IBC-Br acima do esperado aponta para PIB maior em 2022, mas não esconde desafios da economia

BofA revisou projeção do PIB de 2022 para cima após indicador de junho; outras casas também veem viés de alta para o crescimento econômico no ano

Mitchel Diniz

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Conhecido vulgarmente como “prévia do PIB”, o IBC-Br, índice de atividade econômica do Banco Central, superou a expectativa dos economistas. Depois de recuar nos meses de abril (-0,52%) e maio (-0,26%), o indicador de junho registrou alta de 0,69% na comparação mensal. A média projetada pelo mercado apontava para um avanço mais moderado, de 0,25%. Em relação a junho do ano passado, o IBC-Br avançou 3,09%.

“Por conta das revisões sistemáticas, é prudente ter cautela na leitura dos dados e, nesse sentido, mesmo com a revisão para baixo no IBC-Br de maio, o avanço em junho parece ter mais que compensado”, afirma economista-chefe da Ryo Asset.

Entre abril e junho deste ano, o indicador acumulou alta de 3% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em relação ao primeiro trimestre de 2022, houve uma desaceleração: a alta foi de 0,6%, ante 1,12% nos três primeiros meses do ano. O IBC-Br também deixa uma herança estatística (carrego) de 0,4% para o terceiro trimestre do ano.

O dado de junho mostrou que a alta mensal no setor de serviços (+0,7%) foi capaz de compensar quedas nas vendas do varejo (-1,4%) e no setor industrial (0,4%). “O IBC-Br tem um correspondência histórica relativamente alta com o PIB divulgado pelo IBGE. Portanto, o dado corrobora a projeção do mercado de crescimento robusto para o PIB do segundo trimestre de 2022, puxado especialmente pelo avanço do setor de serviços”, explica Laura Moraes, economista da Neo Investimentos.

Algumas casas revisaram suas projeções sobre o desempenho da economia após o indicador. O BofA agora acredita que o PIB brasileiro deve avançar 2,5% em 2022. A previsão anterior apontava para um crescimento de 1,5%. “Os indicadores de confiança mostram um cenário pior, mas no consumo e serviços continuam apresentando expectativas melhores. No entanto, esperamos um segundo semestre mais desafiador, quando a economia deve sentir o impacto negativo da política monetária”, escreveu David Beker, estrategista para América Latina.

O Bofa acredita que o ciclo de aperto monetário deve terminar com a Selic como está hoje, em 13,75%. Os efeitos dos juros mais altos devem ser sentidos com mais suavidade, na visão do banco, por conta da extensão de benefícios sociais, como o Auxílio Brasil, e cortes recentes nos impostos sobre combustíveis. “Os riscos fiscais e inflacionários foram postergados para o ano que vem e prevemos que o segundo semestre deve ter uma desaceleração mais moderada do que a prevista inicialmente”, conclui a análise de Beker.

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A XP projeta crescimento de 2,2% para a economia em 2022, com viés de alta. Atualmente, o Tracker XP para o PIB do segundo trimestre aponta alta de 1% no período, comparando com os três primeiros meses do ano, e de 2,9% na base anual. Para o IBC-Br de julho, a XP prevê alta de 0,3% em relação a junho.

tracker da Kínitro Capital, gestora de recursos independente, indica crescimento de 0,8% para o PIB do segundo trimestre e de 2,7% para o de 2022. A projeção para o PIB de 2023, por sua vez,  está em alta de 0,5%.

“A recuperação do setor de serviços e, principalmente, do mercado de trabalho, se somam às medidas do governo para dar sustentação ao sólido crescimento do PIB esse ano. No entanto, seguimos com a nossa avaliação de que esse momento favorável do crescimento será desafiado ao longo dos próximos trimestres, por conta da desaceleração da economia global, do impacto do aperto monetário e da dissipação dessas medidas fiscais”, avalia João Savignon, economista da Kínitro.

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Alberto Ramos, do Goldman Sachs, acredita que setores que ainda estavam impactados pelas companhias, em especial o de serviços, devem continuar se recuperando nos próximos meses com o apoio dos estímulos fiscais. “Os cortes em impostos sobre combustíveis e gás, somados aos generosos pacotes de benefícios devem adicionar aproximadamente 0,7% ao PIN durante o segundo semestre de 2022”, calcula. No entanto, Ramos diz que há ventos contrários no segundo semestre, como a inflação ainda elevada, o nível de endividamento das famílias, a desaceleração da economia global e incertezas quando ao resultado das eleições.

“Mais para frente, no primeiro semestre de 2023, a economia deve sentir os efeitos da política monetária muito restrita, assim como o fim dos estímulos fiscais adotados em 2022. Contudo, vemos um risco significativo de que muitos desses estímulos serão estendidos no ano que vem”, conclui a análise do Goldman.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados