Entenda as acusações feitas contra Sam Bankman-Fried, fundador da FTX

As agências dos EUA tratam o fundador da FTX como um criminoso ambicioso e calculista

CoinDesk

Sam Bankman-Fried, CEO da FTX (Jesse Hamilton/CoinDesk)
Sam Bankman-Fried, CEO da FTX (Jesse Hamilton/CoinDesk)

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*Por David Z. Morris

Eu estava prestes a pegar um avião na segunda-feira (12) quando a prisão do fundador da FTX e da Alameda Research, Sam Bankman-Fried, nas Bahamas, tornou-se pública. A criminalidade profunda e múltipla cometida por ele tem sido óbvia há semanas, com mais sinais de uma corrupção perturbadora surgindo quase que diariamente.

Apesar da torrente de revelações bizarras, houve certa preocupação de que a recente cobertura midiática de Bankman-Fried, na qual ele se “vendeu” como inepto em vez de malévolo, conseguisse suavizar a resposta legal e regulatória.

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Algumas vozes equivocadas ou compradas fizeram declarações simpáticas a Bankman-Fried. Isso deixou todos com um pingo de decência e bom senso cerrando os dentes e esperando que os idiotas e patifes não assumissem o controle da narrativa, possivelmente ajudando um dos maiores malfeitores da nossa época a escapar das consequências.

Bem, podemos dar um suspiro de alívio. As acusações apresentadas nos últimos dois dias deixam claro que o governo dos Estados Unidos está tratando Bankman-Fried como o criminoso ambicioso e calculista que ele é, e não apenas como um prodígio da tecnologia que fez algumas apostas ruins.

Uma longa lista de acusações civis e criminais incrivelmente graves veio de três agências dos EUA: a Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliárias do país), a Commodity Futures Trading Commission (CFTC, o regulador do mercado de futuros de commodities) e, mais importante, o Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês).

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As acusações são abrangentes e a acusação é inequívoca – todas as agências afirmam que Sam Bankman-Fried conscientemente e com premeditação significativa cometeu fraude em uma escala comparável apenas aos golpes mais elaborados da história. A FTX será lembrada como um grande escândalo corporativo, assim como o caso da Eron, no início do século XXI, e o Credit Mobilier, nas décadas de 1860-1870.

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Acontece que Sam Bankman-Fried não era um gênio cripto ou das finanças, mas era inequivocamente uma espécie de sábio idiota do crime financeiro. Há uma chance muito boa de que ele nunca mais respire ar livre.

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As acusações

Os três conjuntos principais de acusações são distribuídos de acordo com a competência das três agências. A SEC supervisiona os valores mobiliários e suas acusações se concentram na fraude de Bankman-Fried contra investidores em ações, e não contra clientes. Elas quase certamente resultarão em multas pesadas e banimento do ex-CEO do setor financeiro, provavelmente para o resto da vida.

A agência alega, em parte, que “Bankman-Fried orquestrou uma fraude de anos para ocultar dos investidores da FTX o desvio não revelado dos fundos dos clientes da FTX para a Alameda Research LLC” e que houve “tratamento especial não divulgado concedido à Alameda na plataforma FTX [e] risco não divulgado decorrente da exposição da FTX às participações significativas da Alameda de ativos ilíquidos e supervalorizados, como tokens afiliados à FTX.”

A CFTC basicamente supervisiona a estrutura do mercado, e as acusações da agência se concentram no principal crime de Bankman-Fried: a mistura de fundos dos clientes da FTX e o fundo de hedge Alameda Research. Essas também são acusações civis que levariam principalmente a penalidades monetárias.

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Mas por que fingir? O que realmente nos importa são as acusações criminais, apresentadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos no Distrito Sul de Nova York. Elas são incrivelmente extensas e sérias: fraude eletrônica (quando se usa tecnologia para aplicar golpe), conspiração e lavagem de dinheiro, além de outras cinco acusações.

Os documentos de acusação são supostamente vagos de propósito, para dar aos promotores margem de manobra para montar um caso e alegações específicas à medida que a investigação avança. Em parte por causa desse “capricho”, as estimativas sobre o tempo de prisão que Sam Bankman-Fried pode enfrentar são variadas. Mas um histórico de acusações criminais anteriores parece confirmar as estimativas de que ele poderia, pelo menos em teoria, ficar preso pelo resto da vida.

Ele poderia se safar mais facilmente se fosse oferecido um acordo judicial dos promotores, e ele optasse por aceitar, mas mesmo esse acordo quase certamente envolveria muitos anos de prisão. E apesar de algo nesse sentido ser bastante provável, há dois ventos contrários aqui. Primeiro, Bankman-Fried parece estar em um estado de ilusão autoinduzido; especificamente, ele parece pensar que realmente não fez nada de errado. Isso pode levá-lo a buscar um julgamento com júri em vez de um acordo, o que certamente é o que eu adoraria ver também.

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Mas também não há garantia de que a Justiça oferecerá um acordo judicial. A indignação pública sobre a FTX tem sido tão intensa que o governo Biden poderia pressionar por um processo de alto nível para apaziguar um público furioso.

Como muitos previram, o fato de a FTX estar localizada nas Bahamas, e não nos EUA, parece ter dado pouca proteção para Bankman-Fried. As acusações de fraude criminal do DOJ, por exemplo, são baseadas em um e-mail enviado a um investidor no Distrito Sul de Nova York em 18 de setembro contendo informações materialmente falsas sobre a condição financeira da FTX. Presumivelmente, o e-mail afirmava que a empresa estava prosperando quando, na verdade, já havia sido espremida pelos criminosos responsáveis.

E assim a incrível queda de Sam Bankman-Friend e seu império fraudulento progride para um estágio mais lento e metódico. Haverá mais esqueletos horrendos no armário (estou particularmente curioso para saber mais sobre o que realmente estava acontecendo em todas aquelas organizações sem fins lucrativos).

Mas o caminho geral dos eventos daqui foi definido e não terminará bem para Sam Bankman-Fried. Enquanto você lê isto, ele está em uma prisão infestada de vermes nas Bahamas, aguardando o que espero que seja uma rápida extradição para uma prisão de alta segurança nos Estados Unidos. Ele deve ser adequadamente protegido até que seja julgado ou chegue a um acordo judicial.

Então, boa viagem para o ex-garoto prodígio. Em uma vida definida por grandes apostas, ele fez as apostas erradas repetidas vezes.

*David Z. Morris é colunista chefe da página Insights do CoinDesk.

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