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Na noite da véspera, uma notícia surpreendeu os investidores em meio à intensa temporada de resultados.
Wilson Ferreira Jr. inesperadamente renunciou ao cargo de CEO da Eletrobras (ELET3;ELET6), fazendo com que analistas passassem a projetar uma reação negativa do mercado na sessão desta terça-feira (15).
A reação se efetivou, ainda que sem uma queda muito dramática dos ativos: às 10h25 (horário de Brasília) desta terça (15), os papéis ELET3 caíram 3,43%, a R$ 35,15, enquanto ELET6 teve baixa de 3,61%, a R$ 39,50.
“Esperamos uma reação muito negativa no próximo pregão, pois Ferreira foi peça-chave e figura icônica da reviravolta da Eletrobras”, apontaram os analistas do JPMorgan em relatório antes da abertura do mercado. Os analistas do banco ainda destacaram que a falta de detalhes no comunicado sobre a renúncia deixa espaço para especulações sobre o motivo da saída do CEO.
O Diretor Presidente será substituído pelo Presidente do Conselho, Ivan Monteiro, que por sua vez foi substituído por Vicente Falconi Gomes.
“Wilson Ferreira foi uma figura chave na reviravolta da Eletrobras tanto como estatal entre 2016-2021 quanto como empresa privada desde o ano passado. O CEO deixa para trás um atraente pacote de remuneração aprovado no ano passado com um horizonte de cinco anos. O motivo da saída não consta no Fato Relevante, mas o Brazil Journal publicou que o CEO tinha um relacionamento difícil com o Conselho de Administração”, aponta o JP.
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Na visão dos analistas do banco, a notícia deixa muito espaço para especulação e é um golpe para o case de investimento da Eletrobras, pois ele não é apenas considerado o melhor executivo do setor elétrico brasileiro, mas também o idealizador e líder do complexo caso de recuperação da Eletrobras.
“Acreditamos que os investidores vão se perguntar se sua saída também pode ter sido devido em parte à pressão do governo federal (que estava tentando reestatizar a Eletrobras), desenvolvimentos negativos com a usina nuclear de Angra 3, uma possível decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a inconstitucionalidade de fundamentos da privatização, entre outros, já que esses pontos têm sido muito escrutinados pelo mercado. Acreditamos que sua saída se deve, sim, a motivos pessoais, mas não podemos descartar outras possibilidades”, avalia o banco.
Também para o Itaú BBA, o anúncio foi surpreendente principalmente depois do recente Investor Day da elétrica, durante o qual Ferreira apresentou a estratégia da empresa e a nova equipe de vice-presidentes por ele contratada.
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“Alguns investidores com quem falamos acreditam que a renúncia de Ferreira pode ser relacionada à pressão política do governo federal. O governo federal arquivou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) há alguns meses, contestando a privatização da Eletrobras e tentando revogar o limite de 10% do direito de voto. O Supremo Tribunal vai analisar cinco ações diretas contestando a privatização”, aponta o BBA.
Além disso, houve um fluxo de notícias sobre uma possível negociação entre a Eletrobras e o governo federal para dirimir essa disputa. Alguns artigos apontaram a possibilidade de o governo federal indicar alguns membros para diretoria da Eletrobras, o que os analistas do banco acham muito improvável.
A outra alternativa, que parece mais viável, seria antecipar os pagamentos da CDE para reduzir as tarifas de energia no próximos anos.
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“Esperamos uma reação negativa do mercado ao anúncio inesperado. Contudo, embora acreditemos que a liderança de Ferreira fará falta, a Eletrobras agora tem um estratégia clara para fazer o que precisa ser feito para criar valor nos próximos anos e um boa equipe de gestão para implementá-la”, avaliou o banco também em relatório antes da abertura.
Na mesma linha, o JPMorgan apontou que, se nada mais preocupante for revelado, “comprará [a a ação] na baixa”.
“Espera-se que ELET3 e ELET6 caiam, à medida que os investidores precificam a saída de Wilson Ferreira como CEO e maior incerteza com a empresa. Reconhecemos que isso tem um impacto negativo no case de investimento, mas também sinalizamos que o plano de recuperação já está em andamento (foi anunciado em julho), a empresa já está reestruturada e os principais fatores de avaliação não estão sob o controle da empresa , como preços de energia, riscos políticos e taxas de juros. Supondo que nada mais negativo apareça e que o novo CEO mantenha o plano, acreditamos que a Eletrobras deve recuperar terreno após a correção pós-anúncio”, avaliou o JP.