“Evitamos caridade, fazemos investimento”: filho de Buffett luta contra a fome no mundo

Herdeiro da Berkshire Hathaway, Howard Buffett é fazendeiro, fotógrafo, auxiliar de xerife e membro do conselho da Coca-Cola. Por meio de sua fundação, ele já doou mais de US$ 775 milhões no combate à fome ao redor do mundo

Publicidade

SÃO PAULO – O que você faria se seu pai fosse o terceiro homem mais rico de todo o planeta? Para Howard Buffett, filho mais velho de Warren – o famoso Oráculo de Omaha -, a resposta não parece difícil: tornar o mundo um lugar melhor. O primogênito do CEO (chief executive officer) da Berkshire Hathaway é um fazendeiro do meio-oeste americano, que se dedica à causa da erradicação da fome no mundo, conforme conta reportagem especial da Bloomberg Business. Aos apressados, ele diz que não se trata de ações de caridade, mas verdadeiros investimentos para que as pessoas possam construir condições de vida melhores a médio e longo prazos.

Segundo levantamento da matéria, a fundação de Howard já teria doado cerca de US$ 775 milhões no combate à fome sobretudo em países em conflitos, em esforços que incluem a técnica sustentável de cultivo e aprimoramento do acesso a água potável. Na lista de prioridades da ação filantrópica estão países como República Democrática do Congo e Ruanda, onde o filho do Buffett conhecido pelo mercado tenta viabilizar um investimento total de US$ 700 milhões na próxima década.

Além de fazendeiro, Howard Buffett, aos 60 anos, é fotógrafo, auxiliar de xerife, e membro do conselho da Coca-Cola – tendo em vista sua posição na Berkshire Hathaway, da qual um dia será presidente. Uma das frases que gosta de dizer é que uma pessoa tem apenas cerca de 40 anos para fazer a diferença no mundo. Recém-chegado de Ruanda, o filho do magnata foi entrevistado pela jornalista Betty Liu. O InfoMoney separou alguns destaques da conversa. Confira:

Continua depois da publicidade

Bloomberg Markets – Qual é a diferença entre ações de caridade e filantropia?
Howard Buffett – Tentamos evitar caridade se conseguimos. Pensamos que o que fazemos é investimento. Se você observar o que estamos fazendo na República Democrática do Congo, onde estamos construindo três plantas hidroelétricas, isso é um investimento. As pessoas terão eletricidade em suas casas, negócios que serão construídos, e fazendeiros vão prosperar. É isso que nossas aproximações conquistam.

BM – Por que evitar a caridade?
HB – A caridade não resolve o problema de longo prazo. Ela endereça a situações imediatas, mas não resolverá nada. Para mim, a caridade entra quando não há nenhuma boa oportunidade de se fazer investimento, mas você ainda sentirá que há algo que deveria ser feito. Nos locais mais pobres, há limitados recursos, infraestrutura e governança.  Em conjunto, isso pode criar um ambiente muito difícil. Portanto, às vezes, você não consegue fazer puramente uma forma ou outra, mas, em vez disso, acaba fazendo os dois.

BM – O que distingue o senhor e sua fundação de outros filantropos e organizações?
HB – Ao contrário da composição de uma fundação privada, nós realmente não temos doadores. Não temos que sair e dizer quão bem-sucedidos nos somos, que ótimo trabalho fizemos, ou convencê-los que eles deveriam nos dar mais dinheiro. Nós temos apenas um dono: meu pai. Nós não temos que fazer 100, 200 ou 500 pessoas felizes, que é uma grande bênção. É a diferença entre ser uma empresa privada e uma empresa pública.

BM – O que o senhor aprendeu com seu pai?
HB – Não temos tempo suficiente para isso. Mas ele é a razão pela qual a realização de investimentos é mais atraente que a caridade. Eu sinto que isso é o que ele me ensinou. Você quer que as coisas deem resultado. Você quer que elas impactem. E ele sempre diz para operar em seu círculo de confiança. Nós não queremos sair para áreas que não entendemos. Também mantemos uma equipe muito enxuta.

BM – O senhor já conversou com seu pai antes de fazer um grande investimento?
HB – Somente se eu não estou 100% seguro sobre alguma coisa. Não há ninguém melhor para pedir conselhos que ele. Mas eu aprendi que se você pedir um conselho a ele, você vai ter que tomá-lo. Então, sou um pouco seletivo sobre o que peço.

BM – Como o senhor organiza suas prioridades?
HB – Exite uma série de coisas que nós não envolvemos. Você não os vê fazendo nada na área da saúde. Você não vai nos ver fazendo ações na educação, a menos que se relacione com a agricultura. A coisa mais difícil para mim é manter o foco, porque você conhece pessoas fantásticas, vê ideias legais e diz: “Uau, isso seria legal”. E “eu posso me dar ao luxo de ajudar aquela pessoa”. É fácil se distrair.

Continua depois da publicidade

A íntegra da entrevista pode ser lida clicando aqui.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.