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Após uma primeira metade do ano ruim, com resgates de R$ 40 bilhões, o fluxo estrangeiro para a Bolsa brasileira se recuperou em julho e agosto, com um saldo de R$ 14 bilhões nesses dois meses – ainda que longe de reverter o saldo negativo do primeiro semestre.
No entanto, conforme aponta a equipe de estratégia do JPMorgan, os fluxos começaram a sofrer novamente na virada para setembro, com R$ 1,6 bilhão em resgates no acumulado do mês até a sessão do dia 9.
Da perspectiva global, a liquidação nos preços das commodities mantém os estrangeiros longe de mercados cíclicos como o Brasil, ao mesmo tempo em que contribui para a depreciação da moeda (real).
Localmente, a equação fiscal tornou-se complicada novamente, ao mesmo tempo em que os mercados já incorporaram totalmente um ciclo de aperto monetário à frente com as projeções de alta da Selic, o que o JPMorgan vê como negativo para as ações, especialmente considerando que as taxas de juros reais (nominais descontando a inflação) já estão pairando em torno de 7%. Além disso, uma elevação das taxas torna o Brasil um caso atípico, considerando que será o único emergente a subir os juros.
“Pode ser o caso de que taxas mais altas agora sejam necessárias para taxas mais baixas mais tarde, mas os investidores realmente não precisam ‘pular na frente do trem”, apontam Emy Shayo, Cinthya Mizuguchi e Pedro Martins Junior, estrategistas que assinam o relatório.
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Para eles, o que pode ser o lado positivo dessa história é que o crescimento da economia está indo muito bem. “O PIB no 2T [divulgado no início do mês] foi quase 2 vezes maior do que o esperado inicialmente”, ressalta o banco, apontando que agora o JPMorgan espera que o PIB do Brasil fique em 3,2% este ano, o mais alto para a América Latina em 2024. Os dados do 3T continuam indo bem, com as leituras do mercado de serviços e de trabalho mostrando resiliência. Isso deve contribuir para promover um bom crescimento da receita nos resultados das empresas no terceiro trimestre, o que é um fator positivo para a Bolsa.
Fed pela frente
Para o JPMorgan, o Fed pode acabar mascarando o impacto de uma Selic mais alta nas ações. Os estrategistas do banco apontam que o Brasil é o beta (indicador de volatilidade no mercado) mais alto entre os emergentes e deve se beneficiar desproporcionalmente de um cenário de maior flexibilização monetária do Fed, especialmente se isso for acompanhado por um pouso suave nos EUA, que é o cenário base do JPMorgan.
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“Portanto, achamos que o Fed tem uma influência mais poderosa no mercado brasileiro do que o aumento do Copom, especialmente se for pequeno e levar a taxas mais baixas posteriormente”, avalia.
Visão dos estrangeiros para o Brasil, segundo o BBA
O Itaú BBA também destacou a visão que investidores estrangeiros – no caso, dos Estados Unidos e do Canadá – têm para o Brasil em meio ao cenário macroeconômico atual. Os estrategistas do banco estiveram em conversas com gestores nos últimos dias e destacaram a percepção dos “gringos” de que veem o Brasil como melhor que outros mercados emergentes e com destaque para o setor financeiro.
Os investidores se dividem em 5 perfis diferentes, de acordo com preferência de alocação: mercados emergentes, dedicados à América Latina, globais, foco em infraestruturas e hedge funds.
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A principal pergunta presente nas conversas foi: por que o Brasil deve aumentar as taxas de juros enquanto o Federal Reserve (Fed) e outros bancos centrais de países emergentes estão em rota de flexibilização? Para investidores estrangeiros, o cenário externo parece menos compatível com aumentos de taxas. Ainda assim – e reforçando a percepção do JPMorgan – o ciclo de afrouxamento do Fed é visto como positivo para o Brasil. De acordo com a análise, os investidores lá de fora parecem bem mais otimistas que os locais.
Para investidores focados em mercados emergentes, a América Latina tem parecido overweight (peso superior, similar à compra), ainda que apresentem menos entusiasmo que o observado no primeiro semestre de 2024 pelos analistas do BBA. Dentre os países de preferência, o México parece ter pedido a vez como aposta estrutural. A análise observa que os investidores parecem estar reduzindo exposição marginalmente, uma vez que reformas em andamento no país são vistas com cautela.
Setores em destaque
O setor financeiro é, sem dúvida, consenso entre investidores e, segundo o BBA, negocia ligeiramente acima dos pares em emergentes. Outros setores que chamam atenção é o industrial, de infraestrutura, de construtoras de baixa renda e de saúde. No setor industrial, os destaques ficam para os ciclos positivos de WEG (WEGE3) e Embraer (EMBR3).
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Já em infraestrutura, há divisão entre apostas em Sabesp (SBSP3) e Equatorial (EQTL3) mas também em Rumo (RAIL3) e Santos Brasil (STBP3). Dentre as construtoras de baixa renda, os nomes mais citados são Cury (CURY3) e Direcional (DIRR3). Saúde aparece representado por Rede D’Or (RDOR3).
“É interessante notar que os investidores estão mais abertos a ouvir sobre utilities, um setor historicamente underweight (peso inferior) em suas alocações (o desempenho da Sabesp ajudou)”, afirmam os analistas.
Fora do consenso, há algumas apostas como perda de relevância do setor de consumo, mas ainda visão positiva para Mercado Livre (MELI34). Outro ponto abordado na análise é o debate sobre a força do petróleo como commodity em destaque após temores em relação à China desbancarem demanda por empresas de matérias-primas. Nesse contexto, PRIO (PRIO3) aparece no radar de investidores.