Fuga dos emergentes lança uma questão; a crise de 1997 está de volta?

Emergentes podem estar tão vulneráveis em relação ao mesmo tipo de venda indiscriminada do final da década de 1990, que atingiu Ásia, Rússia e América Latina

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Os mercados emergentes podem estar tão vulneráveis em relação ao mesmo tipo de venda indiscriminada do final da década de 1990. É o que aponta matéria da Reuters, que destacou que “agora que o que envolve o mundo em desenvolvimento tem paralelos com as desvalorizações das moedas com a crise asiática, em 1997” e que atingiu Ásia, Rússia e América Latina.

A Reuters destaca que há três razões principais para que os mercados registrem uma fuga de capitais tão intensa como a do final dos anos 1990. A primeira é que, após o grande fluxo de capital para os países emergentes, agora está havendo um movimento reverso.

Por outro lado, os empréstimos estão cada vez mais sendo feitos através do mercado de obrigações para os emergentes, ao invés dos antes dominantes empréstimos bancários diretos e que envolveram relações de longo prazo entre bancos, empresas e os seus respectivos países. Em terceiro e último lugar, está o aumento indiscriminado de entrada de fundos em ETFs (Fundos de Índice, na sigla em inglês) emergentes ao longo da última década, o que também os deixa mais vulneráveis a retiradas sincronizadas.

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Venda indiscriminada
Em entrevista à Reuters, o CEO (Chief Executive Officer) do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, destacou que, quando o vetor é positivo para os emergentes, o mercado avalia “nome por nome”. Mas, quando as coisas ficam ruins, é um evento macro, sem que haja distinção entre as nações.

E o chefe de estratégia de mercados emergentes do Société Générale, Benoit Anne, vai ainda mais longe. “Estamos em modo de contágio financeiro completo. Neste momento, venda tudo”.

Enquanto isso, a revista The Economist alerta novamente para uma possível volta para o ano de 1997, em meio à grande preocupação em Davos para a crise dos mercados emergentes. As moedas do mundo emergente caíram para o nível mais baixo desde 2009, com a Argentina, Turquia, África do Sul e Rússia sendo duramente atingidos. 

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A publicação britânica destaca que as crises têm o hábito de vir aos trancos e barrancos. A Tailândia teve problemas em julho de 1997 e demorou mais de um ano para explodir na Rússia. Em meio à inadimplência e a forte desvalorização do peso, a Argentina enfrentou uma crise em 2001, que contagiou o Brasil também em 2002, que contou também com problemas como os temores com a eleição de Lula. 

A The Economist também aponta os argumentos para o sell-off de 2013 e que continua em 2014, como a diminuição dos estímulos à economia com o programa de títulos pelo Federal Reserve e com as menores exportações. Contudo, os dados mais recentes mostram que tanto Brasil como Turquia aumentaram os seus déficits em conta corrente, enquanto a China vê suas exportações desacelerarem.

Pessimismo é alto demais?
Enquanto isso, a revista ressalta que o cenário que se aponta é excessivamente pessimista, destacando que não há uma derrota generalizada dos mercados emergentes que estas nações têm políticas cambiais mais flexíveis agora do que nos anos 1990.

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E que se, por um lado os problemas eram de ordem econômica no fim da década, agora o pânico é sobretudo em termos políticos, como no caso da Turquia – que viu a sua moeda entrar em colapso devido ao escândalo de corrupção que envolveu o primeiro-ministro -, além de Venezuela e África do Sul.

O que pode fazer com que o pânico se espalhar a partir desses pontos problemáticos para todas as economias emergentes? Talvez se mais países enfrentaram ou instabilidade social ou uma sensação de impasse político, tornando as reformas mais difíceis. Isso não é impossível: a Índia e a Indonésia enfrentam eleições deste ano, enquanto o Brasil enfrentou a agitação generalizada no ano passado.

Um segundo gatilho pode ser uma sensação de que as economias emergentes estão ocultando o estado dos seus sistemas financeiros, em movimento similar ao de 1997, quando descobriu-se que os bancos centrais da Tailândia e Coreia do Sul estavam “enganando” o mundo sobre a posição de reservas e passivos em dólares de seus países.

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Portanto, destaca a The Economist, há duas coisas que o mercado deve prestar atenção: primeiro, a agitação social que pode novamente tomar. E, em segundo, o mercado deve seguir atento às possíveis “disparidades” entre o que é divulgado no balanço dos bancos e que o que ocorre realmente. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.