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Em um cenário de inflação bastante alta e deterioração das expectativas, os integrantes do Fomc (Federal Open Market Committee) julgam que um aumento dos juros em 0,5 ou 0,75 ponto percentual na próxima reunião de política monetária, de 26 e 27 de julho, provavelmente será adequada. Essa indicação foi dada na ata da última reunião do Fomc (Federal Open Market Committee), divulgada nesta quarta-feira (6).
A última reunião do Fomc, que ocorreu nos dias 14 e 15 de junho, marcou o anúncio da alta de juros pelo Banco Central americano em 0,75 ponto percentual, o maior aumento percentual desde 1994, com as taxas indo de 1,5% a 1,75%.
Os membros do comitê enfatizaram a necessidade de lutar contra a inflação, mesmo que signifique uma desaceleração da atividade econômica.
Com relação à decisão de junho, os integrantes do Fomc pontuaram que a aceleração do aperto de juros se fez necessária conforme a inflação atinge máximas em 40 anos. Além da deterioração da situação da inflação, a preocupação com a perda de confiança no poder do Federal Reserve de torná-la melhor levaram as autoridades do banco central dos EUA a convergir em torno do aumento “desproporcional” da taxa de juros e a uma repetição firme da intenção do BC de manter os preços sob controle, apontou o documento.
Com base nos dados divulgados nos dias anteriores à sessão, “os participantes concordaram… que as perspectivas de inflação de curto prazo se deterioraram desde o momento da reunião de maio”, apontou o documento, justificando o aumento de 0,75 ponto percentual nos juros e um movimento para uma política monetária “restritiva”.
Com as famílias pressionadas pelo aumento dos preços dos alimentos e do gás e nenhuma evidência de que as ações do Fed até o momento começaram a deter o aumento mais rápido da inflação em 40 anos, “muitos participantes julgaram que um risco significativo… era que a inflação elevada poderia se consolidar se o público começasse a questionar a decisão do Comitê de ajustar a postura da política monetária conforme justificado”, mostrou a ata divulgada nesta quarta-feira.
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A ata do Fed apontou que a inflação continua elevada, com desequilíbrios de oferta e demanda de energia, especialmente por conta da guerra na Ucrânia, que pressiona os mercados globais.
Com relação ao mercado de trabalho, o Fed destacou que permaneceu muito apertado, mas “houve alguns sinais de que o ímpeto estava diminuindo”.
Em termos líquidos, a taxa de participação da força de trabalho diminuiu entre março e maio, enquanto a relação emprego/população permaneceu inalterada. A taxa de abertura de empregos no setor privado, medida pela Pesquisa de Vagas e Rotatividade de Trabalho (JOLTS, na sigla em inglês), recuou em abril, mas permaneceu em patamar elevado.
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O crescimento do salário nominal permaneceu elevado, com o salário médio por hora subindo 5,2% nos 12 meses encerrados em maio, e os aumentos foram generalizados em todos os setores.
PIB robusto
A avaliação ainda é de que o Produto Interno Bruto (PIB) estava crescendo nos Estados Unidos no segundo trimestre, com o consumo “seguindo forte”.
Os dirigentes em geral veem ainda uma desaceleração aparente nos investimentos em ativos fixos da empresa, bem como uma perda de fôlego no setor imobiliário. Esta última reflete uma “forte alta” nos juros para hipotecas no país, aponta a ata.
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A atividade “parece ter ganhado fôlego”, acreditam os dirigentes, após a perda de fôlego vista no primeiro trimestre. Os ganhos de empregos, por sua vez, têm sido “robustos” nos últimos meses, com a taxa de desemprego mantendo-se “baixa”.
A ata lembra que, a partir de suas avaliações, os dirigentes revisaram em baixa suas projeções para o crescimento do PIB dos EUA neste ano, como já publicado anteriormente nas projeções atualizadas do Fed. Para os dirigentes, problemas atuais nas cadeias de produção e condições financeiras “mais restritas” afetam o quadro. Os dirigentes veem ainda “desequilíbrio entre oferta e demanda em uma série de mercados”, o que contribui para a pressão de alta sobre a inflação.
Documento aguardado, mas com olhar “retrovisor”
O documento do Fed era bastante esperado pelo mercado, uma vez que poderia dar mais indicações sobre os próximos passos de política monetária em meio a um cenário de inflação bastante alta, mas ao mesmo tempo com os temores de recessão rondando cada vez mais o mercado.
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Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, destacou que a ata do Fomc veio com um olhar para o retrovisor, já que houve recuo dos preços das commodities, tanto de energia, metais e, principalmente, agrícolas, desde a última reunião, em meados de junho.
“Esse recuo, influenciado pelo medo da recessão, deve tirar a pressão da inflação alta. Por isso, estamos vendo o dólar se fortalecer e as commodities perdendo valor, além da taxa de dez anos americana ficando mais baixa. A ata não cita nem reflete essa virada da recessão, já que a reunião do Fed foi há três semanas e antes do cenário se modificar”, aponta o especialista.
Na ata, a ênfase foi nos riscos de alta da inflação, considerando elevar os juros, se necessário, para uma direção mais restritiva. “Porém, deixaram aberto que devem elevar os juros em 50 ou 75 pontos-base. Abordaram a preocupação com a guerra na Ucrânia, lockdowns na China que podem intensificar problemas na cadeia de produção e reforçam que continuam monitorando inflação a risca. E deixam claro que, devido às perspectivas de inflação terem se deteriorado, agiram de forma mais firme elevando os juros na última reunião em 75 pontos-base”, avalia.
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Para Oliveira, a ata “reflete o passado”, havendo uma mudança de cenário nas últimas semanas. “O mercado precifica uma recessão agora. O que vemos é que o Fed já tem espaço para ser mais frouxo no aperto monetário. A curva já não mostra uma alta de 75 pontos, mas sim de 50 pontos. O problema agora são os dados pela frente que vão fazer preço. Agora, a preocupação do mercado é o que o Fed irá fazer para evitar esse cenário de recessão nos EUA nos próximos meses”, aponta.
O Fed ainda destacou no documento que começou a redução do balanço em junho e carteira deverá diminuir cerca de US$ 400 bilhões até o final de 2022
O desembarque começou em junho, sob os limites mensais iniciais de resgates de US$ 30 bilhões para títulos do Tesouro e US$ 17,5 bilhões para dívida de agência e títulos garantidos por hipotecas de agência (MBS).
(com Reuters e Estadão Conteúdo)
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