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A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) foi concluída na noite da quarta-feira (8) com uma decisão em linha com o esperado pela maior parte do mercado ao reduzir a Selic em 0,25 ponto-base, para 10,5%, com uma desaceleração do ritmo após seguidas reduções de 0,5 ponto.
Porém, os detalhes do comunicado que veio junto com a reunião e a forte divisão entre os integrantes do Copom devem dar o tom dos mercados na sessão da próxima quinta-feira (9) e no médio prazo.
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Cabe ressaltar que o EWZ, iShares MSCI Brazil, ETF (fundo de índice) que representa os recibos de ADRs das ações de empresas listadas na bolsa de NY, caía 1,54%, a US$ 31,90, às 19h56 (horário de Brasília), no after market da NYSE, após ter chegado a ter baixa de cerca de 1,8% logo após a decisão do Copom. Esse movimento pode sinalizar uma sessão de aversão ao risco para o investidor, ainda que se deva levar em conta a menor liquidez do ativo no pós-mercado.
Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, as novidades no comunicado do Copom ressaltam o ambiente mais incerto no exterior e no cenário fiscal brasileiro. Essa incerteza fez com que o BC fosse contra a comunicação anterior e decidisse cortar menos os juros do que o sinalizado no comunicado anterior, para agora um corte de 25 pontos-base, algo que já era precificado pelo mercado.
Contudo, mais importante até do que as mudanças na comunicação são os votos divergentes do Copom. “Temos 4 votos divergentes no comitê, sendo que os diretores divergentes foram todos os indicados pelo atual governo. A visão de que os novos diretores são mais lenientes com a política monetária pode gerar uma pressão para os juros longos, dando ainda mais importância para a decisão do presidente”, avalia o economista da Rio Bravo. Assim, mesmo optando por um corte mais brando dos juros, o que a rigor mostraria maior preocupação com a inflação e levaria a uma alta dos juros curtos e queda dos juros longos, a visão de uma composição em breve mais “dovish” pode levar a uma alta das taxas mais longas.
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Cabe levar em conta que a diretoria-colegiada do Banco Central terá maioria indicada pelo presidente Lula (PT) em 2025. Atualmente, a cúpula da autarquia é composta por quatro diretores indicados por Lula, enquanto cinco estão no posto desde a gestão de Bolsonaro. Os próximos mandatos a vencer, em dezembro deste ano, são de Roberto Campos Neto, Carolina Barros e Otávio Damaso.
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Na visão de Valter Bianchi Filho, sócio fundador e diretor de investimentos da Fundamenta Investimentos, a decisão terá bastante repercussão no mercado por conta deste tema, podendo voltar o debate de “interferência política” por conta dos que defenderam o corte mais forte de 0,5 ponto.
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“Claro que a decisão acabou se mostrando mais na linha do que o Campos Neto [presidente do BC] defendeu, ele foi o voto de Minerva, mas vejo grande repercussão porque o próprio comunicado destaca muito que desde a última reunião houve uma mudança importante de cenários”, avalia. Isso porque, apesar da divergência, o comunicado informou que o Comitê, unanimemente, “avalia que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade e expectativas desancoradas demandam maior cautela”.
Assim, além da redução do ritmo de cortes, os pontos destacados pelo BC reforçaram a visão de uma “ata hawkish”, mostrando preocupação com a inflação, mas que por outro lado conflita com a visão de que o BC em um tom “mais duro” terá prazo de validade.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, avalia ainda que outra sinalização importante foi a retirada da sinalização dos passos futuros da política monetária. No último comunicado do Copom, a sinalização era de mais um corte de 0,5 ponto na reunião de maio, o que não ocorreu. Assim, avalia, com a opção por mudar o ritmo de condução da política monetária, o BC indicou que a expectativa de ancoragem com base numa sinalização futura de juros não funcionou neste momento e a instituição opta por não fazer mais isso, o que aumenta a incerteza no mercado (ainda mais levando em consideração o “racha” entre os diretores do BC.
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Volatilidade no radar
“Como a gente vinha com uma comunicação que indicava o próximo passo, o que tirava a volatilidade, isso agora não existe. Entramos no modo de ajuste fino, em que o BC absorve informações e decide o que fazer”, comentou o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, logo após a decisão do Copom. Segundo ele, é possível pensar em cenários em que a Selic vai parar no atual nível, de 10,50% ao ano; vai cair ainda mais, embora permanecendo em dois dígitos; ou que ainda vai recuar para abaixo de 10%.
Em função disso, enquanto Mercadante espera alta dos juros longos, Serrano aponta que pode haver mais volatilidade no mercado de DIs (Depósitos Interfinanceiros) nesta quinta-feira, “porque podem surgir opiniões muito distintas em relação a esta reunião”.
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“Não consigo dizer exatamente qual será o movimento (da curva) nesta quinta”, acrescentou.
O economista-chefe na Way Investimentos, Alexandre Espirito Santo, também chamou atenção para a divisão entre os dirigentes do BC, o que segundo ele deve ampliar as críticas do governo sobre a autarquia e, em especial, sobre Campos Neto. No Copom, o presidente do BC é o último a votar.
“É provável que o mercado vá mudar para números mais altos (da Selic terminal). O corte de 25 pontos estava mais ou menos incorporado (à curva de juros), mas ainda deve haver um resíduo de ajuste nesta quinta-feira, porque pode ser que o mercado mude (as apostas na Selic terminal) ainda mais para cima”, afirmou Espirito Santo. “Mas o mercado vai repensar um pouco. Vai ser um dia meio tenso, de volatilidade, pelo menos no início”, acrescentou.
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(com Reuters)