Publicidade
Após a alta de 75 pontos base nos juros dos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçou o compromisso da autoridade americana em reduzir a inflação. “Nós não podemos falhar em relação a isso”, disse ele, durante a coletiva de imprensa após a reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês). O chairman voltou a dizer que a estabilidade de preços é uma prioridade e, sem ela, a economia não funciona.
“Estamos mudando nossa postura política propositalmente”, afirmou Powell. O presidente do Fed admitiu que a economia americana desacelerou em relação a 2021, com um enfraquecimento significativo do setor imobiliário. Uma desaceleração da economia global também está enfraquecendo as exportações. Enquanto isso, Powell reforça que o mercado de trabalho americano continua extremamente apertado e deve permanecer assim. Os salários continuam elevados e a geração de empregos segue robusta.
“O mercado de trabalho continua fora de equilíbrio”, ressaltou Powell. “Esperamos que condições de oferta e demanda entrem em equilíbrio com o tempo”. No entanto, segundo Powell, por enquanto existem apenas evidência modestas de que o mercado de trabalho está desaquecendo. O chairman afirma que a situação atual é atípica e a taxa de desemprego não deve crescer como ocorreu em recessões anteriores.
“É possível que a geração de empregos diminua sem provocar uma alta de mesma intensidade no desemprego”. Powell disse que o Fed ainda não desistiu da ideia de que é possível ter uma leve alta na taxa de desemprego enquanto a inflação é trazida para baixo.
Leia também: Banco Central interrompe ciclo de alta da Selic e mantém taxa em 13,75%
Fed vai seguir dependente de dados para decidir sobre juros
O chairman também afirmou que a inflação continua bem acima da meta do Federal Reserve, de 2%. As pressões inflacionárias atravessam uma série de bens e serviços e os dirigentes do BC americano continuam vendo riscos de elevação nos índices. Powell diz que não há espaço para ser complacente com a inflação e que, nos próximos meses, o Fed vai monitorar evidências de que os preços estão caindo.
Continua depois da publicidade
Mais uma vez, o Fed vai depender de dados para decidir sobre a magnitude de suas próximas decisões. “Em algum momento vai ser apropriado reduzir o ritmo de alta de juros”, afirmou Powell. As decisões serão tomadas a cada reunião, mas Powell diz que uma política monetária mais restritiva será necessária por mais tempo.
“Para reduzir juros, precisamos estar confiantes de que a inflação está desacelerando”, disse. Powell também falou que existe a chance do Fed chegar a um patamar de juros e se manter nele, mas acrescentou que esse nível ainda não foi alcançado.
“Nos movemos hoje para o nível mais baixo do que consideramos restritivo”, disse Powell. Segundo ele, os dirigentes do Fed consideram que o núcleo da inflação não está onde deveria. “Queremos ser agressivos agora e manter assim até derrubar a inflação”.
Continua depois da publicidade
Leia mais:
Risco de recessão é incerto, segundo chairman
Powell acredita que a atual condução da política monetária vai ser o suficiente para restaurar a estabilidade de preços e reduzir a inflação.
O chairman também afirmou que parte da inflação é causada por choques de abastecimento e que o preço das commodities parece ter chegado a um pouco. “Se os choques de oferta diminuíram, também podem ajudar a aliviar pressões sobre a inflação”.
Continua depois da publicidade
Sobre o risco de uma recessão, Powell se mostrou incerto, dizendo que um “pouso suave” é desafiador. “Ninguém sabe chegaremos a uma recessão e, se isso acontecer, o quão profunda será”, disse ele. “Mas não trazer a inflação para baixo traria dores maiores mais adiante”.
Para o chairman, a economia americana é forte e robusta e a população ainda tem poupança o suficiente para sustentar um crescimento econômico. “Ainda há bastante dinheiro circulando na economia”.
Repercussão no mercado
Para a equipe da CM Capital, os duros recados e a postura de Powell na coletiva mostram que o Fed está em linha com o comportamento esperado diante do tamanho do problema enfrentado atualmente pelo país. “Os Estados Unidos encaram uma inflação em patamares históricos e que também vem demonstrando rigidez excessiva, mesmo diante de uma política monetária agressiva por parte do Fed”, diz o comentário.
Continua depois da publicidade
A equipe citou especificamente a fala do presidente do Fed a respeito de como as commodities devem ter um papel importante no atual cenário. “Novos choques externos de preços, como no caso do petróleo, ou a retomada dos gargalos de oferta via cadeias de suprimento, farão com que o cenário inflacionário se torne ainda mais desafiador e demanda uma postura cada vez mais ortodoxa por parte do Fed.”
Para a corretora, a redução gradual da perspectiva de crescimento em detrimento de um cenário recessivo e com inflação ainda fora de controle no curto prazo parece ser mais aderente à realidade do que apontavam as projeções anteriores.
“Daqui para frente podemos esperar uma economia cada vez mais desaquecida e em busca de um mercado de trabalho menos apertado como forma de, gradualmente, vencer a batalha contra inflação.’
Continua depois da publicidade
Para a CM capital, as informações compartilhadas hoje parecem ter sido bem recebidas pelo mercado, “tendo em vista que, após a volatilidade inicial gerada pelo anúncio, a expectativa do mercado para os juros deste ano passou a convergir para 4%, patamar mais baixo inclusive que as previsões do Fed como exposto ao longo deste informe.”
Alison Correia, CEO da Top Gain, também considerou que Powell se comunicou de forma serena e passou tranquilidade ao dizer que as expectativas de inflação estão ancoradas.