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Ibovespa cai 0,55% e tem 11ª queda consecutiva, pior sequência desde 1984: entenda o motivo

Dados mais fracos na China pesaram em exportadores de commodities e foram combinados com temor de juros mais altos nos EUA

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 0,55% nesta terça-feira (15), aos 116.171 pontos, e, com isso, teve seu décimo primeiro pregão consecutivo de baixas, maior sequência desde desde a série de 11 perdas entre o final de janeiro e o começo de fevereiro de 1984. Apesar de a sequência chamar a atenção, ainda representa um declínio de menos de 5% e ocorre após alta de quase 20% nos quatro meses até o final de julho.

Mais uma vez, como vem acontecendo recentemente, o principal peso do índice veio de fora. Dados macroeconômicos publicado na véspera na China voltaram a frustrar. A alta anual da produção industrial de julho ficou em 3,4%, contra 4,4% do consenso, e as vendas do varejo no mesmo mês subiram 2,5% no ano, ante consenso de 4,5%.

“Dados divulgados ontem à noite da economia chinesa abaixo do esperado tanto de produção quanto de vendas decepcionaram e, em alguma medida, apontam para uma retração da atividade por lá. A China, sendo um grande motor da economia mundial e um dos principais países consumidores de diversos produtos e serviços mundo afora, tem forte peso. Então, com isso, a gente tem bolsas de hoje reagindo de forma negativa e de forma generalizada”, explica Leandro Petrokas, diretor de research da Quantzed.

“O mau humor vem, principalmente, dos mercados internacionais, da China. Nós tivemos aí o indicador de produção industrial bem fraco, bem abaixo do esperado”, menciona Leonardo Santana, analista da Top Gain.

O preço da tonelada de minério de ferro negociada na Bolsa de Dalian caiu 1,5%, a US$ 101,58. As ações ordinárias da Vale (VALE3) recuaram 1%, enquanto as da CSN (CSNA3) caíram 0,65%. As ações de outras companhias exportadoras de celulose e de produtos agrícolas também foram impactadas.

Fora a economia chinesa, lá fora, a americana também frustrou – mas ao avançar mais do que o esperado. As vendas de varejo nos Estados Unidos em julho subiram 0,7% na base mensal e 3,17% na anual, contra consensos de 0,4% e 1,5%.

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Uma economia mais aquecida, por lá, gera o temor de que o Federal Reserve possa ser obrigado a subir mais os juros. Os treasuries yields para dez anos ganharam 3,5 pontos-base, a 4,217%. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram, respectivamente, 1,02%, 1,16% e 1,14%.

Pesou também nos EUA o comentário de que a agência de classificação de risco Fitch pode rebaixar a nota de crédito dos bancos americanos.

“Nesse contexto de aversão ao risco, os agentes de mercado estão aguardando a divulgação da Ata do Fomc [Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês] amanhã, juntamente com os dados sobre produção industrial e construção de novas moradias nos Estados Unidos. Essas informações ajudarão a calibrar as novas apostas em relação à trajetória dos juros nos EUA”, expõe Diego Costa, head de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio.

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O especialista da B&T explica que a cautela no exterior pressionou o real, com o dólar ganhando 0,43% frente à moeda brasileira, a R$ 4,986 na compra e a R$ 4,987 na venda. A divisa norte-americana quase tocou os R$ 5 durante o pregão.

“No cenário doméstico, o dólar atingiu a cotação de R$ 4,9971, refletindo a cautela entre os investidores, sob influência dos movimentos nos preços da Petrobras e o risco de mudança nas perspectivas de inflação e também após um atrito político entre o ministro, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira. Existe a preocupação de que conflitos como esse possam atrapalhar o progresso de pautas fiscais na casa legislativa”, explica Costa.

Após Haddad falar sobre excesso de poder da Câmara dos Deputados, Lira se manifestou, afirmando que “manifestações enviesadas e descontextualizadas não contribuem no processo de diálogo”.

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Ainda no cenário interno, por fim, o fato de a Petrobras (PETR3;PETR4) ter anunciado um reajuste do preço dos combustíveis tirou pressão do Ibovespa, com as ações da estatal chegando a subir forte, mas colocou na curva de juros, que fechou em alta em toda a sua extensão. Os DIs para 2025 ganharam 4,5 pontos-base, a 10,01%, bem como os para 2027, que foram a 10,19%. As taxas dos contratos para 2029 e 2031 ganharam quatro pontos ambas, a 10,72% e 11,04%. Por outro lado, os ativos da estatal fecharam praticamente estáveis. 

Entre as maiores quedas do Ibovespa, ficaram as ações das aéreas, Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), muito impactadas pelo preço de combustíveis e alta do dólar, e várias ligadas ao mercado interno, por conta dos juros.