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SÃO PAULO – Depois de uma forte turbulência, a recuperação. Assim como os papéis de petroleiras e de bancos, as ações das companhias aéreas tiveram um desempenho expressivo nos últimos meses. Desde setembro, os papéis da Gol (GOLL4) subiram 40%; a Azul (AZUL4) teve um desempenho ainda mais expressivo, com alta de 70%, enquanto o Ibovespa subiu 19%. Esse desempenho, contudo, também trouxe a dúvida sobre se a alta dos papéis é sustentável.
Vale ressaltar, inclusive, que os papéis de aéreas, que dispararam nas últimas semanas com as vacinas, diminuíram o ímpeto recentemente, apesar das elevações de rating por grandes agências de classificação de risco.
Na última semana, mais precisamente na quinta-feira (17), a Moody’s elevou os ratings da Azul e da Gol para ‘B3’ ante ‘Caa1’, bem como as respectivas perspectivas de negativa para estável.
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Para a Gol, a Moody’s destacou o melhor desempenho operacional em comparação com a expectativa da agência no começo da pandemia, além de menor risco de ‘default’ no curto prazo. A agência destacou o reembolso do empréstimo a prazo garantido pela Delta e o refinanciamento bem-sucedido de outros instrumentos de dívida, como facilidades de capital de giro e debêntures do mercado local, que resultaram em um perfil de amortização de dívida mais confortável. “A capacidade da Gol de reduzir custos por meio de acordos firmados com funcionários e locadores que resultaram em uma redução melhor do que o esperado no consumo de caixa também se reflete no upgrade para B3”, afirmou.
Para a Azul, a agência de classificação de risco afirmou que a melhora na nota da dívida da companhia aérea foi motivada pelo tráfego de passageiros no Brasil melhor em relação às estimativas da Moody’s no começo da pandemia de coronavírus.
Conforme apontou a agência, “a capacidade da Azul de reduzir custos durante a pandemia que resultou em consumo de caixa menor do que o esperado e seu acesso comprovado aos mercados financeiros por meio da recente emissão de R$ 1,7 bilhão em debêntures conversíveis também apoia o upgrade”.
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Na visão da Moody’s, a Azul terá sucesso em tirar proveito da recuperação no mercado por meio de sua posição única na maior parte de sua malha, mantendo a liquidez em níveis adequados. A agência também avalia que há um forte potencial para a companhia melhorar substancialmente as principais métricas de crédito para os níveis de 2019 até 2023.
Dias antes, a S&P já havia elevado de CCC- para CCC+ a nota atribuída à companhia aérea Azul, com perspectiva estável.
A agência atribuiu a decisão à perspectiva de menor pressão de liquidez nos próximos 12 a 18 meses sobre as finanças da companhia, também citando a emissão de R$ 1,7 bilhão em debêntures conversíveis em ações, além da renegociação de contratos, incluindo de arrendamento de aeronaves.
“A maior posição de caixa disponível e a recuperação da demanda por viagens domésticas posicionaram melhor a empresa para enfrentar as atuais incertezas quanto à recuperação do setor no curto prazo”, afirmou a S&P. A Azul chegou a ter cerca de 90% dos voos suspensos entre março e abril por conta da pandemia; para dezembro, contudo, a companhia estima que terá cerca de 80% dos voos retomados.
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Por outro lado, apesar do maior otimismo das agências de classificação de risco, há quem veja que a alta pode ser limitada para os ativos. Esse é o caso do Morgan Stanley, que mantém recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para os ADRs (American Depositary Receipts, na prática, recibo de ações negociados na Bolsa de Nova York) de ambas as companhias, baseado na visão que o otimismo com as vacinas já está precificado nos ativos e não implica em uma mudança muito grande nas expectativas de recuperação da demanda para 2021.
Os analistas do banco esperam para a Gol que, após a queda da demanda em 2020 e uma recuperação com alta de 47% em 2021, o tráfego ao final do próximo ano ainda ficará 24% abaixo do registrado em 2019. Para a Azul, a expectativa para o próximo ano é de uma recuperação de 41% na comparação com 2020, o que resultaria em uma demanda ainda 22% abaixo dos níveis de 2019.
Além disso, o Morgan aponta incerteza quanto à demanda por viagens corporativas, que representava, antes da Covid-19, cerca de metade da receita por passageiro. Apesar da recomendação equivalente à neutra, o preço-alvo para ambos os ADRs mostram uma estimativa expressiva de queda em relação ao preço atual dos ativos: de 29% para os ADRs da Gol (preço-alvo de US$ 7,10 ante fechamento de US$ 9,97 dos ativos na NYSE) e de 34% para os papéis da Azul negociados em Nova York (preço-alvo de US$ 14,90 ante fechamento de US$ 22,47).
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Recentemente, mais precisamente no último dia 10 de dezembro, a casa de análise Raymond James reduziu a recomendação para Azul e Gol de outperform (desempenho acima da média do mercado) para marketperform (desempenho em linha com a média do mercado), cerca de três meses após ter elevado a recomendação para ambos os papéis ao destacar a recuperação da demanda doméstica.
Para a analista Savanthi Syth, embora as perspectivas para as ações pareçam promissoras no longo prazo, ela vê um “risco-recompensa mais equilibrado no médio prazo”. Savanthi ressalta que, nos últimos três meses, a recuperação da demanda por viagens no Brasil impulsionou os ganhos para os papéis, com as receitas de passagens de lazer se recuperando aos níveis pré-pandêmicos, enquanto as receitas da classe executiva estão se recuperando dos níveis anteriores à crise, à frente dos EUA e da Europa.
