Guedes diz que teto de gastos ‘foi mal construído’ para justificar rompimento e defende crescimento em 2022

Ministro falou em evento da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em Campinas (SP) nessa terça-feira

Estadão Conteúdo

O ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto por Andressa Anholete/Getty Images)
O ministro da Economia, Paulo Guedes (Foto por Andressa Anholete/Getty Images)

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Depois de o “pai” do teto de gastos, o ex-ministro Henrique Meirelles, anunciar apoio à candidatura à Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez críticas nesta terça-feira (20) à âncora fiscal e justificou os sucessivos rompimentos do teto ao longo do governo Jair Bolsonaro (PL) com uma suposta construção mal feita da norma.

“O teto tinha sido mal construído, porque o teto é para impedir que o governo cresça. Nós não estávamos crescendo”, justificou o ministro ao lembrar das alterações na lei para repassar, em 2019, os recursos do excedente da cessão onerosa. Em seguida, Guedes citou as alterações no teto para criar o auxílio emergencial em 2020, no início da pandemia de covid-19. “Alguém acha que conseguiríamos sobreviver sem ter feito o auxílio emergencial?”, questionou, durante convenção da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) em Campinas (SP). “Estávamos permitindo que a população brasileira sobrevivesse”.

Candidato à reeleição, Bolsonaro já anunciou que pretende discutir mudanças no teto de gastos se vencer nas urnas. Lula já prometeu abolir a norma, embora o mercado financeiro tenha nutrido esperanças de uma política fiscal responsável em eventual governo petista com o apoio anunciado ao PT ontem pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Ao longo da exposição, Guedes ressaltou que o país deve ter quase R$ 100 bilhões de investimentos anuais garantidos nos próximos 10 anos e citou iniciativas de privatização como a do Porto de Santos.

“Terminamos de modelar a privatização do Porto de Santos e nosso pipeline (plano) acaba de atingir R$ 179 bilhões de outorga, ou seja, pagamento de bônus, de assinatura. Temos R$ 907 bilhões para os próximos 10 anos”, disse Guedes. Em suas contas, o montante representa “quase R$ 100 bilhões por ano de investimentos garantidos para os próximos 10 anos”.

O ministro aproveitou para comparar a situação econômica do país com a de outras economias e disse que o Brasil enfrentou “guerras da Ucrânia e sanitária sem transferir custos”. “Os Estados Unidos vivem processo de estagflação e vão ter muita dificuldade de sair”, afirmou. Ele disse ainda ter avisado que o país americano passaria o ano revendo sua taxa de crescimento para baixo e a do Brasil para cima.

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Além disso, para ele, dado a situação da economia europeia e a insegurança geopolítica da região, o

Brasil se torna um bom destino para investimentos. “Rússia está próxima, mas é país hostil à Europa; Brasil é porto seguro de investimentos”, afirmou.

No início, Guedes elogiou o setor de supermercados por ter sido “fundamental” para manter o abastecimento durante a pandemia e comemorou a situação da economia brasileira. “É muito importante vocês não se perderem nas narrativas políticas”, declarou, a doze dias das eleições.

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Guedes defende crescimento da economia

Ele também destacou que a economia brasileira está crescendo 2,6% neste ano. “E sabemos que vamos crescer até o fim do ano”, complementou. Em outro momento, afirmou que o país cresce 3%, “com investimentos”. Dentre suas projeções para o restante do ano, ele disse que a taxa de desemprego deve cair até 8%.

“Vamos ter superávit apesar da redução dos impostos. Somos liberal-democratas”, afirmou. Ele defendeu ainda que a inflação no Brasil já começou a cair e que o país já começou a crescer.

Em sua visão, no atual governo, conforme a arrecadação aumenta, isso é transferido em poder de compra aos consumidores, por meio da redução de impostos

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“Então, não desanimem, o período mais difícil já ficou para trás, nós somos de geração que venceu a maior guerra humanitária, sanitária que aconteceu nesse século, na verdade nos últimos 100 anos, sem aumentar a relação dívida/PIB”, disse

O ministro defendeu ainda que a massa salarial dos trabalhadores tem subido e que 100 milhões de brasileiros estão trabalhando atualmente. “Teremos superávit pela primeira vez nos três níveis de governo em 2022”, disse.

Para 2023, o ministro espera que o “freio da política monetária deixe de existir”.

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“No ano que vem, teremos dois componentes positivos de crescimento, investimento e reaceleração cíclica, mesmo com freio de mão puxado, que é a política monetária deste ano”, acrescentou.

Depois de criticar o Banco Central pelos alertas sobre a situação fiscal brasileira, Guedes reviu a posição e, hoje, afirmou que a autoridade monetária “trabalhou certo” ao longo da crise econômica. “O Banco Central trabalhou certo, acordou antes de todos os bancos centrais do mundo. Foi o primeiro a se mover, já estamos com juros relativamente fortes e altos, estamos travando a inflação”, declarou no evento. “Os juros do Banco Central estão altos exatamente para combate à inflação”, seguiu, um dia antes da decisão de política monetária da instituição.

O ministro pediu ao público que não se deixe levar por “narrativas políticas” que supostamente estariam contra o governo. “Estamos em direção a uma economia de mercado de consumo de massa”, afirmou. Ele reiterou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai devolver de R$ 80 bilhões a R$ 90 bilhões ao governo, o que o ministro chamou de “despedalada final”.