Guerra no Iraque: como o conflito bélico afeta seus investimentos

De forma geral, preço dos ativos já reflete guerra; maior risco é um conflito mais longo ou mais sangrento que o esperado

Equipe InfoMoney

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SÃO PAULO – Embora o Brasil não tenha nenhuma participação direta no conflito iniciado nesta quarta-feira no Iraque, a ofensiva liderada pelos norte-americanos contra o regime de Sadam Hussein já afeta o bolso dos brasileiros. Além dos efeitos diretos, via flutuação do preço do petróleo, o conflito aumenta o conservadorismo dos investidores estrangeiros, reduzindo o volume de recursos destinados também ao Brasil.

Como o conflito já era esperado pelo mercado, dado que os EUA tentaram diversas formas de convencer o Conselho de Segurança da ONU e o resto do mundo da “necessidade” da guerra, os investidores passaram a agir na certeza da intervenção militar antes mesmo do início das hostilidades, de forma que os preços dos ativos, como dólar, bolsa e juros já incorporam o risco adicional criado pela invasão do Iraque.

Mercado espera guerra rápida

Um ponto importante é que as expectativas do mercado são de que a guerra seja de curta duração, com vitória dos EUA e deposição de Sadam Hussein. Assim, se isso ocorrer, existe a probabilidade do mercado melhorar, já que o risco geopolítico mundial seria reduzido.

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Caso isso não aconteça, com uma improvável vitória do Iraque ou com um conflito mais longo, a tendência do mercado é de ajuste, uma vez que o certo “otimismo” registrado nos últimos dias deve desaparecer. Neste caso, podemos esperar um ajuste desfavorável nas cotações dos principais ativos financeiros.

Dólar

Podemos tentar isolar dois principais fatores que afetam a cotação do dólar: perspectivas de inflação no Brasil e risco, incluindo aí o risco geopolítico, trazido pelo conflito no Oriente Médio. Caso a guerra seja rápida e os EUA sejam bem sucedidos em derrubar o regime de Sadam Hussein, a perspectiva é de que a cotação do dólar recue.

A intensidade deste recuo, no entanto, vai depender muito mais do comportamento dos índices de inflação, já que, se a tendência de menores reajustes de preços registrados nas últimas semanas continuar, a cotação do dólar deve ceder mais rápido.

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Já no caso de uma guerra longa, a pressão puxando para cima a cotação da moeda norte-americana deve aumentar, de forma a refletir o cenário mais arriscado. Com isso, o real deve perder espaço e a inflação pode ganhar novo fôlego, principalmente porque o preço do petróleo deve voltar a subir.

Renda Fixa

O comportamento das taxas de juros no Brasil também tem forte relação com o risco e a inflação, embora as perspectivas de reajuste de preços ganhem uma importância ainda maior do que no caso do dólar. Neste contexto, as mudanças nas taxas de juros devem seguir mais de perto o desempenho da inflação, embora uma forte deterioração da situação no Golfo quase que certamente deva levar a um novo aumento na Selic.

De fato, a decisão do Copom de incluir um viés de alta na decisão sobre a taxa básica da economia brasileira nesta quarta-feira reflete a visão do Banco Central de que os juros podem sofrer nova elevação no caso do conflito no Iraque seja de longa duração. Caso isso ocorra, o efeito sobre os investidores em fundos DI será limitado, enquanto aqueles com aplicações em renda fixa pré-fixada podem sofrer perdas maiores.

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Bolsa

O mercado acionário brasileiro tem mostrado uma importante recuperação nos últimos dias, recompondo parte das significativas perdas registradas desde meados do ano passado. Mesmo assim, o mercado, medido pelo índice Bovespa, ainda se encontra cerca de 2% abaixo do nível registrado no final do ano passado.

A título de comparação, a cotação do C-Bond subiu 17%, o dólar comercial caiu 2,75% e os juros futuros mostraram queda no mesmo período, evidenciando a melhora nas perspectivas após as primeiras medidas econômicas adotadas pelo governo Lula.

Assim, a perspectiva é que a bolsa siga em alta, a não ser que o cenário no Oriente Médio seja muito pior do que foi antecipado inicialmente pelo mercado. Como um dos fatores que tem permitido a recuperação da Bovespa é o maior ingresso de capital estrangeiro, uma deterioração da situação geopolítica mundial pode reduzir e mesmo interromper este fluxo, refletindo nas ações brasileiras.

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Mercado deve seguir com alta volatilidade

Neste cenário de guerra, uma coisa é certa: o mercado deve mostrar muitas flutuações nos próximos dias, refletindo as boas e más notícias no conflito bélico. Mesmo fatores que individualmente têm pouca relevância, como a deserção de um pequeno grupo de soldados iraquianos, podem afetar o mercado.

Assim, a dica mais importante para uma estratégia de investimento bem sucedida neste momento é manter o sangue frio e evitar pânico nos piores momentos, que certamente virão, e euforia quando as coisas parecerem estar resolvidas.