Ethereum: atualização “London” é ativada e criptomoeda sobe mais de 5%; veja o que muda

Entre as alterações está a EIP-1559, que reduz as taxas cobradas na rede e abre espaço para a criptomoeda se tornar deflacionária

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Entrou no ar nesta quinta-feira (5) de manhã a aguardada atualização de rede Ethereum, chamada “London”, que traz importantes mudanças no sistema, com potencial para levar o Ether (token da rede) para novas altas expressivas.

Entre as diversas alterações dessa atualização está a Proposta de Melhoria do Ethereum 1559 (EIP-1559, na sigla em inglês), que reduz as taxas cobradas na rede e abre espaço para a criptomoeda se tornar deflacionária.

Apenas essas duas novidades já seriam suficientes para animar os investidores, já que deixam a rede mais barata, rápida e com pressão de alta sobre os preços. Porém, essas não foram as únicas atualizações da “London”.

Espera-se que esse seja apenas o primeiro passo para levar ao Ethereum 2.0, que deve mudar drasticamente seu sistema, passando a adotar uma mineração baseada no modelo de prova de participação, ou PoS, diferente do modelo de prova de trabalho (PoW) utilizado atualmente.

Com isso, a rede pode se tornar mais econômica em termos de gasto de energia, com consequente redução de seu impacto ambiental, um tema que tem sido bastante discutido e que pesou recentemente para o Bitcoin após falas do CEO da Tesla, Elon Musk.

Orlando Telles, diretor de Research da Mercurius Crypto, casa de pesquisa em criptoativos, lembra que dos maiores problemas que o Ethereum tem enfrentado são as altas taxas, dada a falta de escalabilidade da sua rede. “Essa realidade tem sido um grande gargalo para o segundo maior criptoativo da atualidade e tem motivado desenvolvedores a buscar as mais diversas soluções para esse problema”, explica.

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Confira as mudanças que essa atualização fará no Ethereum:

Taxas previsíveis

Antes da atualização, os usuários da rede Ethereum só conseguiam fazer uma estimativa de quanto irão pagar em taxas para realizarem as transações, o chamado gas, criando um tipo de jogo de adivinhação e que levou até a criação de sites focados em ajudar os clientes da rede. Com a atualização, passa a existir um preço médio fixo, acabando com essa incerteza de valores.

O Ethereum é uma plataforma descentralizada focada na execução dos chamados “contratos inteligentes”: operações que são feitas automaticamente quando certas condições são cumpridas. Sendo que o Ether é a moeda digital dessa rede, usada para o pagamento das transações dentro dessa rede.

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Diferentemente do Bitcoin, o Ether não foi criado para ser um meio de pagamento, mas sim um ativo para recompensar os desenvolvedores que usam a plataforma Ethereum para seus projetos.

Especialistas acreditam que com a implementação da EIP 1559, as taxas cobradas nas transações deverão cair bastante, favorecendo a adoção da rede, em um momento de muitas críticas por conta dos altos custos.

“Este novo formato pretende solucionar essa problemática a partir da estratégia de desenvolver uma taxa base para toda a rede, ajustável e que funcione por meio da taxa de utilização da plataforma”, explica Telles.

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Tim Beiko, gerente de produto sênior da ConsenSys que lidera a equipe de protocolo que implementa o EIP 1559, comparou em março desse ano o ambiente de taxas atual no Ethereum a um posto de gasolina onde cada uma das bombas tem um preço diferente. “[Agora] avaliaremos a demanda pela rede e colocaremos esse preço médio como parte da própria rede”, disse ele para a Bloomberg.

Queima de Ether

Até hoje, os mineradores eram recompensados com o Ether recém-minerado, mais as taxas de gas pagas pelos usuários. Com a atualização, as taxas agora passam a ser “queimadas”, em vez de serem pagas aos mineradores.

Isso ocorre exatamente porque, com os mineradores “controlando” as taxas, havia um crescimento exagerado delas conforme os usuários tentavam ter vantagem para ter suas operações processadas, pagando cada vez mais, prejudicando assim usuários com menos capital para concorrer nessa disputa.

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Como reflexo disso, espera-se que comece a diminuir o número de tokens em circulação, sendo que a rede tem sido cada vez mais usada, principalmente agora com a redução das taxas. Ou seja, o que deve acontecer é uma redução da oferta de Ether no mercado, com uma demanda pelo menos estável, mas em tendência de alta. Esse cenário deve pressionar o preço do ativo para cima.

Vale destacar porém, que esse cenário deflacionário para o Ethereum depende do volume da criação de novas moedas em relação à quantidade que será queimada, que precisa ser maior para resultar na redução de ativos em circulação.

De acordo com estimativas da Dune Analytics, caso essa atualização tivesse ocorrido há cerca de um ano, mais de 2% dos tokens da moeda teriam sido “queimados”, o que faria com que a emissão anual do ativo se tornasse inferior à do Bitcoin

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Aumento do bloco

Outro ponto importante da EIP-1559 é a duplicação do tamanho do bloco do Ethereum. E apesar disso parecer que mais transações serão realizadas por bloco, o seu impacto é outro, já que isso foi projetado para que cada bloco esteja apenas “meio cheio”.

Essa alteração visa ajudar a atenuar os picos de demanda, ajudando as taxas de gas a se manterem estáveis. Com isso, agora a rede tem flexibilidade para acomodar mudanças na demanda, colaborando para haverem menores impactos nas taxas.

Em entrevista à CNBC, Matt Hougan, diretor de investimentos da Bitwise Asset Management, usou uma metáfora de uma balsa para explicar a lógica do projeto.

Se os operadores de balsas definirem o preço de uma passagem muito baixo, eles podem precisar de toda a capacidade extra de assentos para acomodar os passageiros que estão no cais e desejam embarcar pagando a tarifa básica do bilhete.

“Mas o preço aumenta muito rapidamente, e algoritmicamente, ao ponto em que você deve chegar a um preço de compensação que permite que o bloco atinja sua meta de meio cheio e, certamente, permite que todas as transações que deseja passar sejam processadas”, explicou. “Parece muito simples, mas é uma solução de design realmente elegante para um problema que atormenta o ethereum desde o seu início”.

Ethereum 2.0

A atualização London é apenas o início de algumas novidades envolvendo a rede e que devem levar ao Ethereum 2.0, que deve mudar drasticamente seu sistema, aumentando sua escalabilidade e ainda tornando-o mais eficiente e “ecológico”.

Um dos pontos é que a rede deve deixar de usar uma mineração baseada no modelo de prova de trabalho (PoW) e adotar o modelo de prova de participação, ou PoS, que tem como principais impactos a descentralização do ativo e a redução do custo fixo da estrutura de validação.

Entre as modificações promovidas pela Ethereum 2.0 está o formato de blockchain, que tornará o ativo pelo menos 64 vezes mais escalável devido à implementação do modelo de Shards, explica Telles. “Esse upgrade viabiliza uma expansão significativa dos atuais projetos de DeFi e o desenvolvimento de novos modelos de negócio sob a tecnologia da Ethereum”.

Apesar de já prevista há muito tempo, essa atualização animou os investidores, com o Ether registrando um desempenho melhor que outras criptomodas. Às 14h45 (horário de Brasília), o ativo tinha valorização de 5,00%, cotado a US$ 2.811.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.