Ex-chefe do BC critica governo e diz que Eike não é culpado pela queda da bolsa

Armínio Fraga diz que problemas econômicos são muito mais por conta de fatores internos e chama a atenção para queda da bolsa brasileira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Em entrevista ao Wall Street Journal, o ex-presidente do Banco Central do Brasil, Armínio Fraga, fez a sua análise sobre o atual momento vivido pela economia brasileira e destacou as suas projeções para o Brasil ressaltando que, apesar dos problemas, o País ainda possui boas perspectivas. “É muito cedo para jogar a toalha e dizer que o Brasil tem problemas que não possam ser resolvidos”, destacou.

Fraga afirmou à reportagem do jornal norte-americano que os problemas econômicos brasileiros, como o PIB (Produto Interno Bruto) andando a passos lentos e a inflação alta, são muito mais influenciados por fatores internos, pelo fato do governo não ser capaz de reduzir as políticas econômicas intervencionistas e conter os gastos. 

“Nossos maiores problemas são internos, como sempre”, afirmou Fraga, que foi presidente do BC entre 1999 e 2002 no governo de Fernando Henrique Cardoso e que ganhou credibilidade através dos programas de estabilização e com a introdução das metas de inflação. Atualmente, o ex-presidente do BC toma conta da Gávea Investimentos, empresa que ajudou a fundar em 2003 e que tem US$ 7 bilhões em ativos sob gestão.

Ele destaca que os fatores externos, como o crescimento mais lento da China e a possível retirada dos estímulos do Federal Reserve foram um problema bem menor do que resolver os próprios conflitos no cenário interno.

A partir de 2006, apontou o ex-presidente do BC, a política econômica do ex-presidente Lula e de sua sucessora, a atual presidente Dilma Rousseff, tem sido muito estatista, aumentando o papel dos bancos públicos enquanto mostra menos preocupação com a eficiência de negócios e a infraestrutura inadequada. “Este modelo não foi capaz de entregar a taxa esperada de crescimento”, aponta Fraga. 

Tripé ameaçado
O ex-presidente do Banco Central se mostra preocupado com dois dos três principais pilares que foram parte do legado do governo FHC: responsabilidade fiscal e metas de inflação. O terceiro pilar, a taxa de câmbio flutuante, preocupa menos Fraga. 

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De acordo com Fraga, o governo precisa reduzir a inflação para o centro da meta, de 4,5% ao ano e depois começar a reduzir lentamente a própria meta. Para ele, o governo usa uma medida destinada ao fracasso, que é tentar administrar a inflação através do controle de preços.

Com relação aos protestos que se espalharam pelo país a partir de junho, Fraga afirmou que os brasileiros têm toda a razão de estar descontentes, uma vez que os impostos são altos e há deficiências sobre educação, saúde e transporte.

Por outro lado, o governo tem feito algumas mudanças, como retomada da venda de concessões para exploração de petróleo para empresas privadas, assim como de aeroportos, além de novas leis de incentivos aos portos. No entanto, outras medidas, como subsídio à gasolina, “asfixiam” a Petrobras (PETR3;PETR4).

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Bolsa e Eike: empresário não pode ser responsabilizado pelas perdas
Na semana passada, para o mesmo jornal, Fraga destacou ainda que o empresário Eike Batista não pode ser responsabilizado pelas perdas no mercado de ações brasileiro. “Nossos problemas são de crescimento, falta de investimentos, não Eike”, afirmou.

Ele destacou que se desfez dos investimentos em OGX Petróleo (OGXP3) há algum tempo e detém uma participação minoritária na MPX Energia (MPXE3). De acordo com Fraga, a companhia de energia tem boa qualidade, o que o coloca em uma posição confortável em relação aos investimentos na empresa. 

Apesar da imagem ser corroída com a queda de Eike, ele avalia que as marcas não devem durar muito tempo no mercado de ações. 

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“Eu vejo essa história com tristeza também”, disse Fraga. Ele disse, no entanto, acreditar que o mercado acionário brasileiro avançou em governança corporativa ao longo dos anos e está pronto para manter o seu curso, apesar da enorme volatilidade e das perdas com as ações das empresas do grupo EBX.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.