Ethereum está mais barato de usar mesmo antes da Fusão – mas não pelo motivo que queríamos

Custo médio de uma transação está hoje a menos da metade do necessário para usar a rede no final de julho

CoinDesk

(Nenad Novakovic/Unsplash)
(Nenad Novakovic/Unsplash)

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*Por Daniel Kuhn

As taxas de negociação do Ethereum (ETH) estão em seus níveis mais baixos em dois anos. O movimento acontece antes de um evento muito esperado pela comunidade, conhecido como “Merge” (“Fusão”, em português), amplamente visto como um motor para elevar o preço da criptomoeda.

O custo médio de uma transação está hoje inferior a 12,5 gwei, unidade de medida das taxas de transação necessárias para executar operações no Ethereum. O valor atual representa menos da metade do necessário para usar a rede no final de julho.

Essa é uma boa notícia para os usuários do Ethereum, que há muito reclamam das taxas da rede. No entanto, existem menos usuários para se beneficiar. Na prática, os custos caem porque a demanda também está baixa.

Apesar da queda no uso, o próprio Ethereum é cada vez mais visto como uma aposta otimista. A expectativa é de uma transição da rede para o sistema de prova de participação (proof-of-stake, ou PoS) no próximo mês, o que mudará radicalmente sua estrutura de custos – tornando-a teoricamente mais eficiente e mais barata de usar.

Há alguns que também antecipam que a transição do Ethereum pode tornar a rede deflacionária – na medida em que pode eventualmente “queimar” mais tokens do que imprime, aumentando assim o valor de qualquer ETH nas mãos do investidor. Diferentemente do Bitcoin (BTC), que tem uma oferta fixa, ninguém conhece a oferta total do Ethereum.

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Moeda deflacionária?

Samual Haig, do portal The Defiant, observa, contudo, que o declínio do uso significa que a rede está “queimando” menos tokens. Ele traz isso à tona para lançar dúvidas sobre a “narrativa deflacionária” que pode, em parte, influenciar os compradores.

De fato, há um grande grupo de apoiadores do Ethereum que dizem que o ETH é “ultra-sound money” (moeda estável, sadia, em português). Para eles, não é apenas uma moeda para alimentar o “computador mundial” , mas também, um investimento para rivalizar com a ideia de Bitcoin como o “ouro digital”.

Outros, como a exchange CoinList, são menos ingênuos, mas ainda acham que a Fusão é “uma mudança estrutural fundamental” que provavelmente tornará o Ethereum deflacionário.

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No ano passado, para reduzir os custos de rede, os desenvolvedores do Ethereum lançaram o EIP-1559 (Ethereum Improvement Proposal), que introduziu um mecanismo de queima para tirar o ETH de circulação. Isso funciona queimando uma parte das taxas de transação e se ajusta com base no espaço do bloco e na atividade on-chain (da blockchain).

Desde a atualização EIP-1559, liberada em agosto do ano passado, o Ethereum de fato registrou dias e até semanas deflacionárias – o que pode estar correlacionado com ralis de mercado ou, às vezes, com projetos bem sucedidos de tokens não-fungíveis (NFT) que rodam nesta blockchain.

Cerca de 58.000 ETH (no valor aproximado de US$ 160 milhões na época) foram queimados após a venda da coleção Otherdeeds da Yuga Labs, o maior lançamento de NFTs até hoje, observou Haig.

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No entanto, o Ethereum queimou apenas cerca de 7.500 ETH na semana passada – o nível mais baixo até agora – devido ao declínio do uso da rede. Haig informou que, se esta tendência continuar, a criptomoeda não será deflacionária após a Fusão.

As estimativas variam, mas espera-se que 1.649 ETH entrem em circulação após a atualização, provenientes de criptos trancadas desde o ano passado.

“A demanda por espaço em bloco deve aumentar em cerca de um terço dos níveis atuais para que a taxa de queima acompanhe a emissão de ETH pós-Fusão”, escreveu Haig, em 8 de agosto.

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grafico ethereum
Média de taxas de rede cobradas para operar na rede Ethereum

Isso não significa que o Ethereum nunca será deflacionário, mas que se você olhar o gráfico histórico, as baixas taxas cobradas indicam que o uso atual parece ser um estado estacionário de uma blockchain em meio a um mercado de baixa. Desde a fundação da rede, em 2017, até meados de 2020, as taxas de rede geralmente se mantiveram abaixo de 20 gwei.

Ou ao menos foi isso que aconteceu até que a plataforma de finanças descentralizadas (DeFi) Compound (COMP) deu o pontapé inicial na produção do que era conhecido como “DeFi Summer” (O Verão DeFi). As taxas médias de transação aumentaram para mais de 700 gwei na época, a mais alta de todos os tempos, e vêm caindo desde então.

Curiosamente, o mercado de alta entre 2017 e 2018 – que acelerou a atualização do Ethereum depois que a coleção de NFTs CryptoKitties entupiu a rede – dificilmente é representada. O bull run acontece quando o mercado se infla de investidores, causando um aumento de volume de transações de criptomoedas.

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As taxas de rede históricas não são uma representação perfeita para o uso real, principalmente considerando as várias mudanças implementadas nas estruturas de emissão e custo do Ethereum ao longo dos anos.

É importante destacar que ainda não se sabe como a transição da rede influenciará a demanda. Os custos vão cair, mas, como vemos hoje, isso não é suficiente para que as pessoas corram para realizar transações.

Talvez a rede inunde com pessoas que estavam curiosas sobre criptomoedas, mas não queriam usá-las devido a preocupações com sua pegada de carbono.

Por enquanto, tudo o que podemos dizer é que o custo para usar o Ethereum hoje está se aproximando do preço médio durante o bear market (mercado em baixa). Se isso significa que o Ethereum será pouco deflacionário após a atualização, que assim seja. Mas, agora é uma boa hora para comprar a coleção CryptoKitties, se você não conseguiu da última vez.

* Daniel Kuhn é repórter e editor-assistente de opinião da coluna “Layer 2” do CoinDesk.

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