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SÃO PAULO – Previdência, eleições, Trump, Temer, Lula, Bolsonaro, sol, chuva… Afinal, o que explica o mergulho do Ibovespa, que saiu da máxima histórica de 78 mil pontos no final de outubro para os 70 mil pontos alcançados na última semana? “Nada”, afirma um dos gestores mais badalados (e vitoriosos) do mercado brasileiro. Para Marcio Appel, que comanda a gestão da Adam Capital, a queda recente é uma mera realização provocada pela saída de estrangeiros: “como não teve mudança nos fundamentos de longo prazo, acredito que os preços estão extremamente atraentes nos níveis atuais”, diz o gestor em entrevista exclusiva ao InfoMoney concedida após evento da XP Investimentos na última quinta-feira (16). (curiosamente, o Ibovespa subiu mais de 4.000 pontos nos três pregões entre 16 e 21 de novembro, voltando para a faixa dos 75 mil pontos).
Após 7 anos de uma excelente performance a frente do fundo multimercado Safra Galileo, Appel decidiu abrir sua gestora própria no Rio de Janeiro junto com Andre Salgado. Os primeiros dois fundos da casa, Adam Advanced e Adam Macro, nasceram em 29 de abril de 2016 e já acumulam até 20 de novembro ganhos de 61,1% e 33,6%, respectivamente – ou 319% e 175% do CDI acumulado no período. Um terceiro fundo foi lançado em junho deste ano, o Adam Strategy. Por ter menos de 6 meses de vida, a gestora não pode apresentar a rentabilidade dele, mas calculando a rentabilidade da cota disponibilizada no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) vemos que ele acumula ganhos de 7,80% nestes quase 5 meses, ou 240% do CDI. Juntos, estes três fundos superam R$ 18 bilhões de patrimônio, cifras impressionantes para uma asset independente e com pouco tempo de vida – o que evidencia o prestígio que o engenheiro formado no ITA construiu com seus resultados.
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Appel diz que segue gostando de Brasil, tendo preferência por posições em ações e câmbio (ou seja, real contra dólar). Para ele, a recuperação econômica parece bastante disseminada, o que reforça a tese de que a bolsa caiu nas últimas semanas por saída de estrangeiro. “Não lemos a realização recente do mercado como uma mudança de fundamento de longo prazo”, diz o gestor. Até a metade de novembro, tivemos uma saída líquida (resgates menos aplicações) de quase R$ 3 bilhões – no acumulado do ano, o saldo ainda é positivo na casa dos R$ 10 bilhões. Como os “gringos” respondem por pouco mais de 50% do giro financeiro no mercado brasileiro de ações, a pressão vendedora nos papéis é quase que inevitável com esta saída.
Mas o que está motivando essa saída no curto prazo? Appel responde que não sabe, mas isso nem de longe incomoda o gestor: “as pessoas têm grande necessidade de explicar as oscilações de curto prazo (…) Mas a verdade é que boa parte do ruído não tem a ver com nada, às vezes o mercado está simplesmente tomando uma direção própria. Essa oscilação é totalmente normal”, explica.
Sobre as eleições de 2018, o gestor também foi bem enfático ao dizer que não está muito preocupado com eleições, mas sim com os fundamentos da dinâmica da economia. “Somos sempre assim, buscamos fugir de decisões políticos. No caso das eleições, há mais chances de surpreender positivamente do que negativamente, esse é meu ponto”, diz o engenheiro formado no ITA.
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Confira abaixo os principais trechos da conversa com Marcio Appel:
Gostamos de Brasil, mas desfizemos nossa posição em juros
Seguimos gostando de Brasil. Temos um prêmio razoável tanto em bolsa quanto em câmbio. Realizações são super normais ao longo do tempo, não dá pra pensar que esses investimentos vão andar de forma linear ao longo do tempo, não é assim que acontece em nenhum lugar nunca. Então, não lemos a realização recente do mercado como uma mudança de fundamento de longo prazo. Acho que o estrangeiro tem saído do mercado brasileiro e isso impactou o preço de ativos, mas tanto do ponto de valor quanto de fundamento a recuperação econômica parece bastante disseminada. A inflação parece muito tranquila e os fundamentos seguem muito saudáveis. Só que o estrangeiro está saindo, todas as indicações são de que estrangeiros estão diminuindo participação em ativos brasileiros, e isso provoca essa correção de preços.
