Geadas no Sul e no Sudeste: qual o impacto para a inflação e para as ações de agro da Bolsa

Com condições climáticas adversas e custos mais elevados de energia elétrica, bolso dos consumidores deve sentir mais nos próximos meses

Mariana Zonta d'Ávila

Frio na Serra Catarinense (Foto: Paulo/Fotos Públicas)
Frio na Serra Catarinense (Foto: Paulo/Fotos Públicas)

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SÃO PAULO – Em meio a condições climáticas adversas, com uma intensa onda de frio prejudicando o agronegócio e uma crise hídrica contribuindo para custos mais elevados de energia elétrica, o bolso dos consumidores deve sentir mais nos próximos meses.

O mesmo vale para investidores de ações, que têm empresas do agronegócio na carteira, que devem ficar atentos aos potencias impactos nas companhias.

Em relatório divulgado nesta sexta, a XP avalia que a geada de julho e dessa semana nas regiões Sul e Sudeste podem se traduzir em uma inflação ainda mais alta no curto prazo.

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Isso porque, com a diminuição da oferta, devido ao impacto das geadas nas colheitas, os preços tendem a subir e esse repasse aos consumidores costuma ser rápido.

Na avaliação da XP, isso pode significar alta de 0,10 ponto percentual na projeção de inflação para 2021, já em 6,7%.

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Entre as culturas mais impactadas pela intensa onda de frio, a XP destaca o café, as hortaliças e as frutas.

O frio intenso, somado ainda à estiagem severa, que impactou fortemente os preços de grãos – como soja e milho, cana de açúcar, café e cítricos –, e elevou o custo da energia elétrica, especialmente no setor industrial, tende a pressionar ainda mais o índice de preços.

No caso da carne bovina, a XP escreve que a alta segue sustentada pelas exportações brasileiras de carne para a China em um cenário de escassez de animais prontos para abate. E a falta de chuvas fez com que o confinamento do gado aumentasse, gerando mais custos aos produtores.

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Tatiana Nogueira, economista da XP que assina o relatório, chama atenção ainda para a reabertura da economia pós-Covid, permitindo que serviços tenham seus preços reajustados, de uma forma mais rápida do que a projetada já esse ano.

Desta forma, a inflação pode ficar acima de 7% no ano, segundo Nogueira.

Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) subiu 0,72% frente junho, acima do esperado pelo mercado financeiro, de alta de 0,64%, e na maior variação para o mês desde 2004.

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No ano, o indicador acumula alta de 4,88%, enquanto em 12 meses, sobe 8,59%.

E o impacto na Bolsa?

No mercado de renda variável, investidores com papéis ligados ao agronegócio também devem monitorar as questões climáticas no país.

Embora colheitas possam ser afetadas pelas geadas, alguns nomes podem se beneficiar de uma menor oferta de produtos, elevando os preços no mercado. É o caso, por exemplo, de São Martinho (SMTO3).

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Em relatório, o Itaú BBA escreve que a produção da empresa deve ser impactada negativamente pelas geadas nas colheitas de 2021 e 2022, com a situação podendo perdurar até a colheita de 2022 e 2023.

Ao mesmo tempo, a companhia pode se beneficiar de um aumento nos preços do açúcar diante da menor oferta, destaca o time de análise.

O Itaú tem recomendação outperform (acima da média do mercado) para os papéis SMTO3, com preço-alvo de R$ 42.

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O mesmo acontece com SLC Agrícola (SLCE3), que deve, segundo o Itaú BBA, ver seus preços de milho subirem no mercado nos próximos meses em meio à menor oferta da commodity.

O caso é semelhante em M. Dias Branco (MDIA3), cuja produção é concentrada, em sua maioria (cerca de 80%), na região Nordeste do país – também contribuindo para uma alta no preço do trigo, escrevem os analistas.

De acordo com o Itaú BBA, JBS (JBSS3) deve ser blindada dos efeitos da geada, em grande parte, dada a menor exposição ao mercado brasileiro. A oferta restrita de grãos, contudo, pode reprimir as margens da marca Seara.

Por fim, o banco escreve que o cenário deve continuar elevando os custos para a BRF (BRFS3). A companhia, contudo, pode compensar parcialmente as tendências negativas por meio de aumentos de preços, destaca o time de analise.

“Embora haja pressão sobre os custos dos grãos para ração, a compressão de margem esperada para a BRF foi mitigada pelos preços mais altos, uma vez que os preços dos alimentos processados no Brasil mantiveram seu ritmo de crescimento anual de dois dígitos”, escreve o Itaú, em relatório.

O banco tem recomendação de market perform (performance em linha com o mercado) para os papéis de BRF e M. Dias Branco, com preço-alvo estimado de R$ 25 e R$ 30, respectivamente. Para SLC e JBS, a recomendação é de outperform, com preço-alvo de R$ 55 e R$ 47, respectivamente.

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