O que a fraude contábil da Americanas representou para Magalu e Casas Bahia?

Vácuo deixado por Americanas fez estrangeiras crescerem e abalou confiança nas demais empresas do setor na Bolsa

Camille Bocanegra

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O setor varejista pode se dividir entre antes e depois do caso Americanas (AMER3). A descoberta das chamadas “inconsistências contábeis” – popularmente conhecidas como fraude – da companhia acabaram respingando por todo o setor varejista e de crédito.

Desde o caso, a varejista acumula queda de 97% e foi responsável por impacto em praticamente todas as principais concorrentes do setor, como Magalu (MGLU3) e Casas Bahia (BHIA3).

No histórico pregão após a “bomba” contábil, a companhia viu 77% do seu valor de mercado evaporar. Hoje, o caso volta à tona com operação que contou com mandado de prisão em operação da Polícia Federal (PF) para o ex-CEO, Miguel Gutierrez, e outros ex-diretores da companhia.

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“A Americanas travou todo o mercado de crédito durante o primeiro semestre do ano passado, causando uma grande desconfiança dos investidores em emprestar para as empresas do setor”, comenta Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos.

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De acordo com analistas, parte do mercado deixado “vago” pela companhia fortaleceu o Mercado Livre (MELI34). Em análise do Morgan Stanley em maio do ano passado, o gigante de e-commerce se destacou como principal beneficiário das mudanças impulsionadas pela Americanas.

“O setor também passou por uma desconfiança grande, em parte pelo plano de reorganização das Casas Bahia. O que deu espaço para as estrangeiras”, pondera Cruz.

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Diante de tudo isso, afinal, como ficou o cenário para as concorrentes brasileiras?

Impacto para Magalu

Num primeiro momento, para Magazine Luiza (MGLU3) o efeito Americanas pareceu ser positivo. Os papéis da companhia chegaram a subir cerca de 60% em janeiro de 2023. Até aquele momento, parecia que a varejista poderia ser beneficiada pela queda da maior concorrente, pelo incremento de tráfego online e volume bruto de mercadorias.

Ainda assim, havia temores de que as mesmas práticas fossem realizadas por outras empresas do setor.

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Em novembro, contudo, o cenário já era outro para a Magalu. A companhia apresentou ajuste de R$ 830 milhões por erros contábeis e trouxe de volta o fantasma da Americanas. A companhia conseguiu recuperação no mês mas ainda segue no aguardo de dias melhores e juros mais baixos.

Em março deste ano, a Magalu aprovou proposta de grupamento de ações e homologou o aumento de capital privado de R$ 1,25 bilhão para fortalecer sua estrutura de capital.

E, nesta semana, a varejista deu seu passo em busca do mercado internacional, ao anunciar acordo com a AliExpress.

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Via virou BHIA3 em busca de recuperação

A reestruturação da Via Varejo (atual Casas Bahia (BHIA3) foi anunciada em agosto de 2023. Depois de meses de restrições de caixa (também impactado pela desconfiança do setor), a Via organizou plano para descontinuidade de categorias para liberação de capital de giro.

O balanço da companhia foi recebido com decepção pelo mercado, na época (2T23), e analistas demoraram para “comprar” a ideia da nova estratégia operacional da varejista.

O grupo, então, lançou oferta de ações para levantar quase R$ 1 bilhão de capital e a notícia foi recebida com queda nos papéis, em setembro. Na sequência, a companhia aprovou a mudança de nome para Grupo Casas Bahia e aumento de capital social de até R$ 3 bilhões em ações ordinárias.

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Mesmo com nome diferente, os problemas seguiram na varejista e, na semana passada, o Juízo da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo homologou o Plano de Recuperação Extrajudicial (RE) apresentado pela companhia.

Espera por juros baixos

No primeiro trimestre de 2024, as duas companhias apresentaram recuperação na frente operacional. Os resultados das duas, apesar de estarem em momentos diferentes, foram considerados positivos, trazendo avanços.

Mas a deterioração do cenário macroeconômico ainda surge como um entrave para as empresas e para as ações.