Ibovespa desaba 12% na pior queda em 21 anos e vai ao menor patamar desde 2018

Guerra de preços de petróleo se somou ao aumento nos casos de coronavírus para levar a um pânico quase sem precedentes

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O Ibovespa fechou em queda de mais de 12% nesta segunda-feira (9), no pior pregão da Bolsa desde 10 de setembro de 1998, quando o índice recuou 15,82%. Nem mesmo na pior sessão da crise de 2008 o benchmark havia caído tanto. No dia 15 de outubro de 2008, o Ibovespa recuou 11,39%.

A baixa de hoje foi motivada pelo fracasso no acordo para redução na produção da commodity entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia. A Arábia Saudita anunciou já no sábado que praticará descontos de 20% no preço do barril. Perto do fim da sessão, a Rússia disse estar pronta para suportar uma guerra de petróleo com os sauditas por até uma década.

O barril do petróleo tipo Brent – usado como referência pela Petrobras – desabou 24,1% a US$ 34,36. Já o WTI despencou 25,07% a US$ 30,93. As ações da Petrobras tiveram baixas em torno de 28%.

Hoje, a B3 registrou seu sexto circuit breaker da história, de modo que todas as operações no mercado brasileiro ficaram fechadas das 10h33 (horário de Brasília) às 11h03.

O Ibovespa registrou queda de 12,17%, aos 86.067 pontos com volume financeiro negociado de R$ 43,919 bilhões. Com a queda, a Bolsa devolveu toda a alta de 2019, voltando ao patamar de 27 de dezembro de 2018, quando o Ibovespa fechou cotado a 85.460 pontos.

Segundo Pam Semezzato, analista técnica da Rico Investimentos, a tendência primária do Ibovespa ainda não se inverteu, mas a tendência secundária definitivamente já é de queda. Foi rompida uma Linha de Tendência de Alta (LTA) que vinha sendo construída desde 2016 com topos e fundos ascendentes, o que é um péssimo sinal para os comprados.

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“Não vejo nenhum sinal comprador, pelo contrário. O que consigo ver são candles com bom desenvolvimento para venda”, avalia Pam.

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Enquanto isso, o dólar comercial subiu 1,97% a R$ 4,7251 na compra e a R$ 4,7256 na venda. O dólar futuro para abril dispara 2,19%, para R$ 4,736. No câmbio, o Banco Central vendeu US$ 3,9 bilhões à vista em leilão, a primeira oferta spot de dólares desde o início da disparada na cotação da divisa.

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Era previsto um leilão de US$ 1 bilhão, mas logo pela manhã o BC elevou a venda de dólares para US$ 3 bilhões e durante a tarde foi feito mais dois leilões, cada um com mais de US$ 400 milhões.

Bruno Serra, diretor de Política Monetária do BC, disse que não tem preconceito ou preferência por uso de nenhum dos instrumentos à sua disposição. Serra afirmou ainda que as ações do BC tem sido pontuais, mas “podem durar o tempo que for preciso para o retorno regular do funcionamento do mercado”.

No mercado de juros futuros, o DI para janeiro de 2022 teve alta de 20 pontos-base a 4,62%, DI para janeiro de 2023 avançou 26 pontos-base a 5,36% e DI para janeiro de 2025 subiu 34 pontos-base a 6,36%.

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Bolsas mundiais

As bolsas de Nova York também acionaram circuit breaker. O Dow Jones caiu 7,79%, o S&P 500 recuou 7,6% e o Nasdaq teve baixa de 7,29%. Nos EUA, o mercado fecha para negociações quando atinge queda de 7%.

Já as bolsas de valores dos países do Golfo Pérsico desabaram, junto com as ações da estatal petrolífera saudita Aramco, que caíram 9% na Bolsa de Valores de Riad.

Com a maior queda da cotação desde a Guerra do Golfo de 1991, uma nova fonte de risco se instaura em uma economia mundial já abatida pelo coronavírus, que já tem perto de 110 mil infectados em todo o mundo.

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Segundo o Goldman Sachs, a guerra de preços entre Opep e Rússia poderia levar a commodity aos US$ 20. O petróleo Brent pode cair para até US$ 20 o barril e testar os níveis em que alguns produtores podem operar, escreveram analistas como Damien Courvalin em relatório.

O evento muda completamente as perspectivas para os mercados de petróleo e gás, disse o banco, que reduziu as previsões para o segundo e terceiro trimestres para US$ 30 o barril.

