Em 2022, criptos foram sinônimo de stablecoins para brasileiros

Números preliminares da Receita Federal mostram ampla dominância das criptos indexados ao dólar frente a demais ativos digitais no Brasil

Paulo Barros

(Pixabay)
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Em ano marcado por volatilidade no mercado de câmbio por conta do período eleitoral, brasileiros buscaram se dolarizar utilizando criptomoedas indexadas à moeda americana – as chamadas stablecoins.

Segundo dados da Receita Federal, as stablecoins de dólar, ou dólares digitais, responderam por mais de R$ 100 bilhões das declarações de criptoativos realizadas por brasileiros em 2022, um crescimento de 135% em relação ao ano anterior. Os números ainda não levam em conta a apuração de dezembro, que ainda não foi divulgada pela Receita – o aumento, portanto, pode ser ainda maior.

Ainda assim, dificilmente as stablecoins deixarão de se firmar como as criptos preferidas dos brasileiros. Segundo dados de janeiro a novembro de 2022, os valores declarados em criptoativos de dólar foram mais do que o quíntuplo do que em Bitcoin (BTC), que respondeu por R$ 19,2 bilhões no mesmo período.

Com isso, as stablecoins, que já haviam superado o BTC em 2021 (R$ 74,6 bilhões contra R$ 65 bilhões), aumentaram ainda mais a distância no ano seguinte.

A Receita Federal obriga, desde 2019, que investidores declarem operações com criptoativos que ultrapassarem R$ 35 mil em lucros mensais. No ano passado, o órgão esclareceu que é necessário também incluir na conta todas as permutas entre ativos, como as conversões entre Bitcoin e stablecoins.

Os valores reportados servem como referência para a cobrança de imposto sobre ganhos de capitais e, por isso, não necessariamente refletem todas as movimentações feitas pelos investidores. Além de não incluírem operações menores que R$ 35 mil por mês, as transações feitas em plataformas estrangeiras, que não necessariamente cumprem com a legislação local, costumam ficar de fora.

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Uma das razões para o crescimento das stablecoins de dólar entre brasileiros é a procura pela exposição mais fácil e barata à moeda americana. Além disso, investidores estariam sendo atraídos pela possibilidade de obter remuneração sobre esse dinheiro convertido.

Isso porque algumas plataformas de criptomoedas já oferecem juros sobre depósitos em dólar digital, mesmo antes de fintechs estruturarem contas em dólar após a entrada em vigor do Marco Cambial. Segundo a Bitso, uma das empresas que oferecem esse tipo de serviço, o volume de transações com stablecoins na sua plataforma no Brasil cresceu 85% em 2022, comparado ao ano anterior. A companhia não revela os valores exatos.

Para a exchange, que tem sede no México, o movimento é sintoma de uma busca crescente entre investidores por alternativas de proteção contra inflação e desvalorização da moeda. Segundo um estudo da casa de análise Chainalysis, quase um terço do volume de transações cripto no Brasil já vem da venda de stablecoins.

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“Períodos de variações fiscais e econômicas acabam levando as pessoas a buscar ativos mais estáveis. As stablecoins são hoje um dos criptoativos mais usados na nossa plataforma e têm ajudado as pessoas e empresas brasileiras a se proteger contra a desvalorização do real, a obter rendimentos e construir seu patrimônio em dólar digital, viabilizando novos negócios e oportunidades”, comenta Thales Freitas, CEO da Bitso Brasil.

De olho no filão das stablecoins, a Bitso também disponibilizou para negociação recentemente a Euro Coin, uma criptomoeda cujo preço acompanha a cotação do euro, criada pelo consórcio Centre, formado por Circle e Coinbase, duas empresas reguladas nos Estados Unidos.

As stablecoins oferecidas aos brasileiros não são garantidas pelas plataformas de negociação, de modo que o ativo carrega o risco das empresas emissoras do ativo – é preciso, portanto, conhecer as companhias por trás de cada moeda digital. Em geral, elas têm o compromisso de manter reservas equivalentes ou superiores ao valor das criptos em circulação – a cada token de dólar no mercado, em tese, há um dólar ou título dolarizado depositado no banco.

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As principais stablecoins do mercado são a USDC, também de Circle e Coinbase; e a USDT, emitida pela Bitfinex, exchange que tem sede nas Ilhas Virgens Britânicas. Também regulada nos EUA, a Paxos, empresa de infraestrutura que oferece o serviço de exchange white label para Nubank e Mercado Livre (do qual recebeu investimento há um ano), está envolvida em duas stablecoins: a USDP e a BUSD, apoiada pela Binance. Já a DAI, que tem menor penetração no Brasil, é mantida pela organização descentralizada MakerDAO.

Paulo Barros

Jornalista pela Universidade da Amazônia, com especialização em Comunicação Digital pela ECA-USP. Tem trabalhos publicados em veículos brasileiros, como CNN Brasil, e internacionais, como CoinDesk. No InfoMoney, é editor com foco em investimentos e criptomoedas