Guararapes e C&A vencem clima adverso, mas por que GUAR3 saltou e CEAB3 desabou?

CVC, assim como C&A, esteve no rol de empresas que mostraram melhora nos balanços, mas queda das ações

Lara Rizério

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Três resultados considerados positivos, mas trazendo impactos diferentes para as ações. C&A (CEAB3), Guararapes (GUAR3) e CVC (CVCB3) estiveram entre as empresas do setor de consumo e varejo que divulgaram seus resultados do segundo trimestre de 2024 (2T24) na noite de ontem.

Conforme destaca o Itaú BBA, a C&A entregou resultados fortes no segundo trimestre, com boa dinâmica de vendas e rentabilidade acima do esperado tanto no braço de varejo quanto na financeira. Contudo, as ações caíram forte nesta quinta-feira (8), fechando com baixa de 6,79%, a R$ 8,65. Cabe ressaltar, contudo, que a ação salta cerca de 60% nos últimos doze meses, com o mercado embolsando parte dos lucros, uma vez que a varejista já tem uma longa sequência de ganhos na Bolsa.

A Guararapes teve tendências parecidas, com o desempenho de vendas e a rentabilidade de ambas as divisões vindo acima do esperado, levando a um lucro líquido superior às projeções do banco. Neste caso, as ações saltaram, encerrando o pregão com valorização de 8,99%, a R$ 8,24; os ativos têm avanços mais modestos, ainda que de significativos 35% nos últimos doze meses.

Já a CVC entregou números levemente positivos, com expansão da taxa de comissão e rentabilidade acima da esperada, mas as ações fecharam em queda de 1,60%, a R$ 1,85, com analistas ainda cautelosos.

Confira os destaques das análises para cada empresa:

C&A (CEAB3)

O lucro líquido ajustado atingiu R$ 58 milhões, resultado da melhora nos resultados operacionais e menores despesas financeiras, enquanto o fluxo de caixa livre foi positivo em R$ 64 milhões, apoiado por melhores tendências operacionais.

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Os resultados da C&A superaram as estimativas do Itaú BBA. Na divisão de varejo, o crescimento melhor do que o esperado das vendas mesmas lojas (SSS, lojas abertas há um ano ou mais) e a expansão da margem levaram a uma margem Ebitda (rentabilidade operacional) de 20,5% (aumento de 1,4 pp em relação ao ano anterior e 1,2 pp acima da nossa estimativa). Na divisão financeira, receitas acima do esperado e provisões praticamente em linha foram os motores para o aumento do resultado operacional (Ebitda), que ficou em R$ 2 milhões.

“Dado que a empresa provavelmente enfrentará uma base de comparação cada vez mais difícil nos próximos trimestres, esperamos que os investidores acompanhem de perto a sustentabilidade das tendências do segundo trimestre e a evolução da qualidade da carteira de crédito”, apontam os analistas do banco.

Para a XP, a C&A apresentou mais um conjunto de resultados sólidos no segundo trimestre, com um forte desempenho de receita, apesar dos desafios relacionados ao clima, e um Ebitda maior que a nossa expectativa, se beneficiando da implementação de iniciativas internas. As vendas líquidas consolidadas tiveram um aumento de 12% ano a ano, impulsionadas principalmente por um forte desempenho de vestuário (vendas mesmas lojas de +13%), apoiado pelas iniciativas internas da empresa (Push&Pull e precificação dinâmica) e pela agilidade de adaptação ao inverno mais quente. Além disso, as vendas dos serviços financeiros mantiveram-se sólidas (+34% na base anual), graças à expansão contínua do portfólio da C&A Pay (+45% a/a), enquanto fashiontronics foi pressionada (-26%) pelo fechamento de quiosques de eletrônicos (128 no 1S24), embora parcialmente compensado pelo crescimento da beleza (+59%).

