Ibovespa acelera perdas para 11% com crise de petróleo e coronavírus; dólar sobe a R$ 4,77

Mercado aciona novamente o modo pânico com commodities se juntando ao noticiário do coronavírus

Ricardo Bomfim

Publicidade

SÃO PAULO – O Ibovespa cai forte nesta segunda-feira (9) e acelerou as perdas mesmo depois de acionar o circuit breaker mais cedo. Impacta o índice a queda de 21,76% do barril do petróleo tipo Brent (usado como referência pela Petrobras) a US$ 35,42, e de 21,41% do barril do WTI a US$ 32,44.

As bolsas de Nova York também acionaram circuit breaker, após baixa de mais de 7%, voltando a cair perto de 8% o Dow Jones após sair da suspensão.

O movimento ocorre depois do fracasso no acordo para redução na produção da commodity entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia. A Arábia Saudita anunciou já no sábado que praticará descontos de 20% no preço do barril.

Às 15h13 (horário de Brasília), o Ibovespa registra queda de 11,02%, aos 87.199 pontos.

Enquanto isso, o dólar comercial sobe 2,87% a R$ 4,7671 na compra e a R$ 4,7676 na venda. O dólar futuro para abril dispara 3,16%, para R$ 4,7795. No câmbio, o Banco Central vendeu US$ 3 bilhões à vista em leilão, a primeira oferta spot de dólares desde o início da disparada na cotação da divisa.

Bruno Serra, diretor de Política Monetária do BC, disse que não tem preconceito ou preferência por uso de nenhum dos instrumentos à sua disposição. Serra afirmou ainda que as ações do BC tem sido pontuais, mas “podem durar o tempo que for preciso para o retorno regular do funcionamento do mercado”.

Continua depois da publicidade

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 tem alta de 22 pontos-base a 4,66%, DI para janeiro de 2023 avança 28 pontos-base a 5,38% e DI para janeiro de 2025 sobe 37 pontos-base a 6,39%.

A Bolsa acionou circuit breaker hoje, suspendendo negociações de ativos por meia hora após uma baixa de 10% no Ibovespa.

Uma vez reaberto o pregão, se houver uma oscilação negativa de até 15%, a interrupção se dá por mais uma hora. Voltando a funcionar, com queda de 20%, ocorre suspensão dos negócios por prazo a ser definido pela Bolsa. Nessa hipótese, a decisão deverá ser comunicada ao mercado. De qualquer forma, na última meia hora de pregão, as negociações acontecerão.

Continua depois da publicidade

As bolsas de valores dos países do Golfo Pérsico desabaram, junto com as ações da estatal petrolífera saudita Aramco, que caíram 9% na Bolsa de Valores de Riad.

Com a maior queda da cotação desde a Guerra do Golfo de 1991, uma nova fonte de risco se instaura em uma economia mundial já abatida pelo coronavírus, que já tem perto de 110 mil infectados em todo o mundo.

Acompanhe nossa cobertura de mercado em tempo real no Telegram, clique aqui.

Continua depois da publicidade

Segundo o Goldman Sachs, a guerra de preços entre Opep e Rússia poderia levar a commodity aos US$ 20. O petróleo Brent pode cair para até US$ 20 o barril e testar os níveis em que alguns produtores podem operar, escreveram analistas como Damien Courvalin em relatório.

O evento muda completamente as perspectivas para os mercados de petróleo e gás, disse o banco, que reduziu as previsões para o segundo e terceiro trimestres para US$ 30 o barril.

“Acreditamos que a guerra dos preços do petróleo da Opep e da Rússia começou inequivocamente neste fim de semana”, disseram os analistas. “O prognóstico para o mercado de petróleo é ainda mais sombrio do que em novembro de 2014”, quando houve a última guerra de preços, já que coincide com o colapso significativo na demanda por petróleo devido ao coronavírus.

