Hidrovias do Brasil (HBSA3) diz que 4º tri de 2021 foi “o mais desafiador da história”, mas ação fecha com salto de 13% após balanço

Analistas destacam que companhia teve resultados resilientes, apesar de problemas no Corredor Sul

Augusto Diniz

Hidrovias do Brasil (Foto: Divulgação)
Hidrovias do Brasil (Foto: Divulgação)

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A Hidrovias do Brasil (HBSA3) sofreu no último trimestre do ano passado com a impossibilidade de navegação por quase dois meses e meio no chamado Corredor Sul. O rio Ladário (na bacia do rio Paraguai), por onde trafegam suas embarcações, no período, o nível de vazão ficou próximo das mínimas históricas observadas nos últimos 121 anos.

Fabio Schettin, CEO da empresa, destacou a analistas de mercado, nesta quinta (24), durante a apresentação dos resultados da empresa em 2021, que o 4T21 foi “o mais desafiador que tivemos desde a criação da empresa” por conta do problema ocorrido no Corredor.

O executivo disse, contudo, que os ativos da empresa ainda conseguiram operar por dois meses a mais do que a concorrência no Corredor Sul. Ele explicou que a aquisição da Imperial Logistics, realizada em abril de 2021, agregou ativos com maior flexibilidade e menor calado, permitindo que a companhia navegasse por mais tempo, mesmo com a vazão baixa dos rios da região.

Ressalta-se que o Corredor Sul faz o transporte do minério de ferro da Vale (VALE3), extraído em Corumbá (MS), em contrato com a Hidrovias do Brasil.

Segundo o executivo, o resultado ruim neste setor foi compensado com melhor desempenho no chamado Corredor Norte, por onde trafegam as embarcações da empresa nos rios da região Norte do país.

Ele disse ainda que as chuvas mais intensas em 2022, notadamente no Corredor Sul, tem favorecido a navegação, “mas aquém das médias históricas”.

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De acordo com o executivo, “há sinalização no Pantanal de melhor vazão esse ano na bacia do rio Paraguai”. Mas informou que em 2022 será de recuperação de calado na região. “Somente em 2023 retornaremos à normalidade”, afirmou.

As ações HBSA3, por sinal, registram um forte desempenho na sessão desta quinta após balanço, disparando 13,49%, a R$ 3,28.

O Credit Suisse apontou que a companhia teve resultado resiliente após a “tempestade perfeita”, com o Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] ajustado consolidado, de R$ 87,6 milhões, superando em 6% suas expectativas, enquanto o prejuízo líquido R$ 187 milhões ficou pior que sua projeção, de dado negativo de R$ 39 milhões.

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O Itaú BBA comentou que os bons resultados no Corredor Norte foram mais do que compensados ​​pelos desafios de navegação no Corredor Sul. Mas, olhando para o futuro, analistas do banco esperam que a empresa se beneficie de uma normalização das condições.

Apesar das dificuldades em 2021, empresa mantém guidance

Além do impacto negativo no Corredor Sul por conta da dificuldade na navegação, a Hidrovias do Brasil enfrentou ano passado quebra da safrinha de milho, refletindo nos volumes de exportação desse grão pelo Corredor Norte.

Para 2022, no entanto, a empresa tem perspectivas melhores para os corredores Norte e Sul, com safra de soja “pujante” no estado do Mato Grosso, já colhida, e no Corredor Sul, com cenário de recomposição do calado dos rios nos seus principais pontos críticos, para níveis mais próximos das zonas de normalidade.

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Segundo a empresa, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem acelerado a demanda por milho no Brasil de países que buscavam o grão na Ucrânia – a Ucrânia é o quarto maior exportador de milho do mundo. Por conta da demanda maior, seus slots no terminal privado de Vila Conde (PA) para embarque do grão em navios para exportação estão mais ocupados ao longo do ano.

