Há aumento das tensões comerciais entre China, Europa e Estados Unidos, diz analista

O Brasil pode se favorecer caso a disputa se torne mais acirrada, baseado no que aconteceu no passado recente

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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Samuel Isaak lembra bem o que ocorreu quando Donald Trump era ainda presidente. Os Estados Unidos iniciaram aumento de tarifas de produtos importados da China, e o país do oriente retaliou de forma análoga.

Na ocasião, o impacto maior foi na cadeia do agronegócio. “Naquela época, os preços da soja no Brasil valeram 30% a mais”, recorda. Apesar de um acordo entre os países em 2020, a guerra comercial, no fundo, nunca terminou.

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Retaliação da China

Isaak, analista de commodities do research da XP, participou do programa Morning Call da XP nesta quinta (27) e disse que tem visto um aumento das tensões comerciais entre a China, União Europeia e Estados Unidos.

“Recentemente, a gente viu tarifas que a União Europeia impôs à importação de veículo elétrico chinês”, disse. O anúncio feito pelos europeus chegou um mês depois de os Estados Unidos aumentarem as tarifas de importação do veículo elétrico chinês em 100%.

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“Uma das formas de retaliação dos chineses foi a investigações à importação de carne suína da Europa para a China”, destaca. “O que a gente está vendo de fato é um aumento das tensões comerciais globais”, afirma.

Interferência das eleições nos EUA

O analista explica que as eleições nos Estados Unidos entre o atual presidente, Joe Biden, e Trump joga um ingrediente a mais ao tema. Com o ex-presidente liderando as pesquisas, o risco de novas restrições é mais real.

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Mas a China, avalia o analista, deve esperar o resultado do pleito nos EUA para tomar alguma decisão, inclusive porque é improvável de os chineses criarem retaliações simultâneas contra os americanos e a União Europeia – este último, como já dito, os chineses abriram investigação antidumping em relação à importação da carne suína.

“Nosso cenário base ainda não é de guerra comercial. A gente precisa ver o que vai acontecer, mas a tensão comercial está clara”, disse o analista da XP, que soltou um relatório recente sobre a questão.

Brasil beneficiado

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No entanto, essa tensão deve beneficiar o Brasil, como ocorreu com a soja em 2019, com impacto muito mais amplo, envolvendo outras commodities.  

“A China busca autossuficiência para commodities agrícola, e objetiva conseguir produzir internamente 92% dos grãos que consome. Mas está longe de atingir isso, e depende ainda muito de importações”, comentou.

“Depois da última guerra comercial, a China passou a depender muito mais do Brasil do que em 2019. A guerra comercial fez com a China expandisse a origem de produtos para o país. Ela hoje compra mais produtos do Brasil”, ressaltou. Por isso, uma nova guerra comercial entre as principais potências econômicas pode ser ainda mais positiva para o Brasil.