EUA: plano de ajuda às hipotecas cria mais expectativas do que soluções

Analistas avaliam com desconfiança o socorro dado pelo presidente Barack Obama aos contribuintes

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – O plano de US$ 275 bilhões anunciado pelo presidente norte-americano Barack Obama destinado para o setor imobiliário do país trouxe novamente a esperança de resolução para os investidores e principalmente para os cidadãos da maior economia do mundo, que vem arcando com altas taxas de endividamento após o estouro da bolha subprime.

Apesar da ajuda, analistas consultados pela agência de notícias norte-americana CNBC questionam o vigor das medidas anunciadas e advertem para possíveis consequências maléficas para o mercado.

Plano de ajuda?

Uma das cláusulas do plano diz respeito à redução de taxas de juros cobradas aos devedores e refinanciamento das hipotecas.

Em resposta, a CNBC questiona por que, em vez de cortar taxas esporádicas, não reduzir as amortizações? Um movimento mais radical, mas, na visão dos analistas, muito mais eficaz. Por que fornecer ajuda limitada aos devedores e não se basear na discrepância entre valor das hipotecas e valor das casas, a fim de equalizar os montantes e favorecer o contribuinte?

Como já se sabe, a recuperação dos bancos está intimamente ligada à resolução da crise mundial. Ou seja, as instituições financeiras precisam equacionar os problemas de seus balanços para só assim voltar a fluência do sistema financeiro.

Entretanto, uma medida que visa cortar taxas implica menores receitas para os bancos, que se traduz em desvalorização da cesta de ativos hipotecários ofertada, e por sua vez deve pressionar o valor das ações. Vale lembrar que os bancos norte-americanos retêm grandes quantias neste segmento.

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Em contrapartida, a tentativa de evitar a inadimplência por meio da redução dos juros cobrados estimula o saldo das hipotecas por parte dos inadimplentes. No final das contas, o banco receberá, teoricamente, o valor integral devido.

Cautela acima de tudo

Apesar disso, reconhece-se que o socorro às hipotecas traz certo alívio para todo mundo, criando uma expectativa positiva quanto à resolução dos problemas sobre as dívidas retraídas e elevando, no limite, até a propensão de consumo.

Mas a redução dos preços cobrados será suficiente para que todos saldem suas dívidas e tornem a alavancar o setor? Para os analistas, há uma grande probabilidade de que as hipotecas norte-americanas, que no caso são em muito financiadas pela Fannie Mae e Freddie Mac, estejam altamente desvalorizadas quando o processo de ajuda começar, assim como há projeções de queda da atividade econômica para este ano.

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Por todos estes motivos, os analistas pedem muita cautela para com o plano de ajuda anunciado, ao passo que também não acreditam que tal seja um trampolim para a recuperação do mercado.