Em meio às dificuldades enfrentadas no Corredor Sul, Schettin disse que está mantida o guidance definida ano passado. “Continuamos confiantes em relação ao atingimento do nosso guidance de médio prazo, que contempla um Ebitda ajustado consolidado de R$ 1,3 a 1,5 bilhão em 2025, com grande potencial de geração de caixa conforme as operações vão se tornando mais maduras, dando seguimento ao processo de desalavancagem financeira da companhia”.

Retomada da atividade no porto de Santos no segundo semestre

A Hidrovias do Brasil informou também a analistas de mercado que o seu projeto no porto de Santos, que consiste no arrendamento por 25 anos de um terminal para movimentação e armazenagem de granéis sólidos, finaliza no segundo semestre.

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A operação foi iniciada parcialmente em 2020, ao mesmo tempo em que se iniciou o processo de reforma e adequação do terminal, previstos no edital do leilão.

A reforma foi acelerada durante 2021 e, por esse motivo, o terminal ficou sem operação durante o segundo semestre do ano passado, devendo retomar suas atividades em meados de 2022, esclareceu a Hidrovias do Brasil.

Com relação ao projeto Sal, que consiste em contrato para transbordo e transporte de sal no Nordeste, a companhia tem tratado de trâmites
regulatórios para início desta operação, que tem ainda uma demanda judicial para que consiga as autorizações necessárias para seguir com o projeto.

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O projeto consiste em um ativo que funciona como “porto flutuante”, para escoamento da produção de sal.

Não há motivos de preocupação com a concessão da BR-163

Vital para o escoamento da produção de grãos do Mato Grosso pelo Corredor Norte da Hidrovias do Brasil, a concessão da BR-163 MT/PA não preocupa o CEO da empresa.

Ele não vê “nenhum motivo para questionamento com base no tipo de interação que tem sido feita (com a concessionária)” pela companhia.

O Consórcio Via Brasil BR-163, liderado pela Conasa, venceu leilão de concessão por 10 anos (prorrogáveis por mais 2 anos) da BR-163, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), onde a Hidrovias do Brasil mantém uma Estação de Transbordo de Cargas, onde recepciona caminhões que percorrem o trecho rodoviário para descarregamento de carga em barcaças da Hidrovias do Brasil, que a transporta até os navios em Vila Conde, para exportação.

“Empresa com profissionais engajados. Eles têm preventivamente buscado os players do Norte para interagir”, disse, contrapondo a opiniões contrárias sobre a saúde financeira do consórcio Via Brasil BR-163 para realizar as intervenções previstas no contrato de concessão, que envolve ainda outros trechos rodoviários, compreendendo um total de 1.009 km de extensão do sistema de estradas concedido.

“Parecem qualificados. Receberam, segundo a gente sabe, um aporte de um fundo. Estão capitalizados. Existe um jogo de interesses dos dois lados. Esse movimento é típico pra criar dificuldade, mas não vejo nenhum fundamento”, afirmou Schettin.

Perspectivas dos analistas

Em relação ao que esperar para 2022, o Credit Suisse aponta que o desempenho da Hidrovias deve melhorar este ano sem os impactos não recorrentes do ano passado. As colheitas de soja e milho devem ser fortes no Mato Grosso este ano, conforme indicado pela afirmação da empresa de que negociou quase toda a sua capacidade na Operação Norte para o primeiro semestre de 2022.

A Hidrovias também divulgou que vai começar a operar com comboios de 35 barcaças na Operação Norte este ano, o que vai gerar eficiência operacional com menos viagens e menor consumo de combustível. A Operação Sul ainda será impactada por um nível de calado do rio abaixo do normal, embora os impactos devam ser menores do que em 2021.

O banco suíço mantém recomendação outperform para o papel, e preço-alvo de R$ 5, um potencial de alta de 73% frente a cotação de quarta-feira (23). O Itaú BBA também tem outperform para o papel, com preço-alvo de R$ 10 (ou um upside de 246%).

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