Gafisa (GFSA3) oficializa aumento de capital e acirra disputa com gestora; ação fecha em baixa, mas longe das mínimas do dia

Construtora aumentou número de ações em circulação antes da assembleia geral que discutiria o tema

Rikardy Tooge

(Divulgação)
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A Gafisa (GFSA3) oficializou na noite de terça-feira (3) um aumento de capital em R$ 78,1 milhões, pouco mais da metade do que foi indicado ao mercado no fim de novembro – a intenção era ampliar o montante em R$ 150 milhões. A homologação deste aumento de capital deverá ser um novo capítulo entre a construtora e a Esh Capital, que questiona o movimento.

A operação que custou R$ 5,89 por ação aos subscritores significa, na prática, uma diluição dos acionistas que não acompanharam o aumento de capital. Agora, a Gafisa possui 51,1 milhões de ações em circulação, ante 37,8 milhões até então, com capital social estimado em R$ 1,33 bilhão.

A Esh afirma que não participou da subscrição – o que diluirá sua participação acionária que era de 15,1% na empresa (o novo tamanho não foi divulgado) – e chamou a conclusão da operação de “ilegal”.

“Ao promover o aumento de capital, a Gafisa atropelou a prerrogativa da AGE [assembleia geral extraordinária], marcada para 9 de janeiro, de deliberar sobre essa decisão. Obviamente, a administração da companhia tem interesses conflitantes e no mínimo deveria se declarar impedida de deliberar sobre isso”, disse a gestora, em nota.

O aumento de capital gerou incômodo na Esh por entender que a iniciativa não foi discutida com os acionistas minoritários. Na avaliação de analistas, há uma insatisfação do fundo com a maneira com que o empresário Nelson Tanure, acionista de referência da Gafisa, vem tocando a companhia.

Desde que assumiu posição relevante na construtora, em 2019, Tanure estaria deixado de lado os minoritários das discussões que envolvem emissão de dívidas e aumento de capital da companhia – o que acaba diluindo a participação de todos os investidores na empresa.

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Em nota, a Gafisa refutou o argumento e disse que a empresa está atuando dentro da legalidade. “Qualquer outra posição é meramente especulativa e com intenções duvidosas”, acrescentou.

Início da disputa

Prova deste descontentamento surgiu no último dia 25 novembro, quando o conselho de administração da Gafisa aprovou o aumento de capital de R$ 150 milhões. No dia 30 do mesmo mês, a Esh pediu a convocação de uma AGE para questionar os rumos da empresa e cancelar o aumento de capital.

Além disso, há pedidos também para responsabilização judicial contra os administradores e membros do conselho fiscal da companhia pelos prejuízos causados à Gafisa entre 2019 e 2022. Também solicita a destituição dos membros dos conselhos de administração e fiscal, além da eleição de novos administradores.

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Em uma briga que envolveu a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e a Justiça de São Paulo, a Gafisa conseguiu manter sua data proposta para a AGE no dia 9 de janeiro, que ocorre depois do aumento de capital e pode tornar sem efeito a decisão da assembleia. No entanto, a própria CVM já havia recomendado à Gafisa que esperasse a AGE antes de homologar o aumento de capital.

Procurada, a Gafisa diz que “fez e está fazendo tudo observando a lei e mandamentos regulatórios. E seguiremos com a AGE conforme já convocada e nos termos da lei”.

Dia volátil na B3

Nesta quarta-feira (4), após a confirmação de aumento de capital, as ações da Gafisa chegaram a operar em forte queda, fecharam com perdas, mas bem menores do que as registradas durante a manhã. Nos últimos dias, o papel chegou a avançar mais de 200%, em função de um movimento técnico de desmonte de posições vendidas (o chamado short squeeze) e um ajuste de preços seria normal. Na mínima, as ações da companhia caíram 34,27%, a R$ 14. Contudo, a queda foi amenizada, os papéis chegaram a ter leve alta, mas fecharam com baixa de 1,97%, a R$ 20,88.

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Para analistas que cobrem a Gafisa, a definição de um preço-alvo justo ficou sem referência após a disparada dos últimos dias. No entanto, a empresa é negociada a 0,5 vez P/BV (market cap dividido pelo patrimônio líquido), o que significa 50% de desconto sobre o valor patrimonial.

As ações pares do setor, consideradas menos “complexas”, são negociadas a níveis próximos. Cyrela (CYRE3), apontada como uma das preferências do mercado, é negociada a 0,7 vez e a Eztec, 0,6 vez. O atual patamar da Gafisa supera outras empresas, como Mitre (MTRE3) e Moura Dubeux (MDNE3), com 0,4 vez cada.

Rikardy Tooge

Repórter de Negócios do InfoMoney, já passou por g1, Valor Econômico e Exame. Jornalista com pós-graduação em Ciência Política (FESPSP) e extensão em Economia (FAAP). Para sugestões e dicas: rikardy.tooge@infomoney.com.br