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SÃO PAULO – O economista que atingiu o status de rockstar após vender mais de dois milhões de cópias do seu livro no mundo todo, Thomas Piketty, quer voltar a ter uma vida normal. Autor de O Capital no Século XXI, ele deu entrevista em almoço com o Financial Times na qual afastou de si a pecha de “comunista” e disse acreditar no capitalismo, estando “vacinado” contra as ideologias de extrema esquerda depois de visitar Moscou após a queda do muro de Berlim e o fim do regime soviético em 1991.
Desde 2014, quando o principal livro de Piketty foi lançado nos Estados Unidos, uma luta ferrenha entre os seus detratores e seus seguidores se travou em todas as instâncias da mídia. Embora o seu extenso levantamento de dados sobre renda e distribuição da riqueza tenha sido majoritariamente elogiado, suas conclusões de que o rendimento do capital normalmente excede o crescimento econômico e que o capitalismo, quando em sua forma pura de livre mercado, tende à acumulação infinita pelos 1% mais ricos, continua sendo imenso tema de controvérsia.
“O sucesso do meu livro mostra que existem muitas pessoas que não são economistas estão cansados de ouvir que estas questões são complicadas demais para elas”, disse o economista ao FT. Piketty criticou os economistas que, segundo ele, se escondem por trás de complexos modelos matemáticos e disse que sua mãe, que raramente lê livros acadêmicos, entendeu tudo na sua obra.
O economista também afastou a hipótese que sua família, tradicionalmente composta por militantes de esquerda, tenha de alguma forma influenciado o seu interesse pelo tema da desigualdade. Ele disse que dificilmente se discutia política em casa e que ele se lembra de ter ficado em choque ao ver as filas na frente das lojas e ter ficado vacinado contra o comunismo. “Eu acredito no capitalismo, na propriedade privada e no livre mercado”, afirmou.
No entanto, ele questiona como as pessoas ficaram tão amedrontadas com o capitalismo e a desigualdade nos séculos XIX e XX que foram capazes de criar uma “monstruosidade” como o regime soviético.
Por fim, Piketty reconheceu que o imposto global que ele sugere para tributar as grandes fortunas é um “sonho utópico”, mas diz que uma taxa de confisco de mais de 80% dos rendimentos excedendo US$ 1 milhão funcionaria. Segundo ele, uma tributação assim existia cinco décadas antes do presidente Ronald Reagan. “Isso não matou o capitalismo naquela época e a produtividade crescia até mais rápido”. “Está tudo bem pagar alguém 10 ou 20 vezes o salário médio de um trabalhador, mas será que nós realmente devemos pagá-los 100 ou 200 vezes para que eles coloquem os seus ‘traseiros’ para trabalhar?”, questiona.