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Ibovespa cai 2,23% e vai ao seu menor nível desde agosto, com PEC, Copom e Haddad; Dólar sobe 0,20%

Risco fiscal e sinalização das autoridades monetárias colocam ativos brasileiros na contramão do restante do mundo

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 2,23% nesta quinta-feira (8), aos 107.200 pontos – no pior nível desde o dia 5 de agosto, quando fechou a 106.472 pontos. O principal índice da Bolsa brasileira repercutiu, principalmente, o noticiário interno e se descolou da movimentação registrada pelos benchmarks americanos.

Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram, respectivamente, 0,55%, 0,75% e 1,13%, quebrando uma sequência de baixas.

Sobre Wall Street, em entrevista à CNBC, Quincy Krosby, estrategista-chefe global da LPL Financial, justificou que, nesses casos, “não é necessário muito para criar bases para pequenas altas”, com os índices, naturalmente, passando por correções após quedas consideráveis. O especialista também citou o fato de os pedidos de seguro desemprego na semana encerrada no dia três de dezembro terem vindo dentro do consenso, o que diminui os temores de uma economia muito aquecida por lá.

A primeira notícia local que puxou o Ibovespa para baixo foi o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgado na noite de ontem. Para analistas, apesar da manutenção da Selic em 13,75%, as autoridades da instituição foram sutis ao alertarem que o risco fiscal podem impactar as próximas decisões do grupo.

“O mais importante, além da manutenção da taxa em 13,75%, foi o tom dado pelo Banco Central, que expressou incerteza em relação ao futuro da política fiscal no Brasil, principalmente em relação à PEC da Transição, que eleva o teto de gastos”, comentou Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios. “A fala de Campos Neto, presidente do Banco Central, foi mais dura, porque há uma preocupação real e uma cautela maior em relação às consequências que este excesso dos gastos pode trazer para a macroeconomia”.

Ao mesmo tempo, o Senado aprovou, também ontem, sem muitas dificuldades, o texto da PEC da Transição, que amplia o teto de gastos em R$ 145 bilhões em 2023 e 2024.

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“Havia a expectativa, de parte do mercado, que a PEC passaria por uma desidratação já no Senado. Agora, especialistas esperam por mudanças na Câmara. Mas como a aprovação foi rápida, há o risco de ela passar como está, com mais gastos. Seguimos acompanhando”, expõe Luiz Souza, broker da SVN Investimentos.

O risco fiscal e a fala do Copom ajudaram a levar a curva de juros brasileira para cima no seu meio e na sua ponta longa. Os DIs para 2025 ganharam 4,5 pontos-base, a 13,08%, e os para 2027, 4,5 pontos, a 12,78%. Os DIs para 2029 foram a 12,84%, ganhando 10 pontos, e os para 2031 a 12,87%, com mais 11 pontos.

“Na minha visão, o que vemos é uma ausência de direcionadores positivos no mercado que possam levar a Bolsa para cima. Ontem tivemos a passagem da PEC no Senado e agora o texto segue para o Congresso. O gasto fora do teto continua sendo um fato que não agrada o mercado”. diz Apolo Duarte, head da mesa de renda variável da AVG Capital.

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Por fim, o dia foi de pouco volume e de cautela, no geral.

“O mercado está com pouco volume, por conta do jogo do Brasil de amanhã, e a queda de hoje está relacionada, principalmente, com o Copom de ontem, que alertou para déficits fiscais”, debate Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.  “Além disso, o Fernando Haddad hoje foi conversar com Paulo Guedes, sendo isso uma sinalização forte de que ele pode assumir a Fazenda”.

Lula fará anúncio de alguns ministros na próxima sexta de manhã, e a expectativa é de que Haddad esteja entre eles.

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Na ponta curta, porém, a curva de juros brasileira teve leve auxílio, por mais um dia, do recuo do preço do petróleo, com o preço do barril Brent caindo 1,11%, a US$ 76,31 – o que tira parte da pressão inflacionária. Os DIs para 2024 perderam 1,5 ponto-base, a 13,83%.

Os dados de varejo de outubro, em linha com o consenso, também ajudaram nesta frente.

“Tivemos um dado de varejo divulgado mais cedo, que veio em linha com o esperado, mas não ajuda o setor, que acumula queda forte. Temos os papéis de varejo e consumo engatando queda pesada hoje em meio à alta da curva de juros. Não adianta dados de varejo virem em linha se o setor está machucado e lá na frente a expectativa está ruim com possíveis novas altas de juros”, acrescentou Duarte.

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Entre as principais quedas do Ibovespa, ficaram as ações  ligadas ao cenário interno. As ordinárias da CVC (CVCB3) perderam 10,23% e as do GPA (PCAR3), 6,97%. As preferenciais da Azul (AZUL4) e da Gol (GOLL4) recuaram, respectivamente, 7,61% e 6,97%.

O dólar, por fim, fechou em alta de 0,20% frente ao real, a R$ 5,215 na compra e a R$ 5,216 na venda – mesmo com a moeda americana tendo perdido força internacionalmente.

Do lado positivo do Ibovespa, que ajudou a evitar uma queda maior do índice, ficaram as ações ordinárias da Vale (VALE3), com mais 1,23%. A movimentação se deu após uma nova alta do minério de ferro, de 4,11% no porto de Dalian, com perspectiva de diminuição das restrições impostas pela política de Covid zero.