O real também se valorizou em relação ao dólar, o que é particularmente benéfico para as aéreas, porque elas obtêm quase todas as suas receitas em moeda local, enquanto 55% dos custos operacionais são em dólares. Além disso, apesar da alta dos casos de coronavírus e mortes no Brasil, isso não parece impedir a demanda por viagens aéreas, que continua forte rumo à alta temporada de viagens de verão no hemisfério sul.
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Já Daniel McKenzie, da Seaport Global, possui recomendação de compra para ambos os ADRs, destacando a recuperação da capacidade de voos das companhias – da Azul, por exemplo, em novembro, a companhia operou com 85% de sua capacidade, além de ser a única em 70% de suas rotas.
McKenzie apontou gostar das histórias de reestruturação de ambas as companhias aéreas, argumentando que elas devem ter capacidade e força financeira para capturar mais do mercado doméstico do Brasil, em parte porque sua principal competidora, a LatAm Airlines Group, está operando em regime de recuperação judicial.
“Os tempos estão difíceis hoje”, aponta ele, “mas o Brasil continua sendo um mercado em crescimento para as companhias aéreas”.
Azul ou Gol? Analistas se dividem
O quadro abaixo, com a compilação da Refinitiv dos analistas para as ações das companhias, mostra a divisão sobre as aéreas, com metade deles recomendando compra para os ativos de Gol e Azul e metade com recomendação entre neutra e venda.
Empresa | Recomendação de compra | Recomendação neutra | Recomendação de venda | Preço atual (fechamento 18/12) | Preço-alvo médio | Potencial de valorização | Queda no ano* | Desempenho no mês* | Desempenho desde setembro* |
Gol | 5 | 3 | 2 | R$ 25,15 | R$ 24,77 | -1,51% | -32% | +7% | +41% |
Azul | 5 | 4 | 1 | R$ 37,95 | R$ 43,37 | +14,28% | -35% | 0% | +71% |
*Em relação ao fechamento de 18 de dezembro
O Bradesco BBI possui recomendação equivalente à compra para os papéis da Gol, enquanto tem recomendação neutra para os ativos da Azul.
Em 8 de dezembro, logo após a Gol anunciar uma geração líquida de caixa de R$ 3 milhões por dia em outubro, os analistas do banco reforçaram a sua recomendação ao destacarem que, durante a crise do Covid-19, a companhia se beneficiou de uma maior flexibilidade em seu plano de frota do que outras companhias aérea, que a demanda está se recuperando em bom ritmo e a empresa está conseguindo aumentar a capacidade nesse sentido, gerando caixa. Outro ponto positivo foi a retomada dos voos com o Boeing MAX 737 em dezembro, o que deve beneficiar os resultados do quarto trimestre da companhia, considerando o consumo de combustível 15% menor da aeronave. O preço-alvo atual é de R$ 20.
Já para a Azul, logo após o Investor Day que aconteceu na última semana e em que a companhia reforçou a sua expectativa por aumento da lucratividade em 2022, o BBI reforçou a recomendação neutra, destacando que a Azul já abordou o risco de liquidez de caixa com a emissão títulos, além de negociações com locadores, aliviando saídas de caixa de curto prazo. Assim, a Azul está 100% focada na reconstrução de sua rede. “No entanto, as viagens corporativas e a demanda internacional devem continuar a pesar nos resultados consolidados”, apontam. O BBI reduziu a recomendação para as ações da Azul para neutra no final de setembro: os analistas ressaltaram que, para verem um maior potencial de valorização para os ativos (o preço-alvo atual é de R$ 27), a demanda e as passagens aéreas precisariam se recuperar em um ritmo mais acelerado, visto que as renegociações com os locadores não resultaram em redução de capacidade.
Em sentido oposto, em relatório do início do mês, a Ativa Investimentos ressaltou recomendação de compra para os papéis da Azul com preço-alvo de R$ 48,80 e recomendação neutra para Gol, com preço-alvo de R$ 30,15. Para a Gol, apesar da recuperação, os analistas destacaram o atual nível de alavancagem e a volta menos preponderante do nicho corporativo, em que a companhia é líder. Já para a Azul, os analistas destacaram positivamente a estratégia focada em rotas sem sobreposição fora do triângulo Rio de Janeiro-São Paulo-Brasília, a chegada da alta temporada, a adoção de rígido controle de liquidez e de despesas, o que faz com que os analistas acreditem que a companhia possa se beneficiar do processo de retomada fomentada pela vacina e normalização do fluxo de pessoas.
Enquanto isso, apesar da recuperação recente, há quem prefira não se posicionar nos papéis de aéreas. No começo de setembro, quando os papéis das companhias já tinham começado a registrar um forte desempenho, Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, destacou cautela com o setor, formado por ações voláteis. “Podem trazer bons rendimentos para os acionistas no curto prazo, mas as empresas do setor não contam com um histórico positivo no Brasil”, avaliou o analista na ocasião.
A expectativa é de que a volatilidade para os papéis continue, a depender do noticiário sobre vacina e sobre o avanço do coronavírus entre os países, além da retomada de medidas de restrições de mobilidade conforme o número de casos se espalha, o que já vem acontecendo na Europa. Um exemplo disso é o desempenho dos papéis nesta segunda-feira, com forte queda para ambos os ativos (que chegou a ser de 9%, para depois amenizarem a queda) com o temor externo sobre a nova cepa do coronavírus. No sábado (19), o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que a nova variante pode ser até 70% mais transmissível, segundo análise preliminar de cientistas.
Assim, quem decidir investir nas ações de aéreas, também deve se preparar para a forte volatilidade dos ativos a depender do noticiário.
(Com informações da Reuters)
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