Embraer: evento tão esperado foi morno, mas EMBR3 tem outros motivos para disparar

Apesar de volatilidade, ação EMBR3 fechou semana do Farnborough Air Show 2024 no "zero a zero", mas analistas seguem otimistas e destacam próximos passos da fabricante de aviões

Lara Rizério

Logo da Embraer 3/7/2024 REUTERS/Amanda Perobelli/Arquivo
Logo da Embraer 3/7/2024 REUTERS/Amanda Perobelli/Arquivo

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Farnborough Air Show 2024: o evento do setor aéreo que ocorreu entre os dias 22 e 26 de julho foi cercado de expectativas para a Embraer (EMBR3), com analistas atentos aos anúncios durante a feira e, consequentemente, ao desempenho das ações. Cabe ressaltar que, no ano passado, as ações (ADR, ou recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) tinham subido 12% nas três semanas anteriores ao evento (30 de maio a 16 de junho) e caíram 13% durante a feira (19 a 23 de junho), uma vez que os investidores já haviam precificado potenciais anúncios positivos. 

Assim, não seria de se estranhar que um movimento similar ocorresse este ano, o que pareceu ocorrer no início da feira, com as ações caindo 7% no dia 22 de julho. Isso apesar dos anúncios considerados positivos, com os investidores embolsando boa parte da alta conquistada no ano como um todo e com os papéis tendo despontado no Ibovespa como a maior alta de 2024 até então. Na sequência, no último dia 23 (segundo dia do evento), os papéis também tiveram um desempenho “extremo”, mas positivo, com salto de 8,5%. Nos dias seguintes, considerados mais fracos de anúncios do evento, os papéis tiveram variação menos expressiva, com queda de 2,17% no dia 24, baixa de 0,78% no dia 25 e valorização de 2,17% no dia 26, último dia. O saldo final para as ações foi curioso, com o papel EMBR3 voltando aos mesmos R$ 41,52 do fechamento da sessão do dia 19, véspera do evento. Ou seja, apesar de tamanha volatilidade durante a semana do evento, no acumulado da semana o papel não variou.

Mas quais foram as novidades apresentadas durante o evento? No primeiro dia, houve o maior anúncio: o de que a fabricante de aviões firmou parceria com a Holanda e Áustria para a venda de nove aeronaves C-390 Millennium. No total, cinco aeronaves serão destinadas para a Força Aérea Real Holandesa e quatro para a Força Aérea Austríaca.

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Conforme destacou o Bradesco BBI, os analistas buyside estavam esperando apenas 2 pedidos, em média, para esse modelo, sendo que tanto a Holanda quanto a Áustria já selecionaram o cargueiro militar C-390 da empresa, mas esse contrato estava pendente das assinaturas finais necessárias. Para o BBI, contudo, as ações da Embraer acabaram tendo queda na segunda dia 22 porque o mercado parecia estar esperando pedidos para a aviação comercial.

O JPMorgan apontou que o anúncio foi positivo para a Embraer, pois a confirmação das 9 ordens C-390 diminuiria ainda mais os riscos para o segmento de defesa da Embraer e leva à melhoria do seu resultado agregado. Para os analistas do banco americano, a correção ofereceria um novo ponto de entrada para negociações de investidores de longo prazo.

Na sequência, no segundo dia do evento, a companhia anunciou a venda de seis aeronaves modelo A-29 Super Tucano para a Força Aérea do Paraguai, sem detalhar valores. Segundo o JPMorgan, o anúncio também corroborou com o crescimento e a melhoria da rentabilidade nos segmentos de Serviços e Suporte e Defesa e Segurança. Enquanto isso, o BBI destacou o baixo número de pedidos no segmento comercial.

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No terceiro (e último) dia de anúncios, houve o de um pequeno projeto, totalizando US$ 17 milhões. A Atech, empresa da Embraer especialista em engenharia de sistemas e tecnologias de consciência situacional e apoio a tomada de decisão, assinou contratos com o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA), com o foco na modernização de centros de controles e modernização das soluções estratégicas para o gerenciamento do fluxo do espaço aéreo nacional. Para o JPMorgan, o anúncio foi visto como neutro para as ações, dado o tamanho relativamente pequeno dos contratos e o fato de que o foco dos investidores (e do próprio banco) estava principalmente em potenciais pedidos de aeronaves.

Apesar dos anúncios relativamente mornos, a visão para as ações da Embraer segue majoritariamente positiva para o JPMorgan e para o BBI, com recomendações equivalentes à compra e com preços-alvo respectivos de R$ 51 e R$ 52 para os ativos EMBR3, com potencial de valorização de 24% e 27% em relação ao fechamento de segunda-feira (29).

Olhando para frente

Passado o evento do setor aéreo, o mercado monitora de perto os próximos passos da companhia. Em entrevista ao Financial Times, Francisco Gomes Neto, presidente-executivo da Embraer, destacou que a companhia planeja quase dobrar as receitas com as vendas de seus jatos regionais e executivos na próxima década, mas mantém suas opções em aberto sobre o lançamento de uma aeronave maior que desafiaria a Airbus e a Boeing.

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Ele ainda destacou, em fala durante o Farnborough Air Show, que a empresa estava “muito focada em vender os produtos que temos”. “Temos um portfólio de produtos muito moderno e competitivo. Temos o potencial de ser uma empresa de US$ 10 bilhões até o final desta década e com nossos produtos existentes”, com o jornal britânico ressaltando que a companhia encerrou o segundo trimestre com uma carteira de pedidos de US$ 21,1 bilhões, a maior em sete anos.

No fim da semana passada, a Embraer ainda inaugurou um centro de manutenção para motores Pratt & Whitney em Portugal, que espera gerar receitas adicionais de 600 milhões de euros por ano quando estiver operando em plena capacidade.

De acordo com o BTG Pactual, a nova instalação chega em um momento perfeito, dada a oferta restrita de manutenção de motores na indústria global de aviação. “Este segmento tem uma margem entre 5% e 10%, que está acima do nível do segmento de aviação comercial, e o aumento desta unidade deve ajudar na trajetória de expansão de múltiplos da Embraer”, avaliam os analistas do banco.

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No ano passado, a divisão de serviços foi responsável por US$ 1,4 bilhão, representando 27% das receitas da empresa. Considerando que os segmentos de manufatura ainda estão acelerando, a unidade de serviços também contribuiu com a maior parte do Ebit (lucro antes de juros e impostos) da Embraer no ano passado (55% do Ebit de 2023 da Embraer). “De agora em diante, acreditamos que este segmento será um dos principais impulsionadores para revisões positivas de lucros para a Embraer, já que os investidores continuam a ignorar seu potencial”, avalia o banco, que tem recomendação de compra para os ativos, com preço-alvo de R$ 42.

As ações, por sinal, apesar do movimento tímido durante o Farnborough Air Show, registram ganhos de cerca de 4% na reta final do pregão desta terça, acumulando ganhos de mais de 90% em 2024.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.