“Acreditamos que a guerra dos preços do petróleo da Opep e da Rússia começou inequivocamente neste fim de semana”, disseram os analistas. “O prognóstico para o mercado de petróleo é ainda mais sombrio do que em novembro de 2014”, quando houve a última guerra de preços, já que coincide com o colapso significativo na demanda por petróleo devido ao coronavírus.

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Sobre o vírus, a Itália começou o isolamento de 16 milhões de pessoas para enfrentar a epidemia, incluindo toda a região da Lombardia, cuja capital é a cidade de Milão. Outras 14 províncias, entre elas a da cidade de Veneza, também foram fechadas.

Museus, boates e cinemas não funcionarão, enquanto bares e restaurantes devem afastar bancos e mesas. Eventos esportivos como o campeonato italiano de futebol estão sendo realizados a portas fechadas, sem torcida.

As bolsas da Ásia e do Pacífico encerraram os negócios desta segunda-feira em forte queda generalizada. Liderando as perdas na Ásia, o índice acionário japonês Nikkei sofreu um tombo de 5,07% hoje, a 19.698,76 pontos.

O mau humor em Tóquio veio também após revisão do Produto Interno Bruto (PIB) do Japão, que sofreu contração anualizada de 7,1% entre outubro e dezembro, maior do que a inicialmente estimada.

Na China continental, o Xangai Composto recuou 3,01% nesta segunda, a 2.943,29 pontos, e o menos abrangente Shenzhen Composto caiu 3,79%, a 1.842,66.

Também no fim de semana, dados oficiais mostraram que as exportações chinesas tiveram uma redução anual de 17,2% no primeiro bimestre do ano, um pouco maior do que o declínio de 17% previsto por analistas consultados pelo The Wall Street Journal.

As bolsas europeias fecharam em queda bastante acentuada desde a abertura do pregão desta segunda-feira. O índice pan-europeu Stoxx 600 recuou 7,44%, a 339 pontos, entrando em “bear market”, ao acumular perdas de mais de 20% desde que atingiu seu pico mais recente.

Política 

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender protestos de 15 de março e pede que população participe do ato, que, segundo ele, não é contra o Congresso ou Judiciário, segundo postagem do presidente no Twitter e Facebook sobre ato em Roraima no dia 7.

Vale destacar que o presidente brasileiro se reuniu no sábado com Donald Trump, presidente dos EUA. Interessados em intensificar a parceria econômica entre Brasil e Estados Unidos, os presidentes instruíram seus negociadores a aprofundar as discussões prévias à possível assinatura de um pacote bilateral de comércio. A informação foi confirmada pelo Ministério das Relações Exteriores. Segundo a pasta, a intenção é que um acordo seja assinado ainda neste ano.

Em nota divulgada na madrugada de hoje (8), o Itamaraty trata o aprofundamento da parceria como uma “aliança estratégica” entre os dois países. De acordo com o ministério, Trump reiterou o apoio norte-americano ao início do processo de entrada do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Hoje à tarde, Bolsonaro disse que o governo não vai aumentar impostos sobre combustíveis em meio à queda global do preço do petróleo, se referindo especificamente às Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (Cide).

“Não existe possibilidade do governo aumentar a Cide para manter os preços dos combustíveis. O barril do petróleo caiu, em média, 30% (US$ 35 o barril). A Petrobras continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias”, tuitou o presidente.

Relatório Focus

Os economistas do mercado financeiro reduziram as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020 de 2,17% para 1,99%, mostrou o Relatório Focus do Banco Central. Para 2021, a previsão foi mantida em 2,5%.

Já as expectativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) oscilaram de 3,19% para 3,2% para 2020 e ficaram estáveis em 3,75% para 2021.

A projeção para o dólar foi mantida em R$ 4,20 para 2020, mas foi elevada de R$ 4,15 para R$ 4,20 em 2021.

Por fim, a projeção para a taxa básica de juros Selic foi mantida em 4,25% para 2020, mas foi revisada para baixo de 5,75% para 5,5% para 2021.

Noticiário corporativo

A Eneva Energia (ENEV3) publicou uma carta na noite de ontem na CVM, na qual reafirmou seu desejo de realizar uma fusão com a AES Tietê (TIET11). Segundo a Eneva, a publicação foi feita porque a AES Tietê não se manifestou até agora.

Mas a empresa paulista respondeu ontem mesmo pela CVM, informando que seus assessores jurídicos e financeiros analisam a proposta. A AES Tietê também detalhou que a proposta será discutida em Assembleia no dia 13. Já a farmacêutica Hypera (HYPE3) publicou balanço na noite da sexta-feira e anunciou um lucro líquido de R$ 1,2 bilhão em 2019.

(Com Agência Estado, Agência Brasil e Bloomberg)

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.