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As emissões de debentures incentivadas totalizaram R$ 111,9 bilhões entre janeiro e outubro, consolidando 2024 com o melhor resultado anual da série histórica. O valor ultrapassa em 65% o montante registrado de janeiro a dezembro de 2023 (R$ 67,8 bilhões), que detinha até então o patamar anual mais alto. Os dados são da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
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Gustavo Montezano, CEO da YvY Capital – empresa com foco em financiamento de projetos de infraestrutura verde – e ex-presidente do BNDES (2019-22) e Lourenço Tigre, CFO da companhia e ex-diretor do banco estatal, falaram sobre o tema no episódio 144 do Outliers, no canal XP. O programa é apresentado por Clara Sodré, analista de fundo da XP, e Guilherme Anversa, portfolio manager XP Advisory. Diante do crescimento das debêntures no mercado de capitais brasileiro, os executivos comentaram o financiamento de infra no país.
Segundo Montezano, a infraestrutura no país passou recentemente do modelo centralizado para descentralizado, que perdurava desde a década de 1990.
Centralizado e descentralizado
“O ciclo de descentralização e diversificação que a infraestrutura vem passando culminou com a explosão por debêntures de infraestrutura, fazendo o papel que os fundos de pensão ao redor do mundo comumente realizam”, explica ele.
“Os grandes financiadores de infraestrutura no mundo são os fundos de pensão, mas no Brasil eles não ocuparam esse espaço. Quem ocupa esse espaço é o mercado de capitais”, complementa. Isso acontece por um problema histórico no setor, segundo Montezano, que nunca teve uma política de atração de fundos de pensão para os projetos de infra.
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Ele conta que nos anos 90, após o Plano Real, ocorreu a estabilização monetária. “Foi a primeira vez no passado recente brasileiro que se conseguiu trazer investimento estrangeiro privado num horizonte mais longo por conta disso”, explica.
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“Esse ciclo, no final dos anos 90, foi muito marcado pelo setor de rodovias, com as primeiras concessões”, ressalta. O segundo segmento que ganhou investimento foi o de telecomunicações, com os leilões de privatização, destaca o ex-presidente do BNDES. O de energia elétrica também teve bastante crescimento. “O Brasil amadureceu muito nesse setor nos últimos 20 anos”, afirma.
Novo ciclo da infraestrutura
“Todo esse modelo que durou do final dos anos 90 até meados da década passada atingiu sua maturidade e cumpriu sua missão, mas ele se exauriu”, diz. O executivo destaca que a partir de 2016 começou um novo ciclo na infraestrutura. “O Estado brasileiro muda sua política de modelo centralizado para o descentralizado, e toda a cadeia da infraestrutura vai sendo reajustada”, avalia.
Montezano afirma que nos últimos 12 anos uma série de leis e regulações foram colocadas em prática. Ele cita o marco legal das concessões, o marco legal do saneamento, a nova lei de recuperação judicial e falência, a nova lei de cabotagem, a reforma do setor elétrico e criação do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI).
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Isso, segundo o CEO da YvY Capital pôs fim ao modelo centralizado, “que tinha bastante barreira de entradas, com grandes e poucos operadores que dominavam o setor e operavam de forma quase oligopolizada”.
As principais barreiras de entrada que se ofereciam naquele momento, de acordo com Montezano, era acesso à informação de engenharia e recursos naturais do projeto de infraestrutura. A segunda barreira de entrada era a dificuldade de se trabalhar próximo do setor público. A terceira e última grande barreira de entrada seria o crédito subsidiado principalmente pelos bancos públicos.
Project finance
“Não havia segurança jurídica robusta que passasse tranquilidade para o investidor que pudesse ficar ali por 30, 20 anos”, conta. Mas o quadro mudou, estabelecendo-se o modelo descentralizado da infraestrutura.
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Com a mudança, foi exigido, por outro lado, projetos de infraestrutura de qualidade. “Infraestrutura é um negócio de escala. Quanto maior o volume de capital com possibilidade de alocar, mas gente atrai. E a recorrência de leilão também é necessária”, destaca.
O financiamento subsidiado facilitou o desenvolvimento da cadeia de infraestrutura. “E o produto que produz essa redução da barreira é o financiamento com focos nos projetos, que o mercado chama de project finance. “O lastro do risco é o projeto e não o aval ou fiança bancária”, explica.
Para ele, empresas estrangeiras podem agora se beneficiar desse novo arcabouço, assim como fundos de investimentos e pequenas empresas de médio e pequeno portes, que têm chances de juntar forças.
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Lourenço Tigre, CFO da YvY Capital, ressalta a mudança de cenário. “Tem um gargalo de infraestrutura tão grande no Brasil que, na hora que se consegue junta projetos bem estruturados e instrumentos adequados, se gera oportunidade e alocação de capital para os mais diversos tipos de bolso”, diz.