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A rentabilidade também foi um destaque, com a margem bruta consolidada aumentando 2,5 pontos percentuais (p.p) na base anual suportada por uma expansão tanto no vestuário como em fashiontronics (+1,30-4,30 p.p anualmente, respetivamente), juntamente com um mix de categorias mais favorável. Entretanto, a margem Ebitda ajustada (ex-IFRS) teve um aumento de 3,50 p.p, uma vez que a alavancagem operacional levou a uma diluição das despesas com vendas, gerais e administrativas, principalmente em vendas (-0,7 p.p anualmente). No segmento de Serviços Financeiros, as necessidades de provisionamento aumentaram 17% , mas com taxas de inadimplência controladas, enquanto o resultado ligeiramente negativo do C&A Pay (-R$ 6 milhões) foi compensado pelo Bradescard (R$ 10 milhões).

A Genial Investimentos ressalta que os números entregues reforçaram a sua expectativa de que a C&A se consolidará como um dos destaques positivos do setor de vestuário neste trimestre. Apesar dos efeitos climáticos adversos, com uma estratégia ágil e reativa, a companhia conseguiu mitigar o impacto de um inverno mais quente – entregando um bom desempenho de vendas e fortes avanços em rentabilidade.

A sólida entrega operacional permitiu que a C&A reportasse um lucro líquido ajustado de R$ 58 milhões – um valor cerca de 18 vezes superior ao reportado no ano passado. Frente (i) à contínua entrega de melhores resultados operacionais e (ii) ao plano estratégico bem delineado para os próximos anos (confira mais aqui), a Genial reforçou a perspectiva positiva para a companhia, com recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 15,00 em doze meses – o que implica em um potencial upside de 62% em relação ao último pregão.

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O Bradesco BBI vê uma continuação das tendências positivas dos últimos dez trimestres. No negócio de varejo, o crescimento permanece robusto, apesar da contração contínua da fashiontronics (FT), enquanto as melhorias de lucratividade em vestuário e FT impulsionam margens brutas saudáveis. Uma parte dessa melhoria da lucratividade do varejo foi reinvestida na iniciativa estratégica “Energia C&A” e em marketing, conforme descrito no dia do investidor da C&A em 2024 – ambos os movimentos parecem ser a abordagem estratégica correta, para o banco.

No futuro, o BBI avalia que os principais pontos a serem monitorados são: (1) a qualidade dos ativos de serviços financeiros da C&A e (2) quanta melhoria de margem bruta ainda está por vir após vários trimestres de expansão. Por enquanto, mantém as estimativas, bem como recomendação neutra e preço-alvo de R$ 12,00.

Guararapes (GUAR3)

A Guararapes, dona da Riachuelo, registrou lucro líquido de R$ 57,016 milhões no segundo trimestre de 2024, revertendo prejuízo líquido de R$ 17,616 milhões reportado no mesmo período de 2023. Já o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) consolidado foi de R$ 359,7 milhões no trimestre, alta de 50,6% na mesma base de comparação.

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Para a XP, a varejista teve sólidos resultados, suportados por uma sólida dinâmica de vendas mesmas lojas e pela melhoria da rentabilidade. As vendas líquidas consolidadas aumentaram 8% em relação ao mesmo período do ano anterior, impulsionadas principalmente pelas fortes tendências de SSS no varejo (+9% em relação ao mesmo período do ano anterior, contra 10% da C&A), apesar das condições climáticas desfavoráveis, uma vez que a empresa conseguiu usar sua planta industrial de forma mais eficiente e responsiva para atender à demanda dos consumidores.

Quanto à Midway, as vendas cresceram 2% em relação ao ano anterior, uma vez que a maior penetração de produtos que geram comissões compensou uma concessão de crédito ainda apertada (carteira de crédito -9%).

A rentabilidade foi outro destaque. A margem bruta consolidada diminuiu (-1,2 p.p em relação ao ano anterior), principalmente devido à contabilização dos custos da Midway, mas a margem bruta do varejo foi um destaque, com um aumento de 1,3 p.p em relação ao ano anterior, apoiada pela eficiência industrial e pela otimização dos estoques. Enquanto isso, a margem EBITDA ajustada aumentou 4,4 p.p, uma vez que o menor provisionamento de crédito na Midway (-17%) mais do que compensou as maiores despesas de marketing/bônus. Já o lucro superou a projeção da XP, de R$ 24 milhões, em função de melhores resultados operacionais e menores despesas financeiras, enquanto a geração de caixa foi positiva em R$137 milhões, também sustentada por resultados operacionais.

