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Hapvida (HAPV3) sobe após perder R$ 3,5 bi com investigação do MP; sell-off foi exagerado?

Analistas veem que há muito barulho, apesar de verem marca afetada

Felipe Moreira Lara Rizério

Projeto de hospital da Hapvida (Divulgação)
Projeto de hospital da Hapvida (Divulgação)

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As ações da Hapvida (HAPV3) fecharam com ganhos de 3,96%, a R$ 3,94, na sessão desta terça-feira (23). O movimento ocorre após o ativo HAPV3 registrar queda de 12%, com a companhia perdendo R$ 3,5 bilhões em valor de mercado em três sessões (ou seja, desde o pregão da última quinta-feira até a véspera), após notícia do jornal O Estado de S. Paulo destacar que a empresa é acusada de descumprir sistematicamente decisões judiciais favoráveis aos seus beneficiários, com o Ministério Público de São Paulo iniciando uma investigação sobre o caso.

Em nota, a operadora de plano de saúde disse que “não possui qualquer política ou diretriz para o descumprimento sistemático ou ordenado de decisões judiciais” e afirmou que avaliará se existem quaisquer medidas a serem reportadas ou adotadas a respeito.

Analistas do mercado citam as notícias como negativas, uma vez que podem afetar a reputação da empresa e levantar preocupações do mercado sobre adições líquidas de novos beneficiários e margens de lucro. Ainda assim, a queda da ação nos últimos três pregões (ante baixa de 1,5% do Ibovespa no mesmo período) pareceu excessiva para a maior parte deles, que reiteraram recomendação de compra para os ativos HAPV3.

O JPMorgan comenta que a “judicialização” da saúde privada tem sido um tema recorrente na indústria, enquanto a Justiça tende a geralmente decidir a favor dos beneficiários dada a urgência usual dos casos. Nesse contexto, o banco destaca que tem observado um maior número de processos por mil beneficiários entre os principais operadores no Estado de São Paulo, bem como reclamações na agência de saúde privada (ANS). Ainda assim, os números mostram que a Hapvida foi a que apresentou o maior aumento.

Os analistas do JPMorgan acreditam que as notícias sobre esse tema provavelmente continuarão sendo um tópico quente de curto prazo em artigos da imprensa, dada a natureza sensível do caso. Assim, até que as investigações sejam resolvidas, eles esperam que isso continuará gerando ruídos para a empresa do ponto de vista ESG, enquanto levanta algumas questões sobre a sustentabilidade da história de recuperação do índice de sinistralidade (MLR).

Por outro lado, na visão do banco, é improvável que isso altere a trajetória de melhoria do MLR, uma vez que o número de casos relatados que não estão sendo abordados pela empresa provavelmente não terá um impacto financeiro significativo, dada o porte dela.

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Os relatos negativos da imprensa, por sua vez, provavelmente causarão algum dano à marca da empresa e potencialmente afetarão o ritmo esperado de recuperação das adições líquidas no 2º semestre de 2024, enquanto potencialmente impulsionam uma renegociação de contratos com uma taxa de churn (cancelamento) mais alta do que o esperado na região Sudeste do país – operações legadas da Notre Dame Intermedica (NDI).

Ao analisar o balanço da empresa, o montante de provisões relacionadas a possíveis questões civis era de R$ 488 milhões até o 3º trimestre de 2023 ( cerca de 2% do valor de mercado), enquanto o valor sob “possível risco de perda” (portanto, não provisionado) é de R$ 1,8 bilhão.

Também para Rafael Barros e Raphael Elage, analistas do setor de saúde da XP, a queda parece como incompatível com a perda potencial e, portanto, reitera a recomendação de compra para a ação em meio a essa desvalorização.

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O Bradesco BBI é outra casa que vê a queda recente como exagerada e cita quatro pontos. Em primeiro lugar, os analistas acreditam que o descumprimento das liminares pela Hapvida não se deve à existência de uma política ou diretriz , mas possíveis complicações. Outros grandes players também não cumprem integralmente as liminares, segundo apurou o Estadão. Caso não consiga reverter o processo, o risco é ter que assinar um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para garantir que a empresa não repetirá as irregularidades e poderá pagar multa.

Em segundo lugar, as contingências da Hapvida relacionadas à cobertura de assistência médica e carência não provisionadas no 3T23 foram de 0,6% do seu valor de mercado.

Além disso, as reclamações judiciais são uma questão setorial, aumentaram em todos os níveis, provavelmente devido às recentes mudanças regulatórias, e, de acordo com a Hapvida, a maioria das reclamações são questionadas pelas empresas, pois envolvem em alguns casos fraudes e solicitações não cobertas contratualmente. Por fim, os indicadores de qualidade global (IDSS) do Hapvida e da NotreDame Intermédica (NDI) estão acima da média do setor.

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Para o Citi, embora concorde que a fraqueza do mercado também possa ser parcialmente culpada pelo desempenho da Hapvida, com as ações agora sendo negociadas a 10,9 vezes o preço sobre lucro (P/L) de 2025, vê a solução risco-recompensa como altamente distorcida para cima.

O Citi tem recomendação de compra para as ações HAPV3 com preço-alvo de R$ 6, ou potencial de alta de 58%. O JPMorgan tem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado, equivalente à compra), com target de R$ 6,50 (upside de 71,5%). O BBI tem também recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, também equivalente à compra), mas com o preço-alvo um pouco menor, de R$ 5,50 (upside de 45%), enquanto a XP tem meta de preço de R$ 5,70 para HAPV3 (upside de 50%).