Estrategistas da XP falam sobre reforma do IR e reduzem projeção do Ibovespa para 135 mil pontos em 2021

Ruídos políticos causaram um desconto na Bolsa brasileira em relação a seus pares

Ricardo Bomfim

Os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP
Os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP

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SÃO PAULO – Os estrategistas Fernando Ferreira e Jennie Li, da XP, fizeram nesta quinta-feira (2) um painel de expectativas para o Ibovespa em 2021 no qual reduziram a projeção da corretora para o patamar do índice ao final do ano.

De 145 mil pontos, agora espera-se que o principal benchmark acionário da B3 encerre 2021 aos 135 mil pontos. A previsão baseia-se em uma ponderação das expectativas de lucro para os próximos dois anos das empresas que compõem o Ibovespa com taxas de juros de longo prazo, que subiram muito ao longo do ano, mas principalmente em agosto.

“Os juros tanto nominais na curva do CDI, quantos os reais, medidos pela NTN-B [Tesouro IPCA], subiram muito em agosto. Houve contrato que foi de 7,5% ao ano no início de 2021 para 11% ao ano agora”, explica Ferreira.

Para o estrategista-chefe da XP, esse movimento reflete os ruídos fiscais que tomaram conta do noticiário nos últimos meses e que causaram um descolamento entre o desempenho do mercado de ações brasileiro e o de outros países. “O Brasil só está melhor que a Ásia, caindo 2% no ano, enquanto bolsas asiáticas caem 5%”, comenta.

Na opinião de Ferreira, um desses riscos monitorados de perto pelo investidor é justamente a reforma do Imposto de Renda, que foi aprovada ontem na Câmara dos Deputados.

De acordo com Jennie Li, os mercados ficaram preocupados principalmente com a extinção dos Juros Sobre o Capital Próprio (JCP) e com a tributação de dividendos. “O JCP é considerado uma despesa financeira, então diminui o lucro tributável e, consequentemente, o quanto a empresa paga de imposto”, lembrou a estrategista.

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Segundo Jennie, o fim do JCP tem um impacto médio de 5% no resultado agregado das empresas da Bolsa. Contudo, ela lembra que em alguns casos esse efeito é mitigado pela redução média de 8% no Imposto de Renda da Pessoa Jurídica que também foi colocado no texto dessa reforma como compensação.

Jennie explica que as empresas mais afetadas negativamente pelas mudanças são bancos, a própria B3 (B3SA3), seguradoras, varejistas e shoppings. Ferreira lembrou ainda que foram justamente as ações destas companhias que mais se desvalorizaram no pregão desta quarta.

A estrategista da XP ponderou que, com uma alíquota de 15% de imposto sobre a distribuição de dividendos as empresas serão estimuladas a reter mais lucros para investir na própria operação, em vez de distribuir esse capital aos acionistas.

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No entanto, ela destaca que isso não vale igualmente para todas empresas, pois companhias com menor avenida de crescimento como os grandes bancos acabarão sofrendo mais, enquanto aquelas que efetivamente precisam investir mais para se expandir serão marginalmente beneficiadas.

Jennie ainda fez questão de lembrar que o texto da reforma do IR ainda vai ao Senado, de modo que não é possível garantir que esta será a redação final do projeto. “Algumas mudanças ainda podem acontecer, então é cedo para o investidor fazer alterações na sua estratégia. Vale lembrar que no projeto inicial constava a tributação dos dividendos de fundos imobiliários, algo que foi retirado, com efeito muito positivo para este mercado.”

Por outro lado, ela lamenta que essa parte da reforma tributária ainda não ataque o principal problema do sistema tributário brasileiro hoje: a complexidade. “Nosso sistema tributário continua sendo muito complexo”, conclui.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.