Nem sempre os movimentos do mercado têm explicação
É difícil… As pessoas têm grande necessidade de explicar as oscilações de curto prazo… Pra imprensa é muito bom, porque quando oscila sempre tem motivo de notícia, “caiu por causa da previdência”, “subiu porque fulano pediu demissão”, sempre tem algo assim. Mas a verdade é que boa parte do ruído não tem nada a ver com essas causas, às vezes ele está simplesmente tomando uma direção própria. Essa oscilação é totalmente normal, não teve mudança de fundamento e por isso eu acho que os preços são extremamente atraentes nos níveis atuais. O problema de quem fica em “mono mercados” é que tem uma relação ‘risco x retorno’ mais apertada ao longo do tempo, por isso a gente tenta equilibrar essas posições para que esses ruídos nos cause menos efeitos. Assim, os ruídos podem machucar mas não matam. Esse é o objetivo.
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Principais posições do fundo
Estamos comprados em ações globais, que é equivalente ao que estamos comprados em ações brasileiras. Gostamos de moedas fortes contra o dólar e estamos vendidos em moedas emergentes de alguns países ruins, o que de certa forma contrabalanceia com nossa posição comprada em real. Na parte de ações lá fora, temos uma carteira comprada e vendida em determinados setores que a gente acha que vão se beneficiar ou serem afetados por essa disruptura tecnológica que deve se intensificar ao longo do tempo. Enfim, é hoje um portfólio extremamente contrabalanceado.
Techs: o setor para comprar e vender na bolsa
Uma boa parte das empresas de tecnologia nos EUA surpreendentemente ainda se valorizaram menos do que deveriam em bolsa, dadas as taxas de crescimento, e não acreditamos em taxas de crescimentos menores do que elas vêm tendo recentemente. Em outros casos, vemos empresas de tecnologia com uma valorização enorme e que poderão ser pegas na contramão desse processo. Então dentro do mesmo setor de tecnologia é possível construir uma carteira equilibrada. Netflix é uma das ações não gostamos, já a Amazon é uma que a gente gosta, por exemplo. Nós gostamos muito de um pedaço do bloco das techs e realmente não gostamos de outro pedaço, por isso temos posições relevantes tanto na parte comprada quanto na parte vendida.
Eleições 2018 não nos preocupa
Não estamos muito preocupado com eleições. Estamos preocupados com os fundamentos da dinâmica da economia. A gente é sempre assim, buscamos fugir de decisões políticas. No caso das eleições, acreditamos que tem mais chances de surpreender positivamente do que negativamente, esse é meu ponto. A gente não tem a leitura de que o mercado está se movimentando por causa disso, o que vemos é que o mercado está super protegido para os eventos de 2018. Isso torna nossa posição mais confortável de se carregar: quando todo mundo está com a posição de que “tudo vai dar certo” é a hora de ficar com medo. Fique mais preocupado quando todos estão tranquilos, e não o contrário.
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Como fica a indústria de fundos no mundo da “Selic a um dígito”?
Já estamos vendo uma transformação clara na melhora da captação dos fundos de ações. Acho que nos fundos multimercados também. A meu ver, a persistência do juro baixo vai causar dois efeitos: o primeiro é que haverá um aumento do risco nas carteiras dos fundos multimercados, para se adequarem à nova realidade do mercado; o segundo é a busca por produtos de renda variável, principalmente para aqueles investidores que têm como objetivo retorno absoluto. Essa preocupação de retorno absoluto é muito importante no Brasil, pois temos um histórico muito ruim de bolsa no longo prazo, então é importante ter gestores que costumam performar bem mesmo em momentos ruins da bolsa. Mas para o cliente é melhor ir em busca do fundo multimercado, não só por este conseguir apresentar uma carteira mais equilibrada mas também porque os fundos de ações que tiveram retorno absoluto são poucos e a maioria deles está fechada para novas captações.
Adam: voltando a “fugir” do consenso
A gente comentou na última carta que saímos da posição de juros de setembro para outubro. Outubro foi um mês bom no sentido de mostrar nossa descorrelação em relação ao mercado, pois foi um mês que muita gente sofreu com a posição de juros. Não que a gente não tenha sofrido também, mas nosso portfólio internacional foi mais do que suficiente para compensar a má performance dos ativos brasileiros. Espero que com o passar do tempo a gente continue se descorrelacionando cada vez mais do mercado, que é um pouco do que eu fiz a minha vida inteira: eu sempre costumei a operar sem seguir o consenso. Ao longo deste um ano e meio de Adam coincidentemente também gostamos do mercado de juro assim como o consenso do mercado, o que fez nossa performance ficar atipicamente mais correlacionada com ele. Em outubro, já começou a mostrar alguma descorrelação, e isso foi bom.
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