Benefício por Prestação Continuada (BPC), que deve gerar um impacto orçamentário bilionário em meio a um momento de ajuste rigoroso nas contas públicas.

Na quinta-feira, o pânico se estendeu, com o mercado decepcionado com as medidas adotadas pelo presidente americano, Donald Trump, para combater a pandemia.

Enquanto se esperavam estímulos econômicos, Trump anunciou a proibição de voos entre a Europa e os EUA, à exceção do Reino Unido. Foram mais dois circuit breakers e o Ibovespa caiu 14,8%, no pior pregão desde a crise da moratória da Rússia em 1998.

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O anúncio do Federal Reserve – o banco central dos EUA – de que vai oferecer mais de US$ 1,5 trilhão em liquidez ao mercado monetário através de operações de recompra reversa até esboçou uma melhora na sessão, mas não teve força suficiente para reduzir as perdas dos índices acionários.

Pelo cronograma, a autoridade monetária ofertará hoje US$ 500 bilhões em títulos de três meses e US$ 500 bilhões em títulos de um mês. Para os próximos 30 dias, a intervenção total se aproximará de US$5 trilhões.

Um alívio antes do fim de semana

Hoje, o alívio chegou, apesar de não ter conseguido apagar toda a queda. No fim da sessão, Trump decretou estado de emergência nacional e liberou US$ 50 bilhões para o combate ao vírus. Dow Jones e S&P 500 dispararam mais de 9%, no melhor pregão desde 2008.

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Também ajudou a acalmar os ânimos por aqui a afirmação do presidente Jair Bolsonaro de que testou negativo para coronavírus. Mais cedo, alguns veículos de imprensa haviam informado que o exame de Bolsonaro tinha dado positivo, o que não se confirmou no fim do dia.

O secretário de Comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, está com coronavírus, o que levou o próprio presidente Jair Bolsonaro a realizar o teste para diagnosticar a presença do vírus.

Hoje, o Ibovespa subiu 13,91%, a 82.677 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 42,6 bilhões. A última alta tão expressiva foi em 13 de outubro de 2008, quando o benchmark disparou 14,66%.

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Enquanto isso, o dólar comercial terminou o dia em alta de 0,56%, a R$ 4,8099 na compra e R$ 4,8128 na venda. Na semana, a moeda dos EUA subiu 3,85%.

Poderia ter sido mais, não fossem as intervenções do Banco Central, que só ontem ofertou mais de US$ 4 bilhões em leilões à vista, controlando a volatilidade depois da moeda chegar a bater R$ 5,00 pela primeira vez na história. O dólar futuro para abril avançou 0,47% hoje, para R$ 4,825.

Por aqui, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que a pauta dos próximos 45 dias na Casa será voltada para o combate aos efeitos econômicos da pandemia e criticou o ministro da Economia, Paulo Guedes, por não ter apresentado medidas de curto prazo para enfrentar a crise.

Segundo Maia, as propostas de Guedes para a economia, enviadas na terça-feira, não resolvem a turbulência para os próximos meses. Maia também disse que a reforma administrativa, cujo esboço ainda não foi enviado pelo governo, não é a solução no momento.

“Guedes não tinha uma coisa organizada ou não quis falar. Se olhar os projetos, tem pouca coisa que impacte a agenda a curto prazo ou quase nada”, afirmou. O Congresso estuda entrar em recesso por causa da pandemia.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 caiu 66 pontos-base, a 5,24%, o DI para janeiro de 2023 teve queda de 78 pontos-base, a 6,05%, e o DI para janeiro de 2025 recuou 70 pontos-base, a 7,08%.

Coronavírus no Brasil

O Brasil já tem mais de 100 casos do coronavírus, de acordo com contagem do jornal Folha de São Paulo. Até a noite de ontem, quinta-feira, o Ministério da Saúde tinha 77 casos confirmados. Somente o Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo (SP), já tem 98 casos confirmados, mas dos quais apenas 43 foram notificados ao Ministério em Brasília (DF).

O estado de São Paulo pode ter entre 1% e 10% de sua população infectada pelo novo coronavírus, com quadro leve a grave, nos próximos quatro meses, segundo o infectologista David Uip, coordenador de um comitê de contingenciamento para enfrentar a chegada da doença no estado.

Noticiário corporativo

A Estácio Participações (YDUQ3), o segundo maior grupo de educação privada do Brasil, reportou lucro líquido de R$ 686,4 milhões em 2019, informou em balanço. Outras empresas, como Qualicorp e Kepler Weber, também publicaram balanços.

A Vale (VALE3) informou que pode enfrentar dificuldades operacionais relacionadas à força de trabalho e pode ter que adotar medidas de contingência ou eventualmente suspender operações por conta da pandemia de coronavírus, segundo comunicado ao mercado.

A empresa depende de uma extensiva cadeia de logística e de fornecedores que inclui Ásia e Europa; todas as viagens de negócios e eventos não-essenciais foram cancelados ou postecipados até novas orientações.

Já a Gol (GOLL4) informou que a programação de voos será ajustada para garantir equilíbrio entre o novo cenário de demanda e a qualidade e amplitude da nossa malha aérea, em meio à queda das viagens por conta do coronavírus.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.