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O BBA também ressaltou que os números da empresa superaram as suas expectativas. Tanto o braço de varejo quanto o de serviços financeiros apresentaram números de rentabilidade melhores do que o esperado, impulsionando o Ebitda consolidado 13% acima da nossa projeção, em R$ 360 milhões. Os resultados financeiros líquidos foram ligeiramente piores do que esperavam, mas o lucro líquido ainda superou a sua projeção em 16%.

“Este é o terceiro trimestre consecutivo de sólida expansão da rentabilidade, sugerindo que a empresa atingiu um ponto de inflexão. Avaliamos que as tendências positivas eram em parte esperadas pelo mercado (as ações subiram 10% na última semana), mas os números superaram nossas expectativas”, avalia a equipe.

A Genial também ressalta que, apesar do clima mais quente ser um desafio considerável para todo o setor de vestuário ao longo do outono, a companhia consolidou uma entrega operacional positiva no trimestre – e provavelmente deve emplacar o conjunto de maior qualidade do setor no período.

Com importantes ganhos reportados na Midway Financeira (Ebitda multiplicado por 4 vezes ano a ano) e um desempenho positivo na vertical de Mercadorias, o lucro operacional foi novamente um destaque, com um crescimento de +51% do EBITDA.

Apesar de um maior reconhecimento de pagamento de IRPJ/CSLL, a forte performance operacional permitiu uma reversão do prejuízo reportado no ano passado.

O BBI vê os resultados do 2T24 da Guararapes combinando boa monetização de serviços financeiros e desempenho sólido no varejo, tanto da perspectiva de vendas quanto de margens -uma continuação da tendência vista desde o 4T23 em suas principais métricas. O crescimento das vendas de dois dígitos -apesar da contração da penetração de serviços financeiros -combinado com a recuperação da margem bruta mostram que a Guararapes está no caminho certo em direção à normalização dos lucros.

O portfólio de crédito começou a crescer sequencialmente novamente, após contrair por três trimestres consecutivos, potencialmente indicando que o pior já passou. A qualidade dos ativos, por sua vez, melhorou sequencialmente, apesar da sazonalidade negativa do 2º trimestre. “No entanto, mantemos nossa recomendação neutra por enquanto devido a um múltiplo P/L estimado para 2024 pouco atraente de cerca de 18 vezes”, avalia o BBI.

CVC

Os resultados da CVC mostraram uma melhora sequencial nas tendências de reservas consolidadas (embora ainda fracas), com rentabilidade acima do esperado. As reservas consumidas caíram 10% em relação ao ano anterior, para R$ 3,25 bilhões, enquanto a taxa de comissão foi de 9,0% (um aumento de 1,5 pp em relação ao ano anterior e 0,2 pp acima da nossa projeção). Isso levou a receita líquida a R$ 294 milhões, um aumento de 9% em relação ao ano anterior e 5% acima da projeção do banco.

Os sólidos esforços na frente de despesas contribuíram para um Ebitda ajustado de R$ 70 milhões (versus sua previsão de R$ 51 milhões) e uma margem Ebitda de 23,9% (cerca de 6 pp acima da estimativa do BBA). A empresa reportou um prejuízo líquido ajustado de R$ 15 milhões, versus a estimativa do BBA de um prejuízo de R$ 38 milhões.

“Antecipamos uma retomada do crescimento nas reservas consolidadas e um lucro líquido positivo para a empresa adiante, impulsionado por uma melhoria sequencial e gradual na Argentina, uma base comparável no B2B e novas aberturas de lojas no Brasil”, avalia o BBA, que reitera recomendação de “compra” para a ação.

Para o JPMorgan, que tem recomendação equivalente à venda, os números foram fracos, com as reservas caindo 7% na base anual, puxadas pela Argentina, enquanto o crescimento no Brasil foi impactado pelas enchentes no Rio Grande do Sul – um destino típico de inverno. Ainda assim, isso foi compensado pela melhoria no take rate (parcela do que a companhia recebe que fica no negócio) devido às iniciativas em andamento para melhorar a lucratividade.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.