EUA barram Chevron na Venezuela – e petroleiras brasileiras podem ganhar com isso

Com suspensão das operações da petroleira americana, demanda pode migrar para produtores brasileiros, beneficiando PRIO, Equinor e Brava no mercado internacional

Murilo Melo

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A decisão do governo dos Estados Unidos de ordenar a interrupção das operações da Chevron (CVX) na Venezuela pode abrir espaço para produtores brasileiros de petróleo pesado no mercado internacional, afirma o Bradesco BBI em relatório enviado ao mercado nesta sexta-feira (14).

O banco diz que a necessidade da gigante americana de substituir o óleo venezuelano utilizado em sua refinaria de Pascagoula, no Mississippi, pode estimular uma busca por alternativas na América Latina, Oriente Médio e México, com o Brasil surgindo como um dos principais candidatos.

Desde que as licenças especiais foram concedidas à Chevron em 2023, as exportações de petróleo venezuelano para os EUA cresceram expressivamente, alcançando cerca de 230 mil barris por dia, o equivalente a um terço das exportações do país sul-americano.

Com a suspensão dessas operações, a empresa precisa reorganizar sua cadeia de suprimentos para manter a produção da refinaria, que depende de petróleo pesado semelhante ao da Venezuela.

A escolha do Brasil como fornecedor pode ser favorecida por fatores logísticos e comerciais, segundo os analistas. A menor distância em relação aos Estados Unidos reduz custos de transporte e aumenta a competitividade do petróleo brasileiro em comparação com o de regiões mais distantes, como o Oriente Médio. Além disso, o risco de tarifas sobre o petróleo brasileiro é menor do que sobre o mexicano, o que pode tornar o Brasil uma alternativa mais viável para a Chevron.

Caso o Brasil absorva um terço da demanda da empresa americana, cerca de 77 mil barris por dia poderiam ser adquiridos de produtores nacionais, com maior concentração em óleos pesados, já que o petróleo exportado pela Chevron a partir da Venezuela varia entre 10 e 32 graus American Petroleum Institute gravity (API), uma medida da densidade do petróleo em comparação com a água. A produção brasileira desse tipo de petróleo ocorre principalmente em campos offshore, já que os campos onshore costumam abastecer o mercado doméstico.

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Entre os possíveis beneficiados estão empresas como PRIO (PRIO3), Equinor (EQNR) e Brava Energia (BRAV3), que operam campos produtores de petróleo pesado no país. Segundo o Bradesco BBI, campos como Papa-Terra, Atlanta e Peregrino possuem características que atendem ao perfil buscado pela Chevron. Peregrino, operado pela Equinor, conta com participação de 40% da PRIO, enquanto os campos da Brava também figuram entre as opções.

Atualmente, esses tipos de petróleo são negociados com um desconto expressivo em relação ao Brent, muitas vezes superior a US$ 10 por barril, devido à alta densidade. Um aumento na demanda pode reduzir esse desconto, melhorando as margens para os produtores brasileiros.

De acordo com os cálculos do Bradesco BBI, uma diminuição de US$ 1 por barril nesse desconto pode gerar um aumento de R$ 1 por ação para a Brava e de R$ 2 por ação para a PRIO.

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Se confirmado, esse movimento pode alterar as dinâmicas de preços e margens para as empresas do setor, além de reforçar a posição do Brasil como fornecedor relevante no mercado de petróleo pesado. A decisão da Chevron ainda dependerá de fatores como tarifas sobre importação de petróleo, disponibilidade de oferta e condições comerciais.