Governo reúne exportadores de diesel russo e distribuidores brasileiros; setor vê desafios

Os encontros, realizados nas duas últimas semanas, ocorrem em meio a esforços para que o Brasil consiga comprar o máximo de diesel possível da Rússia

Reuters

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RIO DE JANEIRO (Reuters) – O governo brasileiro promoveu duas reuniões entre pelo menos três exportadoras russas de diesel e distribuidoras de combustíveis do Brasil, com a participação do embaixador da Rússia, Alexey Kazimirovitch Labetskiy, disseram à Reuters três fontes com conhecimento sobre o assunto.

Os encontros, realizados nas duas últimas semanas, ocorrem em meio a esforços para que o Brasil consiga comprar o máximo de diesel possível da Rússia, como anunciou o presidente Bolsonaro e reforçou nesta terça-feira o chanceler brasileiro, Carlos Franca, em visita à sede da ONU em Nova York.

Segundo uma das fontes, que falaram na condição de anonimato, a intermediação entre exportadores e distribuidoras foi encabeçada pelos ministérios de Minas e Energia e das Relações Exteriores, e teve como principal objetivo tentar tranquilizar as empresas de que elas não seriam alvo de nenhuma sanção internacional se fechassem negócio com os fornecedores russos.

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“A gente participou dessas reuniões, mas foram meio estranhas… A gente não negocia em blocos, muito menos na frente do nosso concorrente. A gente tem restrições de compliance para participar desse tipo de reunião. Então, elas foram mais protocolares, para apresentar os exportadores russos, que disseram que têm produto e estão disponíveis para negociar”, disse.

Segundo a fonte, todos os participantes ouviram as propostas, mas não houve nenhuma adesão até agora.

“Ficamos de bico calado. A gente só ouviu e continuou fazendo as importações normais, dos nossos fornecedores. A gente sabe os caminhos para comprar”, disse a fonte.

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A ideia do governo de importar diesel da Rússia para tentar baratear o preço do combustível no Brasil enfrenta enormes desafios operacionais, não é garantia de redução dos valores nas bombas e ainda pode causar um desconforto diplomático para o país e empresas brasileiras, segundo analistas e especialistas ouvidos pela Reuters.

A avaliação é que, embora seja viável em teoria, a importação da Rússia pode esbarrar em dificuldades impostas pelas sanções ao país, como processamento de pagamentos, e no próprio receio das empresas de possíveis retaliações.

A possibilidade de fornecimento russo de diesel ao Brasil surgiu no final de junho, após uma conversa entre os presidentes Jair Bolsonaro e Vladimir Putin.

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Grande produtor global de diesel, a Rússia vem diversificando seus destinos de exportações do combustível desde o início da guerra com a Ucrânia, oferecendo descontos, após uma diminuição das compras pela Europa e Estados Unidos.

Na segunda-feira, Bolsonaro disse que está “quase certo” um acordo para comprar diesel “bem mais barato” da Rússia, que está sob sanções de vários países após a invasão da Ucrânia. Segundo ele, as primeiras cargas podem chegar ao Brasil em 60 dias.

No entanto, fontes do governo e do mercado de combustíveis relatam ter pouca clareza sobre essa proposta até então. Não se sabe, por exemplo, quem ficaria responsável por essa importação –se seria a Petrobras (PETR3;PETR4), que atende 80% da demanda interna de combustíveis, ou agentes privados independentes.

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Fontes da Petrobras, entretanto, disseram ver a proposta com ressalvas e alertaram para eventuais consequências diplomáticas e comerciais ao país e a empresas brasileiras com uma eventual aproximação aos russos.

“Não surpreende, mas assusta”, disse uma fonte da petroleira, que falou sob condição de anonimato. “Assusta o país tomar posição em uma guerra que não é nossa, podendo afetar nossa relação com o resto”, acrescentou.

RISCOS

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O consultor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, acha improvável que uma empresa brasileira aceite assumir o “risco” de fechar negócio com os russos sob pena de sofrer retaliações no futuro.

“Com as sanções, é difícil uma empresa grande importadora privada fazer essa negociação. Teria até dificuldade de pagar esse diesel vindo da Rússia”, observou Pires, que chegou a ser indicado para a presidência da Petrobras neste ano, mas declinou por conflito de interesse.

Para o representante da associação de minoritários de empresas de capital aberto Abradin, Aurélio Valporto, seria inviável que o governo tomasse a frente da regulação desses estoques, cabendo a missão à Petrobras.

“Teoricamente pode ser importado até pelo governo… Entretanto, como foi o governo que negociou, entendo que somente a Petrobras possa receber esta importação”, disse ele.

ALTERNATIVAS

O ex-diretor da agência reguladora ANP, Hélder Queiroz, acredita que o impacto da importação de diesel mais barato da Rússia tende a ser pequeno para os consumidores, dada a configuração atual do mercado.

“Tem que saber o tamanho do desconto vai ser dado, por quanto tempo e em que volume. Não há nenhum garantia de que o preço vai cair na ponta. O Brasil importa de 25 a 30% do diesel, mas se viesse tudo da Rússia, ainda teria os outros 70 a 75% formado pelo preço de paridade de importação”, destacou.

Compras de volumes muito elevados da Rússia não parecem ser viáveis, disse o diretor do CBIE, Pedro Rodrigues.

No mercado mundial, há riscos de restrição de oferta do combustível no segundo semestre. A Petrobras chegou a emitir alertas ao Ministério de Minas e Energia e à ANP sobre risco de desabastecimento para justificar a necessidade de ajustes nos preços de diesel.

Procurados, o gabinete de Bolsonaro, o Ministério de Minas e Energia, a Petrobras e o Ministério das Relações Exteriores não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

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