Gerdau tem 2º tri fraco, mas abre caminho para resto de ano melhor; GGBR4 cai 0,49%

Analistas têm visão diversa sobre resultados, mas estão otimistas com companhia olhando para frente

Lara Rizério

Usina siderúrgica 
(REUTERS/Wolfgang Rattay)
Usina siderúrgica (REUTERS/Wolfgang Rattay)

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Neutro, negativo ou sólido? Após um resultado muito decepcionante da Usiminas (USIM5) na semana passada, inaugurando a temporada de resultados do segundo trimestre de 2024 (2T24) com o pé esquerdo, a Gerdau (GGBR4) divulgou números na noite de quarta-feira (31) que levaram a diferentes interpretações do mercado. A reação das ações aos dados foi positiva na abertura, com os ativos GGBR4 chegando a subir mais de 1%, ainda que encerrando o pregão com leve queda, de 0,49% (R$ 18,17), na sessão desta quinta-feira (1).

Para a XP, a Gerdau reportou resultados neutros no 2T24, com lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) ajustado de R$ 2,6 bilhões, com queda trimestral de 7% e de 31% na base anual (-4% ante a projeção da XP e 2% abaixo do consenso).

Já na visão do Itaú BBA, a siderúrgica teve Ebitda em linha com sua estimativa. “Apesar do desempenho mais fraco sequencialmente no Brasil, a qualidade dos resultados foi boa”, avalia. Os analistas ressaltam que, excluindo os eventos extraordinários relacionados à hibernação das fábricas, a margem Ebitda (rentabilidade operacional) no Brasil teria se recuperado para 11%.

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No trimestre, houve uma consolidação de números mais enfraquecidos, aponta a Genial, que entende que ocorreram desafios significativos, particularmente na unidade do Brasil, onde a hibernação das plantas afetou negativamente as exportações, levando a um volume de embarques em queda (-8,2% versus a projeção da Genial). As exportações despencaram, uma vez que a paralisação da fábrica de Barão de Cocais (MG) interrompeu o mix usual de produtos que são redirecionados para o mercado externo. A demanda do mercado doméstico também foi fraca, agravada pelas enchentes no Rio Grande do Sul (RS).

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As pressões de custo também foram significativas. Na ON América do Norte, o Custo de Produtos Vendidos (COGS) por tonelada (t) subiu 3,9%, para R$ 5.489/t (+0,9% versus a projeção da Genial), apesar de uma queda de 7% trimestral nos preços spot da sucata ferrosa, refletindo um processo de desestocagem de um volume de sucata mais cara no P&L, devido ao delay. Na ON Brasil, o COGS/t alcançou R$ 4.849/t (+1,5% versus a estimativa da Genial), registrando um aumento de +5,2% trimestre a trimestre devido aos (i) altos custos de carvão metalúrgico e (ii) despesas relacionadas a paradas de plantas, incluindo custos de rescisão de mão de obra e custos temporários de estágio de produção.

A XP aponta que, embora os resultados da Gerdau ainda não reflitam o que vê como um nível estrutural de taxa de execução Ebitda /FCF [fluxo de caixa livre], acredita que os números do 2T24 abrem caminho para um melhor 2S24, com: (i) ajustes na capacidade doméstica para otimizar a rentabilidade (isto é, redução das exportações); (ii) expectativas de aumentos de preços a partir do 3T24; e (iii) rentabilidade duradoura na América do Norte (acima de cerca de 20%) para impulsionar um desempenho de Ebitda mais resiliente. Por fim, a Gerdau anunciou um programa de recompra de ações, no valor de 5% a 10% das ações PN/ON, respectivamente, e dividendos de cerca de R$ 250 milhões a serem pagos em 20 de agosto, o que veem com bons olhos. A XP reiterou classificação de compra para a Gerdau.

Na mesma linha, o BBA ressalta que a melhora no mix de vendas, aliada à expectativa de redução de custos, indica melhores perspectivas para o País no segundo semestre. O banco ainda aponta que o Ebitda na América do Norte diminuiu 11% no trimestre, mas a margem Ebitda permaneceu resiliente em 21%.

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O banco também gostou do anúncio de recompra da Gerdau em GGBR4, GGBR3 e GOAU4, mantendo recomendação de “compra” para GGBR4, com preço-alvo de R$ 24 ao fim de 2024.

A Genial também tem compra para os ativos. A casa de research ressalta que a recomendação é baseada na capacidade da gestão em executar o plano de redução de custos da companhia através da realocação de ativos. “Acreditamos que o (i) cenário macroeconômico não deva abrir margem para repasses de preço na magnitude integral dos +6-8% e que (ii) as cotas suplementares para as 11 NCMs (Nomenclatura Comu do Mercosul, com relação à cota de importação) não gerem efeitos tão relevantes a ponto de impedir a competição versus o aço chinês”, avalia, mas diz estar confiante que a Gerdau consiga consolidar resultados interessantes através das iniciativas de corte de custo.

“Entretanto, a tendência de curto prazo é piorar antes de melhorar (…) Dessa forma, a escalada do custo neste trimestre já refletiu o começo das iniciativas. Despesas com (i) demissões da força de trabalho e (ii) custos one-off com o desligamento de usinas antigas elevaram o COGS do 2T24. No entanto, acreditamos que a Gerdau está dando um passo para trás, para depois dar dois à frente, aproveitando de reduções de gastos no futuro”, conclui a equipe de análise.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.