Há 13 anos, bolha da internet começava a explodir nos EUA; veja como foi

No dia 10 de março de 2000, Nasdaq chegou a registrar patamar de 5.132 pontos, que nunca mais foi alcançado, em meio à euforia com empresas de internet; atualmente, índice está em 3.240 pontos

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Há 13 anos, não estávamos nem perto de chegar ao desenvolvimento tecnológico observado atualmente. As redes sociais sequer engatinhavam, poucos tinham internet banda larga. Entretanto, as perspectivas para o setor de tecnologia eram extremamente positivas, principalmente nos Estados Unidos, o que levou diversos investidores a fazerem aportes extremamente altos em empresas do setor.

As revistas de negócio especializado abordavam excessivamente o bom investimento nas “empresas ponto com”, que vinham recebendo cada vez mais capital com a promessa de inauguração da Nova Economia, que teria como principais características ser anticíclica e de crescimento sem limites.

O clímax – e a posterior queda – deste período se deu no dia 10 de março de 2000, quando o índice Nasdaq – a bolsa eletrônica dos EUA – chegou a 5.132,52 pontos, sua máxima histórica. A título de comparação, mesmo com o rali observado no último ano, o Nasdaq está no patamar dos 3.240 pontos, bem longe do observado no começo dos anos 2000. Retirando os efeitos da inflação, este valor é cerca de 53% abaixo de antes da bolha. 

A formação da bolha das empresas de informática se deu entre os anos de 1995 e 2000. Ao longo de mais de cinco anos, as bolsas de valores dos países industrializados tiveram como principal destaque a forte alta dos preços de ações de companhias deste setor. Entretanto, em março dos anos 2000, o “sonho” acabou.

O crescimento da bolha
Com a alta confiança do mercado nas empresas do setor frente aos lucros futuros e com o alto valor de caítal disponível, muitos investidores passaram a apostar nas “ponto com” sem levar em conta os métodos tradicionais de avaliação dos ativos.

Soma-se a isso a baixa taxa de juros, que incentivou muitos empresários com projetos promissores a venderem as suas ideias para investidores, em meio à febre das “ponto com”, apesar de serem despreparados.

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Algumas das companhias chegaram mesmo a oferecer seus serviços inicialmente de forma gratuita para reconhecimento da marca, que seriam cobrados posteriormente. As ofertas públicas iniciais de ações serviam como fonte de capital para as empresas, em um momento em que elas ainda não eram capazes de gerar renda. Em meio às dificuldades de avaliação das empresas, muitas ações tiveram valorizações extremamente altas e inconsistentes. Com isso, em apenas seis meses, o índice Nasdaq registrou alta de 83%. 

Bolha estoura: quais motivos?
Contudo, em meio ao cenário positivo para as empresas, como a bolha estourou? De acordo com muitos especialistas de mercado, a corrupção corporativa foi um dos principais motivos para o acidente ocorrer, uma vez que muitas empresas envolveram-se em fraudes, com falhas graves e dívidas “maquiadas” no balanço. 

Este cenário ficou evidenciado em meio ao aumento constante da taxa de juros pelo Federal Reserve entre 1999 e o início de 2000, com seis elevações seguidas em meio às preocupações com a inflação nacional, resultando em uma desaceleração econômica. 

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Entretanto, conforme ressaltaram alguns especialistas de mercado, mesmo que o Federal Reserve não tivesse apertado as condições monetárias, a bolha iria estourar mais cedo ou mais tarde. Isto em meio aos conflitos dentro do próprio setor tecnológico. Gigantes como a Microsoft, por exemplo, eram obrigados a competir tanto no mercado de trabalho quanto no de capitais com empresas que dependiam de crédito fácil para ter acesso aos fatores de produção.

Entre outros fatores apontados para o estouro da bolha, estiveram ainda os altos gastos para a transição para a virada do milênio: uma vez que as empresas já possuiam os equipamentos necessários, elas pararam de gastar com eles. Por fim, tiveram também os maus resultados das varejistas online na temporada de Natal de 1999 e que foram divulgados somente em março, apontando que muitos cases não eram tão atrativos quanto mostrados inicialmente. 

Assim, após fechar a 5.048,62 pontos no dia 10 de março, a bolsa eletrônica não parou mais de cair, mesmo que aos poucos. Naquela sessão, ela registrou queda de 4% e, desde então, chegou a perder 75% do valor até o final de 2000. E até o momento não se recuperou. 

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As vendas iniciais maciças de lotes processadas na segunda-feira, 13 de março, para as ações de grandes companhias do setor, levaram a uma reação de venda dos papéis de empresas de tecnologia. Com isso, em seis dias, a Nasdaq registrou baixa de 9%. 

Mercado nunca voltou a ser o mesmo
Em meio à volta à realidade dos investidores com o setor tecnológico, o Nasdaq não voltou às mesmas condições, mesmo após os onze cortes sucessivos nas taxas de juros pelo Federal Reserve em 2001. Com os cortes, o consumo permaneceu forte, mesmo com a queda do investimento empresarial. Entretanto, os consumidores ainda enfrentavam um cenário de dívida bastante alta, além de haver registros de falência cada vez mais numerosos. 

Contribuindo para o cenário cauteloso, esteve o trágico atentado terrorista de 11 de setembro de 2001, que levou a um choque inesperado e desagradável para a economia norte-americana. Contudo, a economia já havia entrado em um período de baixa entre o final de 2000 e o início de 2001.

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A maior parte das companhias que emergiram com a “bolha ponto com” interromperam suas atividades, sendo que muitas delas nem chegaram a conhecer lucro. Cerca de um quinto das empresas que abriram capital em 1999 já não existiam mais no fim de 2000.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.