“Espero que Trump tenha cometido bazófia eleitoral; seria o melhor cenário para nós”, diz Canuto

Perspectiva de maior protecionismo comercial não é nada positiva para os emergentes, afirmou Otaviano Canuto, diretor brasileiro do Banco Mundial

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O mundo passou por uma grande rotação nos investimentos após a eleição de Donald Trump, com os investidores deixando os emergentes e títulos americanos e adquirindo ações americanas.

Isso porque, durante o discurso de vitória, o presidente eleito americano afirmou que iria implantar um programa de infraestrutura de US$ 1 trilhão em dez anos, além de implementar a desregulação nos negócios. Por fim, ele apontou que implantará um grande corte de impostos, tanto para pessoas físicas quanto para jurídicas.

Para o diretor do Banco Mundial, Otaviano Canuto, essas medidas, em muitos pontos, lembram o “Reaganomics”, medidas adotadas pelo ex-presidente Ronald Reagan cujos resultado de crescimento de renda e produtividade foram melhores do que os registrados em períodos anteriores e posteriores. Contudo, o sucesso desses programas no cenário atual dependerá do ponto de partida de Trump e ainda há dúvidas sobre o impacto das medidas sobre a aceleração econômica e a inflação, afirmou Canuto durante o 11º Seminário Internacional da Acrefi (Siac 2016).  

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Conforme aponta o diretor do Banco Mundial, há uma ironia no quadro atual norte-americano, uma vez que o atual presidente Barack Obama buscou fazer um programa de infraestrutura de US$ 400 bilhões em seis anos que não passou pelo Congresso, algo que deve ser aprovado agora. O programa de infraestrutura é algo que muitos economistas vêm defendendo para tirar os EUA da estagnação secular.

Porém, há problemas ao olhar um horizonte mais longo para a economia americana. “No curto prazo, há espaço para maior endividamento, desde que seja acompanhada pela perspectiva de reforma fiscal para que a dívida não seja explosiva, algo que não vai ocorrer agora. Trump vai chutar o pau da barraca em relação ao quadro estável”, afirmou. 

De acordo com o diretor do Banco Mundial, um outro problema é que o conjunto das políticas do presidente eleito deve levar a um aumento de déficit da balança comercial, o que pode aumentar ainda mais o discurso protecionismo comercial, bandeira defendida pelo republicano durante a campanha. E esta é a grande diferença entre Trump e Reagan: a alusão à política comercial restritiva. Neste sentido, um forte protecionismo comercial será uma má notícia para os emergentes. “Espero que o Trump tenha cometido apenas bazófia eleitoral, e que não estivesse falando a sério durante a campanha. Esse seria o menor cenário para nós”, destacou o diretor do Banco Mundial. 

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Além disso, destaca que, com a perspectiva de aumento da inflação com as políticas de Trump, o Federal Reserve deve acelerar as altas de juros – algo que, contudo, aconteceria de todo modo – aumentando a atratividade da renda fixa dos EUA e atraindo capitais antes alocados em outros países. Isso impacta principalmente os emergentes, algo que já foi observado após a eleição do republicano. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.