Embraer: falas do governo e carteira de pedidos; o que impulsionou EMBR3 nesta sexta?

Embraer divulgou seus dados operacionais do segundo trimestre de 2024 (2T24) na véspera, enquanto o vice-presidente da República destacou que a companhia anunciará uma grande exportação de aviões, mas sem dar detalhes sobre o tema

Felipe Moreira

Por dentro da aeronave Phenom 300E da Embraer. Foto: Divulgação/Embraer
Por dentro da aeronave Phenom 300E da Embraer. Foto: Divulgação/Embraer

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Mais notícias positivas para a Embraer (EMBR3), cuja ação é de longe a maior alta do Ibovespa, com valorização de cerca de 90% no ano. Nesta sexta-feira (19), as ações EMBR3 fecharam com ganhos de 1,14%, a R$ 41,52, fechando em alta, ainda que longe das máximas após chegarem a saltar 5,51% (R$ 43,31) mais cedo.

O ápice das ações na sessão aconteceu no fim da manhã desta sexta, após o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, dizer que a Embraer vai anunciar uma grande exportação de aviões, acrescentando que a empresa vive seu melhor momento.

O comentário de Alckmin, feito durante anúncio de investimentos em obras de rodovias ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São José dos Campos, ocorreu no mesmo dia em que Lula terá reunião com o presidente-executivo da Embraer, Francisco Gomes Neto, e participará de cerimônia de anúncio de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às exportações da empresa. Alckmin não deu detalhes sobre o anúncio da Embraer.

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Já o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que o banco de fomento vai aprovar em 1º de agosto uma nova leva de recursos para financiar exportações de aviões da Embraer. Mercadante afirmou, em discurso durante anúncio de financiamento do BNDES à exportação de 32 jatos da Embraer à American Airlines, que os investidores podem confiar na valorização da ação da empresa porque a Embraer “vai entregar muitos aviões”.

No mesmo evento, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, disse que o governo está trabalhando para “mais que dobrar” a participação de aeronaves da Embraer no mercado brasileiro. Segundo ele, não faz sentido a participação da Embraer no mercado do país ser de apenas 12%.

De mais concreto, a fabricante de jatos divulgou na última quinta-feira (18) seus dados operacionais do segundo trimestre de 2024 (2T24), com destaque para o crescimento da carteira de pedidos firmes (backlog), que atingiu maior patamar em sete anos.

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O Itaú BBA avalia que o backlog de US$ 21,1 bilhões indica que a tendência operacional sólida permanece, com demanda saudável em todos os setores.

Por outro lado, o BBA comenta que as entregas na divisões comercial e executiva ficaram abaixo das suas expectativas. Para atingir o limite inferior das projeções para o ano, a empresa deve ver as entregas comerciais e executivas acelerando em 15% e 5% no segundo semestre de 2024, respectivamente.

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O Itaú BBA reitera recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra) e preço-alvo de US$ 36 por ADR (recibo de ações negociado na Bolsa de Nova York) ERJ da Embraer.

O Bradesco BBI, por sua vez, avalia que a Embraer reportou um sólido número de entregas nas divisões comercial e executiva de 46 aeronaves no 2T24, duas unidades abaixo do consenso, e cinco acima da sua estimativa.

Analistas do BBI explicam que essas entregas representaram 22% das estregas estimadas para 2024, o que está em linha com a média histórica dos últimos 5 anos, confirmando que a Embraer está no caminho para atingir seu guidance para o ano de 72 a 80 aeronaves comerciais e 125 a 135 jatos comerciais.

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No segmento de defesa, o BBI destaca que a Embraer entregou uma unidade do C-390 Millennium para a Força Aérea Portuguesa (FAP), e deve continuar expandindo sua base de clientes. O banco destaca que alguns anúncios como Holanda, Áustria e República Tcheca que selecionaram o C-390, mas estes pedidos não foram, ainda, incluídos no backlog. Na avaliação do BBI, isto poderia acrescentar outros cerca de US$ 1,1 bilhão para o backlog do 2T24 que ficou em US$ 21,1 bilhões.


Segundo o BBI, a companhia tem a oportunidade de anunciar adicionalmente pedidos firmes durante a Farnborough Airshow na próxima semana. Na opinião do BBI, a fabricante poderia anunciar cerca de 20 jatos comerciais, enquanto analistas apontam para cerca de 12 unidades, em média.


Por fim, o BBI mantém recomendação de compra e preço-alvo de R$ 52,00 para o final de 2024.

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O JPMorgan comenta que as entregas ficaram aproximadamente em linha com as expectativas, com 47 aeronaves (19 comerciais / 27 executivas / 1 C-390).

Já a carteira de pedidos permaneceu em relação ao trimestre anterior em US$ 21,1 bilhões, ainda no nível mais alto desde 2016.

O JPMorgan projeta que o total de entregas e sua composição devem resultar em uma receita de US$ 1,375 bilhão no 2T24, 3% abaixo dos US$ 1,419 bilhão previstos pelo banco, mas em linha com o consenso de US$ 1,374 bilhão.

A Embraer divulgará os resultados do 2T24 em 8 de agosto antes da abertura do mercado, com a conferência acontecendo no mesmo dia. O banco vê a Embraer negociando a 6,6 vezes Valor da Firma (EV)/Ebitda em 2025 contra 18 vezes da Boeing, 9,0x AAR Corp. e 10,8 vezes da Bombardier.

Já o Santander classifica os números como majoritariamente neutros, dado que os melhores resultados nas entregas de aviação comercial acabaram sendo ofuscados pelas entregas mornas de jatos executivos.

Além disso, o Santander avalia que os números estáveis da carteira de pedidos da empresa eram em grande parte esperados. Em Defesa e Segurança, o banco continua otimista em relação ao principal artigo de defesa da empresa — o cargueiro C-390 Millennium — e destaca que a Embraer entregou o segundo C-390 encomendado pela Força Aérea Portuguesa (de um total de cinco jatos encomendados).

O Santander reitera classificação equivalente à compra e preço-alvo de US$ 37 por ADR.

O relatório de entregas vem dias antes da feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra, que acontecerá entre 22 e 26 de julho. Os bancos têm visões diferentes sobre o possível impacto do evento nas ações, dado o potencial anúncio de novos pedidos nos segmentos comercial e de defesa, mas também pelo fato dos ativos já terem precificado possíveis pedidos.

Nesta sexta, o presidente-executivo da Embraer, Francisco Gomes Neto, informou que espera trazer da feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra, novidades relacionadas à sua aeronave C-390, ao eVTOL, da subsidiária Eve, aos jatos E2 e também à sua área de serviços. O executivo acrescentou que vê oportunidade única de estimular a aviação regional com a regulamentação da reforma tributária.

(com Reuters)