Eventual disputa por Correios entre Magalu, Amazon e outras companhias promete ser acirrada, apontam analistas

Após fala de ministro sobre possível venda e interessados na estatal, analistas apontam que processo será longo - mas que compra faz sentido para empresas

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Na noite da última quarta-feira (16), a fala de Fábio Faria, ministro de Comunicações do governo, pegou boa parte do mercado de surpresa.

Durante live, o ministro sinalizou uma possível privatização dos Correios – em greve desde agosto. Mas, mais do que isso, ele citou os nomes de possíveis interessadas. Faria afirmou que 5 companhias estariam no páreo pela companhia, trazendo o nome de quatro delas: o Magazine Luiza (MGLU3), a Amazon (AMZO34) e as empresas de logística DHL e a FedEx.

Para a equipe de análise da Levante Ideias de Investimentos, para o Magazine Luiza, a aquisição dos Correios certamente teria um impacto transformacional na sua tese de investimentos.

Na mesma linha, Luis Sales, analista da Guide Investimentos, apontou que a presença do Magalu entre os interessados condiz com sua estratégia de reduzir seus prazos de entrega. A companhia, por sua vez, informou que não comentará a fala do ministro.

Faria destacou ainda a greve dos funcionários dos Correios como um dos direcionadores para a privatização da companhia uma vez que, como uma empresa privada, o mesmo não ocorreria.

“Acho que isso (a greve) foi muito ruim pra eles, porque é um momento em que todos precisam dar o melhor de si”, apontou.

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Já a Associação dos Funcionários dos Correios, Adcap, criticou em nota o plano de privatização, que chamou de “iniciativa lesa-Pátria que o governo tenta levar adiante de vender os Correios a qualquer custo” e que a venda da estatal seria um “negócio da China” para qualquer comprador.

Para a Levante, a recente greve dos funcionários dos Correios pode ter sido uma “espécie de gotad’água” para diversos agentes da sociedade ainda indecisos sobre o tema, em especial à ala mais cética/avessa às privatizações, o que pode diminuir a resistência de setores da sociedade à privatização.

“Neste tipo de trâmite, a testagem da comunicação e o apoio da população é algo bastante relevante e, neste caso, tudo indica que existe uma possibilidade real da estatal ser mesmo privatizada”, avalia a equipe de análise da casa de research.

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Os analistas apontam ainda que, em geral, a notícia seria positiva como um todo para o ambiente de negócios no Brasil, pois a privatização dos Correios significaria um importante avanço na agenda econômica do governo e alguma redução do “custo Brasil”, em especial para alguns setores que dependem da infraestrutura de entregas e logística.

“Acreditamos que a aprovação da privatização dos Correios traria um impacto positivo no mercado devido a queda no ‘prêmio de risco’ que os investidores requerem para investir no Brasil”, ressaltam.

Por outro lado, eles apontam que a concretização do negócio está bastante distante e a disputa pelo ativo, caso ocorra, deve ser bastante acirrada e contar com mais concorrentes além dos quatro citados.

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Leia também: Com 10 greves em 9 anos, os Correios seguem perdendo relevância

“O Mercado Livre (MELI34) certamente deve ser um possível interessado, o que transformaria a disputa pelos Correios uma ‘briga de gente grande’”, afirmam. A Guide Investimentos também ressalta que a intenção de cinco empresas na privatização dos Correios mostra que o processo não seria vazio.

Reduzindo prazos

Magalu e Amazon aparecem como algumas das gigantes que travam uma corrida para reduzir os prazos de entrega de seus produtos e conquistar mais clientes. No início deste mês, a Amazon inaugurou um novo centro de distribuição em Cajamar (SP) enquanto que, segundo o jornal O Globo, o aumento das vendas em alguns estados como no Rio de Janeiro estimularam a decisão do Magalu de abrir um centro de distribuição no estado ainda em 2020 e lojas físicas a partir de 2021.

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Durante a sua fala na véspera, Faria apontou que o Congresso Nacional deve decidir como funcionaria o controle acionário e as obrigações da empresa que vier a comprar os Correios no processo de privatização. ”Tem empresas interessadas em ocupar esse espaço, e elas sabem que você recebe o bônus e o ônus também, mas é uma empresa saudável.”

Ele ainda afirmou ter pedido que o tema ficasse sob sua responsabilidade e que conversará com líderes do Congresso e os presidentes da Câmara e do Senado para articular a tramitação do projeto. Por lá, devem ocorrer debates acerca de alguns temas polêmicos, como a universalização de serviços (entregas em locais distantes dos grandes centros urbanos a preços razoáveis, serviço que pela lógica econômica é pouco atrativo).

Assim, engana-se quem espera que o processo seja célere, ainda mais levando em conta a complexidade da companhia. A Levante apontou, antes da abertura do pregão, que a notícia não deveria fazer preço na ação.

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Por sinal, os ativos MGLU3 caem mais de 2%, em linha inclusive com as empresas de tecnologia no exterior. Amazon, Apple e Mercado Livre registram baixas entre 2% e 3% na Nasdaq no pregão, em um mês marcado por queda dos ativos do setor após as fortes altas pela percepção de que as companhias de tecnologia saíram como as “grandes vencedoras” durante a pandemia (veja mais clicando aqui). Contudo, as perspectivas para o setor seguem positivas.

Apesar da baixa superior a 6% em setembro, os papéis MGLU3 seguem como a maior alta do índice em 2020, com ganhos superiores a 82%. Agora, a possível disputa pelos Correios será um novo fator a ser monitorado de perto, mesmo que o desfecho ainda pareça longe de acontecer.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.