Continua depois da publicidade

Sobre o vírus, a Itália começou o isolamento de 16 milhões de pessoas para enfrentar a epidemia, incluindo toda a região da Lombardia, cuja capital é a cidade de Milão. Outras 14 províncias, entre elas a da cidade de Veneza, também foram fechadas.

Museus, boates e cinemas não funcionarão, enquanto bares e restaurantes devem afastar bancos e mesas. Eventos esportivos como o campeonato italiano de futebol estão sendo realizados a portas fechadas, sem torcida.

As bolsas da Ásia e do Pacífico encerraram os negócios desta segunda-feira em forte queda generalizada. Liderando as perdas na Ásia, o índice acionário japonês Nikkei sofreu um tombo de 5,07% hoje, a 19.698,76 pontos.

Continua depois da publicidade

O mau humor em Tóquio veio também após revisão do Produto Interno Bruto (PIB) do Japão, que sofreu contração anualizada de 7,1% entre outubro e dezembro, maior do que a inicialmente estimada.

Na China continental, o Xangai Composto recuou 3,01% nesta segunda, a 2.943,29 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 3,79%, a 1.842,66.

Também no fim de semana, dados oficiais mostraram que as exportações chinesas tiveram uma redução anual de 17,2% no primeiro bimestre do ano, um pouco maior do que o declínio de 17% previsto por analistas consultados pelo The Wall Street Journal.

As bolsas europeias operam em queda bastante acentuada desde a abertura do pregão desta segunda-feira. O índice pan-europeu Stoxx 600 recua 7,64%, a 338 pontos, entrando em “bear market”, ao acumular perdas de mais de 20% desde que atingiu seu pico mais recente.

Relatório Focus

Os economistas do mercado financeiro reduziram as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 de 2,17% para 1,99%, mostrou o Relatório Focus do Banco Central. Para 2021, a previsão foi mantida em 2,5%.

Já as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) oscilaram de 3,19% para 3,2% para 2020 e ficaram estáveis em 3,75% para 2021.

A projeção para o dólar foi mantida em R$ 4,20 para 2020, mas foi elevada de R$ 4,15 para R$ 4,20 em 2021.

Por fim, a projeção para a taxa básica de juros Selic foi mantida em 4,25% para 2020, mas foi revisada para baixo de 5,75% para 5,5% para 2021.

Política 

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender protestos de 15 de março e pede que população participe do ato, que, segundo ele, não é contra o Congresso ou Judiciário, segundo postagem do presidente no Twitter e Facebook sobre ato em Roraima no dia 7.

Vale destacar que o presidente brasileiro se reuniu no sábado com Donald Trump, presidente dos EUA. Interessados em intensificar a parceria econômica entre Brasil e Estados Unidos, os presidentes instruíram seus negociadores a aprofundar as discussões prévias à possível assinatura de um pacote bilateral de comércio. A informação foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores. Segundo a pasta, a intenção é que um acordo seja assinado ainda neste ano.

Em nota divulgada na madrugada de hoje (8), o Itamaraty trata o aprofundamento da parceria como uma “aliança estratégica” entre os dois países. De acordo com o ministério, Trump reiterou o apoio norte-americano ao início do processo de entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Noticiário corporativo

A Eneva Energia (ENEV3) publicou uma carta na noite de ontem na CVM, na qual reafirmou seu desejo de realizar uma fusão com a AES Tietê (TIET11). Segundo a Eneva, a publicação foi feita porque a AES Tietê não se manifestou até agora.

Mas a empresa paulista respondeu ontem mesmo pela CVM, informando que seus assessores jurídicos e financeiros analisam a proposta. A AES Tietê também detalhou que a proposta será discutida em Assembleia no dia 13. Já a farmacêutica Hypera (HYPE3) publicou balanço na noite da sexta-feira e anunciou um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão em 2019.

(Com Agência Estado, Agência Brasil e Bloomberg)

Quer investir melhor o seu dinheiro? Clique aqui e abra a sua conta na XP Investimentos

Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.