Grupamento de ações da Oi (OIBR3;OIBR4) é cilada para o investidor?

Preço de tela e quantidade de ações mudam com grupamento, mas fundamentos da companhia, em recuperação judicial, seguem enfraquecidos

Mitchel Diniz

Foto: Divulgação
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A proposta de grupamento de ações da Oi (OIBR3;OIBR4), que irá para a deliberação do Conselho de Administração e foi anunciada na noite da última segunda-feira (17), levou as papéis da empresa a mínimas históricas. Os ativos OIBR3 encerram o pregão de ontem a R$ 0,32, com uma baixa de 11,11%; OIBR4 cedeu 9,88%, a R$ 0,73. Hoje, os papéis continuam em queda. Quando uma ação é negociada na casa dos centavos, oscilações bruscas como essa são consideradas normais. Mas analistas dizem que a baixa da Oi, nesse caso, foi exagerada.

“O mercado ‘panicou’ sem nenhum motivo”, diz Fabiano Vaz, analista da Nord Research. “O que muda com o grupamento é o preço de tela e a quantidade de ações da Oi. Mas os fundamentos, as finanças e as perspectivas para a empresa seguem as mesmas”.

O conselho de administração da Oi propôs um grupamento na proporção de 50 para 1. Ou seja, a cada lote de 50 ações de OIBR3, por exemplo, será criada uma única ação da mesma espécie. Tomando como base o preço de fechamento de ontem, uma ação OIBR3 valeria R$ 16 após o grupamento, e o OIBR4, R$ 36,50.

“A proporção de 50 para 1 assustou um pouco, pois ficou acima do que o mercado estava esperando. Mas essa queda toda foi exagerada e sem sentido”, afirma Vaz.

A proposta de grupamento, neste caso, foi desencadeada por uma regra do mercado de capitais brasileiro para evitar volatilidade e especulação. Quando uma ação é negociada a menos de R$ 1 por 30 dias consecutivos, a empresa é notificada pela B3 para que os papéis sejam agrupados e superem esse valor. No caso da Oi, os ativos ON já estavam valendo centavos desde fevereiro deste ano. A empresa ainda conseguiu, por diversas vezes, prorrogar o grupamento.

A proposta de administração da Oi, de agrupar os papéis na proporção de 50 para 1, ainda precisa ser aprovada em assembleia de acionistas, marcada para o dia 18 de novembro.

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Grupamento de ações é cilada?

Agrupar as ações para que o papel se mantenha acima de R$ 1 não garante que o preço do ativo não continuará caindo. Na verdade, a experiência de empresas nos últimos anos mostrou o contrário. Um exemplo recente é o da Saraiva (SLED4;SLED3), que assim como a Oi, também está em recuperação judicial e viu suas ações serem negociadas na casa dos centavos.

No final do ano passado, a rede de livrarias agrupou os papéis na proporção de 35 para 1 e viu os ativos derreterem mais de 20% no primeiro dia em que foram negociados em blocos. No passado, empresas como JB Duarte e Cristal Pigmentos passaram pela mesmo situação, mostrando que as ações podem sofrer tombos tão grandes quanto os que levou quando valia menos de R$ 1.

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“O grupamento em si não faz a ação cair, mas normalmente quando a empresa passa por um grupamento, já está vindo de um movimento de queda que levou aquele preço a um patamar muito baixo”, afirma Felipe Moura, analista de investimentos da Finacap. “A continuidade na queda se deve muito mais aos fatos dos fundamentos da empresa continuarem se deteriorando, do que do fato do grupamento em si”.

A Viver (VIVR3), outra penny stock da Bolsa, é negociada a centavos desde o final do último mês de maio – e já levou uma chamada da B3 por causa disso. A empresa, atualmente, avalia maneiras de enquadrar o papel em cotação igual ou superior a R$ 1 e ficou de entregar um cronograma até o próximo 21 de dezembro.

A Dommo (DMMO3), por sua vez, foi dispensada pela B3 de fazer o grupamento de ações em junho deste ano. Isso porque os papéis da empresa, antiga OGX de Eike Batista, voltaram a ser negociados acima de R$ 1. E mais recentemente, em setembro, a Dommo assinou um memorando de entendimento para combinação de negócios com a PRIO ([ativo=PRIO), em uma transação de US$ 180 milhões.

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Fundamentos da Oi seguem enfraquecidos

Como uma grande parte das ações da Oi está nas mãos de investidores pessoa física, os analistas dizem que o grupamento deve reduzir a liquidez dos ativos, mas não há garantias de que a volatilidade também vai diminuir.

“No curto prazo, a Oi deve continuar sofrendo, não porque agrupou as ações, mas por um conjunto de notícias pouco favoráveis”, afirma Vaz, da Nord Research. O último resultado divulgado pela companhia, referente ao segundo trimestre, foi um prejuízo de R$ 321 milhões. A dívida líquida da empresa está acima dos R$ 16 bilhões, em um cenário de juros elevados.

Soma-se a isso a disputa judicial sobre a venda de ativos da Oi Móvel à TIM ([ativo=TIMS3]), Vivo (VIVT3) e Claro, além da demora para a empresa sair da recuperação judicial.

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“A Oi só deve voltar a crescer em um longo prazo bem distante. Ainda precisa expandir no negócio de fibra óptica, equalizar endividamento para voltar a gerar caixa e reportar Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações] positivo e crescente”, complementa o analista.

Na avaliação de Moura, da Finacap, a tese de Oi teve vários desdobramentos desfavoráveis, inclusive no negócio de infraestrutura. Em junho deste ano, a empresa concluiu a venda do controle da V.tal aos fundos do BTG Pactual. A companhia ficou com 42,1% na ex-InfraCO, uma participação menor que a esperada pelo mercado, segundo o analista.

“A participação da Oi na V.Tal ainda é promissora. Mas ainda tem muita nuvem em torno do case, com recuperação judicial e dívida em dólar”, conclui Moura.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados